Preço do petróleo despenca: veja perguntas e respostas

Os mercados mundiais viveram um dia de grande tensão nesta segunda-feira (9), resultado da queda brusca nos preços do petróleo. A causa da turbulência neste dia de tensão generalizada nos mercados globais foi uma guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita, dois dos maiores produtores de petróleo do mundo.

O barril do petróleo Brent despencou de 24,10%, a US$ 34,6. Já o barril do petróleo WTI registrou baixa de 24,6%, a US$ 31,13. O tombo arrastou as bolsas de valores do mundo todo e fez o dólar disparar, fechando a R$ 4,72.

Na sexta-feira (6), o preço internacional da commodity já havia caído 10%, um recorde negativo em um período de mais de um ano.

1. Por que os preços do petróleo estão despencando?

Os preços do petróleo já estavam em baixa, na esteira do avanço da epidemia de coronavírus, que desacelerou a economia global e afetou a demanda por energia.

Para tentar conter essa queda, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) sugeriu, na sexta-feira (6), diminuir a produção, estabilizando os preços da commodity. Mas a Arábia Saudita, maior exportador de petróleo do mundo, condicionou o corte à colaboração da Rússia (que não faz parte da Opep, mas é – ou ao menos era – aliada do grupo).

A Rússia, por sua vez, foi contra a medida, o que fez a Arábia Saudita reagir neste domingo (9), ao anunciar uma redução no preço de venda e um aumento na produção a partir de abril. Com o anúncio, os preços desabaram.

“Não é a primeira em vez que isso acontece no mercado de óleo, que é muito cíclico, muito sensível a esses eventos globais, como guerra, pestes, e o coronavírus. Tudo que afeta profundamente a população e as economias mundiais – o petróleo reage muito rápido, tanto para cima quanto para baixo. E desta vez vez foi a queda”, afirmou Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

2. Por que a Arábia Saudita decidiu reduzir a produção?

Foi uma resposta à decisão da Rússia.

“Para se proteger da queda, o principais produtores tentaram um acordo para reduzir a produção. Aí, com a redução da produção, o preço aumentaria um pouco e interromperia a trajetória de queda. Mas não houve entendimento entre Rússia e Arábia Saudita, que são dois gigantes produtores”, disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

3. Até onde pode ir essa queda de preços?

Ninguém sabe. Depende do estágio da epidemia de coronavírus e da retomada da economia mundial. Ou ainda de um acordo entre os produtores.

“Agora eles estão brigando entre si, mas amanhã eles podem sentar na mesa e conversar. Esse preço baixo não ajuda ninguém, todo mundo perde. Perde a Arábia Saudita, perde a Rússia, perdem os Estados Unidos, perde o Brasil”, afirmou Pires.

4. O que acontece com os preços da gasolina e do diesel no Brasil?

A tendência é que o preço da gasolina caia para o consumidor, segundo dois especialistas consultados pelo G1, Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, e David Zylbersztajn, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Eles não citam as datas precisas em que essa redução ocorreria.

“Acho que, a nível de Brasil, a Petrobras, provavelmente, vai seguir o que tem feito nos últimos eventos. Acho que a Petrobras vai esperar uma semana, ou quatro, cinco dias, para ver como é que fica esse preço”, disse Pires.

“Se ele ficar na casa dos US$ 30, ela vai reduzir o preço da gasolina e do diesel. Se a coisa voltar à normalidade ou reduzir um pouco, a redução vai ser menor. Acho que, primeiro, a Petrobras vai aguardar uma esfriada do mercado, já que agora estamos de olho no furacão”, afirmou.

Para Zylbersztajn, o reflexo no bolso do consumidor, que se beneficia com a queda do preço do barril, deve acontecer rápido.

“A Petrobras tem uma política de preços alinhada aos preços internacionais. Ela se beneficiou muito quando o petróleo estava alto e agora, de alguma maneira, tem que ter uma contrapartida. Quando o petróleo cai, ela também tem que repassar para o consumidor o preço mais baixo. E isso deve acontecer rápido, até para ela não ficar desmoralizada na política dela de, quando sobe, subir também”, avaliou.

