Queda da Selic deve impulsionar investimentos em renda variável

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A taxa básica de juros do País, a Selic, está em tendência de queda desde 2023, e a projeção é que ela continue caindo neste ano. Com a expectativa de redução dos juros, a renda variável pode começar a ganhar espaço no segmento de investimentos.

De acordo com analistas do mercado econômico, a migração das aplicações em renda fixa para a variável já começam a ocorrer em diversos perfis de investidores.

Conforme o relatório econômico Boletim Focus, a Selic, que está em 11,75%, deve fechar 2024 em 9% ao ano. Com isso, há o apontamento para uma diversificação na carteira de investimentos.

O mestre em Economia Lucas Mikael afirma que a perspectiva é positiva para os investimentos neste ano, impulsionada por fatores como a inflação controlada no Brasil e em grandes economias e pela redução nas taxas de juros globalmente.

“A renda variável, beneficiada por essa conjuntura, demonstra sinais positivos, refletidos nas reações dos mercados globais”, opina.

Assessor de investimento e sócio na Alta Vista Investimentos, Ronie Carvalho salienta que os ativos de renda fixa – tanto os de emissão bancária quanto os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e as Letras de Crédito Imobiliário/do Agronegócio (LCIs e LCAs), estão experimentando desde o último trimestre do ano passado uma redução nos rendimentos.

“Com a redução da taxa de juros, esse cenário muda um pouco, pois a meta da Selic estabelece o custo do dinheiro, também para a concessão de empréstimos, para financiar empresas e tudo mais. Com a redução de 2% nas últimas reuniões do Copom [Comitê de Política Monetária], percebe-se que boa parte daqueles investidores que estavam bastante satisfeitos com os seus investimentos não conseguem mais encontrar ativos pagando 12% ao ano ou mais do que isso, como a gente viu em um passado bem recente”, relata.

Carvalho ressalta que até 2023 era comum clientes com perfil conservador, ou seja, aqueles que tinham seus investimentos concentrados nesses ativos de emissão bancária, os quais normalmente têm uma garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), com uma rentabilidade igual ou superior a 1% ao mês. Contudo, para ele, esse é um ponto que deve sofrer mudanças neste ano.

Mikael corrobora e ainda afirma que a renda variável se destaca como uma modalidade de investimento promissora para este ano, oferecendo diversas oportunidades de bons resultados.

“Por meio de ações, fundos de ações, ETFs [Exchange-Traded Funds], BDRs [Brazilian
Depositary Receipts], fundos imobiliários e mercado futuro, os investidores têm uma gama de opções para explorar potenciais ganhos”, diz.

MIGRAÇÃO

Para Carvalho, já é possível observar uma migração de alguns ativos de renda fixa
ou fundos multimercados, uma vez que projetos que estavam engavetados começam a se tornar viáveis, por conta de o custo do dinheiro se tornar mais baixo.

Dessa forma, ele pontua que investir em negócios com um risco maior acaba fazendo mais sentido.

“As empresas aumentam cada vez mais com a expectativa de redução da taxa de juros e tendem a investir mais. Então, esse é um processo que deve acontecer, e aí a estratégia do investidor pode se deslocar bastante para os ativos de renda variável”, aposta o assessor de investimento.

Outro ponto evidenciado como indicativo de mudança nos investimentos foi o fluxo da Bolsa de Valores, que ficou próximo de US$ 40 bilhões no ano passado. Isso, segundo Carvalho, surpreendeu positivamente o mercado.

“O dinheiro do investidor institucional saiu dos ativos de risco. Então, é possível que a gente observe durante esse ano a queda dos ativos de renda fixa, com menor risco, com taxas de juros acima de 1% ao mês, pois será algo muito difícil. É possível que o investidor volte a buscar por ativos que tenham um pouco mais de risco para também ter um rendimento um pouco maior”,
observa.

Na classe de renda variável, o economista e especialista em investimento Wagner Luis Bertoldo destaca como aconselhável para este ano os Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs), os quais são uma comunhão de recursos destinados à aplicação em empreendimentos imobiliários.

“Esse tipo de investimento se justifica pela expectativa de queda da taxa básica de juros, que historicamente apresenta uma relação inversa com o índice Ifix [Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários], trazendo assim ganhos para o investidor”, analisa.

Outro ponto evidenciado por Bertoldo é que os fundos pagam dividendos mensais, alguns com histórico de pagamento superior a 1% ao mês, o que pelo atual patamar da taxa Selic é bem atrativo.

“Por serem ativos de renda variável, eles têm volatilidade relativamente maior que os produtos de emissão bancária ou crédito privado, por exemplo. Por isso, são mais indicados para investidores mais arrojados”, assegura.

RENDA FIXA

Como substituição ao já conhecido CDB, que cobra Imposto de Renda (IR) conforme o prazo de aplicação, e à tradicional poupança, que rende 0,50% mais taxa referencial (TR) ao mês, Bertoldo indica as letras de crédito.

“Diferentemente dos CDBs, as LCIs e as LCAs são isentas de IR para investidores pessoa física, contam com a garantia do fundo garantidor até o limite de R$ 250 mil por CPF e por instituição – podendo ter sua remuneração indexada à variação da taxa oficial de inflação mais uma taxa fixa – ou podem ser remuneradas a taxas pré-fixadas, além de contarem com diversos prazos de 90 até 540 dias”, analisa o economista.

Para Mikael, a perspectiva de taxas de juros ainda relativamente altas mantém a renda fixa como uma opção atraente, oferecendo ativos com boa remuneração.

“Essa dualidade entre renda variável e fixa pode proporcionar aos investidores uma gama de oportunidades e estratégias para diversificação de portfólio, equilibrando riscos e retornos”, avalia.

O mestre em Economia pontua ainda que a evidência da modalidade variável não anula a outra.

“Paralelamente, a renda fixa e os fundos dessa categoria continuam a ser atrativos. A perspectiva de juros ainda em níveis significativos mantém a renda fixa como uma opção interessante para aqueles que buscam uma abordagem mais conservadora, proporcionando estabilidade e remuneração atrativa”, encerra o economista.

 

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