Prioridade da Petrobras, retomada da fábrica UFN3 pode ser anunciada por Lula na próxima semana

A fábrica de fertilizantes da Petrobras em Três Lagoas, denominada UFN3 pela estatal, foi elencada como prioridade pela empresa, e pode ter sua retomada oficializada neste mês. Há indícios que na próxima semana, a estrutura cujas obras foram paralisadas em 2015, tenha a retomada dos trabalhos confirmados. O investimento – não há números fechados – será bilionário.

Os sinais foram dados desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse na presidência da República, nomeou o ex-senador e empresário do setor de óleo e gás Jean Paul Prates para a presidência da estatal, e mudou a política da empresa.

Em janeiro, o processo de venda da estrutura da UFN3 foi suspenso pela Petrobras, que não teve sucesso em vender a unidade desde que se propôs a isso, em 2017.

Em junho, a estatal foi além, e informou ao mercado que retomaria sua estratégia de voltar ao setor de produção de fertilizantes.

O próximo dia 11 é mesmo dia em que o presidente Lula fará o anúncio do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O presidente da República estará no Rio de Janeiro (RJ), cidade que abriga, coincidentemente, a sede da Petrobras.

Para o próximo fim de semana, vários políticos e gestores, estaduais e federais, reservaram espaço em suas agendas para este suposto anúncio de investimento bilionário em Mato Grosso do Sul.

Fertilizantes

Sobre a retomada do setor de fertilizantes da Petrobras, os estudos para a reabertura da fábrica paranaense, estão em fase final, informou o diretor de Processos Industriais e Produtos da companhia, William França. A unidade foi fechada em 2020, sob protestos de sindicatos, com o argumento de que só dava prejuízo.

A unidade tem capacidade para produzir 2.000 toneladas de ureia por dia e também produz Arla 32, um agente que reduz emissões em veículos a diesel.

“É um passo muito importante porque representa a reentrada da Petrobras na fabricação de fertilizantes, que é uma diretriz nacional, e não só da Petrobras, após a invasão da Ucrânia pela Rússia”, afirmou Prates, em entrevista a jornalistas para detalhar o balanço do segundo trimestre.

Outro estudo no segmento contempla a retomada das obras da fábrica de fertilizantes de Três Lagoas (MS), lançada no governo Dilma Rousseff e paralisadas desde 2015 com 80,95% do projeto concluído. A Petrobras chegou a negociar a unidade com a russa Acron, mas as conversas foram suspensas em 2022.

França diz que estudos também indicam viabilidade na retomada das obras, que levariam a uma capacidade de produção anual de 1,2 milhão de toneladas de ureia e 70 mil de toneladas de amônia usando como matéria-prima gás natural transportado pelo Gasoduto Bolívia-Brasil.

No mês passado, foi criado um Grupo de Trabalho (GT), que terá um prazo de 90 dias para apresentar um cronograma para o retorno da Petrobras ao setor.

Dentre as prioridades da estatal estão duas: a reativação da Fábrica de Fertilizantes do Paraná (Fafen-PR), em Araucária, paralisada desde a década passada, e a conclusão da UFN3 em Três Lagoas, que foi paralisada com 80,95% dos trabalhos concluídos.

Na terça-feira (1), em São Paulo (SP), o governador Eduardo Riedel (PSDB) informou à imprensa que no próximo dia 11 deste mês mais um investimento bilionário de uma grande empresa será anunciado para Mato Grosso do Sul, e que neste anúncio estariam presentes ministros de Estado, como a ministra da Planejamento, Simone Tebet, que é de Três Lagoas, e até mesmo outros ministros da gestão petista.

O consumo diário de gás natural, quando a fábrica estiver em plena operação será de 2,2 milhões de m³ por dia.

A UFN3, que também é conhecida por outro nome: Fafen-MS, também será capaz de produzir gás carbônico, produto que é usado como matéria-prima de vários segmentos da indústria, de equipamentos médicos a refrigerantes.

Bahia

Outras duas unidades antigas da Petrobras, na Bahia e em Sergipe, foram arrendadas para a Unigel, com quem a estatal negocia parceria que incluiria a produção de hidrogênio verde. “Diante da nova disponibilidade para analisar a questão dos fertilizantes, estamos negociando para juntar esforços com eles”, afirmou França.

O fornecimento de fertilizantes para o agronegócio se tornou crítico após o início da guerra na Ucrânia. O Brasil importa cerca de 85% de sua demanda de fertilizantes e cerca de um quarto desse total vinha da Rússia.

O programa de ampliação da produção de fertilizantes do governo Lula previa outra unidade da Petrobras, em Uberaba (MG), a UFN5, mas as obras também foram paralisadas após o início da Operação Lava Jato. Depois, a estatal decidiu sair do segmento.

Lava Jato

A UFN3 também teve suas obras paralisadas no auge da Operação Lava Jato. A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi uma iniciativa de um consórcio liderado pela Petrobras, que era composto pela estatal de petróleo chinesa Sinopec e também pela Galvão Construtora.

A fábrica de fertilizantes de Três Lagoas foi projetada para ser a maior do segmento na América do Sul, e que poderá ser capaz de suprir quase 20% da demanda interna do produto, que é majoritariamente importado de países em conflito, como Rússia e Belarus, mas desde que a construtora Galvão e diretores da Petrobras foram citados na operação comandada pelo então juiz federal e atual senador pelo Paraná, Ségio Moro (União Brasil), a continuidade dos investimentos foi se tornando inviável.

Tentativa de venda

Depois da Operação Lava Jato, a Petrobras, em seu programa de reestruturação, deu início a uma estratégia de venda de ativos e de parar de investir em qualquer atividade que não fosse a extração de petróleo bruto.

A produção de fertilizantes foi incluída neste programa. A estatal, de lá para cá, tentou vender a UFN3 por três vezes, mas não teve êxito em nenhuma delas, dada a complexidade e a dimensão da operação.

Chegou mais perto em 2019, quando a Acron, com fortes ligações com o governo russo, compraria a unidade em consórcio com a estatal boliviana YPFB. A destituição de Evo Morales, porém, fez com que os russos mudassem de planos.

Mais tarde, houve uma nova investida com a Acron, sem êxito, sobretudo depois de autoridades brasileiras exporem a intenção da Petrobras: a de tentar rebaixar a unidade de processadora e indústria de nitrogenados para uma mera misturadora.

No ano passado, depois de o fornecimento de fertilizantes para o mercado brasileiro ficar ameaçado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a paralisação das unidades produtoras no Brasil e a dependência local ficaram expostas.

Foi preciso um esforço diplomático da ex-ministra da Agricultura e senadora eleita Tereza Cristina (PP-MS) para garantir o fornecimento pela Rússia. Ainda assim, os preços desses produtos essenciais para a produção agrícola dispararam no mercado internacional no ano passado.

Neste ano, os fertilizantes já tiveram uma queda, mas o entendimento no núcleo do governo federal, é que o setor de fertilizantes é estratégico para o Brasil, que não pode ficar a mercê da flutuação dos preços em função da instabilidade das regiões produtoras.

Em 2018, quando uma due dilligence (vistoria para compra) foi realizada na UFN3, foi constatado que a unidade precisaria de pelo menos US$ 1 bilhão para ser concluída. Em reais, foram aplicados mais de R$ 3 bilhões em sua construção. Atualmente, não há uma avaliação do investimento necessário para retomar a obra.

 

(Com Folhapress)

Correiodoestado.com.br

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