“Hoje a política da Petrobras tem sido bastante ligada ao que está acontecendo [no mundo], então, em tese, não deve demorar, já que hoje ela já deve estar comprando petróleo mais barato e vendendo também. Então, ela tende a baixar esse preço para o consumidor.”

5. Esse choque pode influenciar o etanol?

Sim – e para pior. Isso porque a queda do preço do petróleo (e consequentemente na gasolina) diminui a competitividade do etanol.

“Não só o etanol, mas também as outras fontes que competem com o etanol. Quando o petróleo, que é a referência, fica mais baixo, e você tem um preço, um custo mais alto, você perde competitividade”, afirmou Zylbersztajn.

6. A Petrobras ganha ou perde com isso? Por quê?

As petroleiras, incluindo a Petrobras, perdem com essa queda brusca no preço do barril, já que elas passam a receber menos pelo petróleo que produzem.

7. O governo pode mexer na Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide)?

Sim, pode. Esse tributo atualmente representa R$ 0,10 por litro na gasolina – e zero no diesel.

“Se, em vez de ficar diminuindo o preço do combustível, o governo aumentar a Cide, criaria um certo ‘colchão’ para quando o preço voltar a subir, evitar essas volatilidades”, disse Pires. E isso vale tanto para queda quanto para aumento de preço.

Zylbersztajn concorda: “A Cide é uma fonte de receita importante para o governo. Quando ele baixa a Cide, ele está subsidiando o consumidor de combustíveis. E ele pode aumentar o valor da Cide, como no caso de agora. Na minha opinião, deveria [aumentar], porque gasolina muito baixa gera desperdício, aumento de consumo desnecessário e mais poluição”.

O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, descartou aumentar o tributo. “Não existe a possibilidade”, escreveu ele em uma rede social.

Segundo o presidente, a Petrobras manterá sua política de preços, com variações que acompanham a cotação do petróleo no mercado internacional, o que, segundo ele, resultará na “tendência” de redução do preço dos combustíveis nas refinarias.

8. No cenário global, alguém ganha com essa situação?

Além do consumidor, ninguém. Nem a Arábia Saudita ganha, já que uma guerra de preços não ajuda ninguém. “Empresa de petróleo não ganha com barril barato”, disse Pires.

Zylbersztajn completou: “A Arábia Saudita, que naturalmente vai ter uma desvalorização nas suas ações, também perde. E isso reduz a capacidade de investimento que, no setor de petróleo, é importante estar sempre investindo para repor reservas. E você só vai repor reservas se você tiver dinheiro e se essas reservas forem de um valor acima do que o mercado está pagando. Não adianta ter reservas a US$ 50, se o mercado paga U$ 35”.

9. Esse choque pode mexer com o preço do dólar no Brasil?

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Em tese, até pode, mas outros fatores são mais importantes no impacto da taxa de câmbio. “No caso, o principal fator que mexeria no preço do dólar é a desaceleração econômica e como a moeda vai se comportar. [O dólar alto] Tem a ver muito mais com a atividade econômica, com a credibilidade econômica, que são mais importantes que o preço do petróleo”, diz Zylbersztajn.

10. Como o preço do petróleo faz as bolsas caírem?

O principal caminho de “transmissão direta” da queda do petróleo para as bolsas é a piora nas perspectivas para as empresas petroleiras, que devem lucros menores. As ações da Petrobras, por exemplo, chegaram a cair mais de 20% – cortando o valor de mercado da empresa em mais de US$ 67 bilhões.

Mas o tombo do petróleo também influencia de outra forma: ao criar uma insegurança grande nos mercados, a tendência é que os investidores busquem ativos considerados seguros – e fujam da bolsa, principalmente de ações de empresas que possam ser mais afetadas por uma instabilidade econômica global.

(Por G1)

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