Ministro sinaliza que Petrobras vai concluir fábrica de fertilizantes em MS

Obra da planta de processamento de nitrogenados UFN3 da Petrobras, em Três Lagoas, está paralisada há quase uma década – Arquivo/Correio do Estado

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Carlos Fávaro, sinalizou que a Petrobras deve retomar a construção das três unidades de fertilizantes que estão paralisadas desde o início da década passada.

Entre essas unidades processadoras está a de Três Lagoas, a Unidade de Fertilizantes Nitrogenados nº 3 da estatal, cuja obra foi paralisada em 2015, com 80,95% dos trabalhos concluídos.

Em entrevista ao jornal O Globo, Fávaro disse que a retomada da construção das unidades pela estatal está dentro não somente do plano nacional de fertilizantes, mas de uma estratégia mais ampla, para garantir mais estabilidade e reduzir os custos para o setor do agronegócio.

“Tem um plano nacional de fertilizantes que nós vamos dar continuidade. O presidente Lula já determinou ao meu colega ministro de Minas e Energia [Alexandre Silveira] que um dos programas que a Petrobras tem de participar é a continuidade de plantas de produção de nitrogenados, que já estavam começadas e foram paralisadas, as três que faltam”, disse o ministro.

As três plantas que ele se refere são as três unidades iniciadas pela Petrobras cujas obras foram paralisadas, em Três Lagoas (UFN3), em Laranjeiras, Sergipe (UFN4), e em Uberaba, MInas Gerais (UFN5).

Entre as três unidades inacabadas, a planta localizada em Mato Grosso do Sul foi a que foi paralisada com o estágio de obras mais avançado: 80,95%.

As obras pararam em 2015, no auge da Operação Lava Jato, liderada pelos hoje políticos Sergio Moro (senador eleito pelo União Brasil-PR) e Deltan Dallagnol (deputado federal eleito pelo União Brasil-PR) – a Construtora Galvão, que integrava o consórcio da UFN3, foi implicada no escândalo de corrupção.

O consórcio, lançado em 2011, contava com a Petrobras e a estatal chinesa de petróleo Sinopec e foi lançado em cerimônia com a ex-presidente da República Dilma Rousseff e o ex-presidente da estatal Sergio Gabrielli.

“Tem três iniciadas. A proposta é estruturar, ver o que precisa para terminar e para que elas fiquem prontas para fornecer nitrogenados. Nós queremos investir em tecnologia, na busca por fosfatados, que tem um pouco no Brasil, e também de cloreto de potássio”, disse Fávaro, ao citar as três unidades da Petrobras que teve as obras paralisadas.

A ministra Simone Tebet, que comanda a Pasta do Planejamento, é sul-mato-grossense e já foi prefeita de Três Lagoas e, por isso, conhece bem o histórico da unidade, falou ao Correio do Estado sobre a importância da unidade.

“Essa é uma fábrica estratégica para o governo federal e para o Brasil, porque ela sozinha tem a capacidade de dobrar a produção de fertilizantes nitrogenados. O Brasil está cada vez mais dependente de fertilizantes no mundo”, lembrou.

Ela afirmou, entretanto, que os rumos da UFN3 ficarão mais claros depois de fevereiro, quando deverá ocorrer a mudança na presidência da Petrobras. Há a expectativa de que o senador Jean Paul Prates (PT-RN), indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para presidir a empresa, seja aprovado pelo conselho de administração.

Quando pronta, a UFN3 será capaz de produzir 2,2 mil toneladas/dia de amônia, 3,6 mil toneladas/dia de ureia e mais 290 toneladas/dia de gás carbônico.

A matéria-prima será o gás natural importado da Bolívia. A expectativa de consumo diário é de 2,2 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.

Tentativas de venda

Depois da Operação Lava Jato, a Petrobras, em seu programa de reestruturação, deu início a uma estratégia de venda de ativos e de parar de investir em qualquer atividade que não fosse a extração de petróleo bruto.

A produção de fertilizantes foi incluída neste programa. A estatal, de lá para cá, tentou vender a UFN3 por três vezes, mas não teve êxito em nenhuma delas, dada a complexidade e a dimensão da operação.

Chegou mais perto em 2019, quando a Acron, com fortes ligações com o governo russo, compraria a unidade em consórcio com a estatal boliviana YPFB. A destituição de Evo Morales, porém, fez com que os russos mudassem de planos.

Mais tarde, houve uma nova investida com a Acron, sem êxito, sobretudo depois de autoridades brasileiras exporem a intenção da Petrobras: a de tentar rebaixar a unidade de processadora e indústria de nitrogenados para uma mera misturadora.

“É importante lembrar que tentaram vender a UFN3 de forma equivocada e errada. Da última vez mesmo, fui eu que ajudei a barrar, porque ela não geraria emprego, não terminaria como fábrica de fertilizantes. Não constava no edital da licitação do leilão a obrigação da empresa vencedora de terminar a fábrica de fertilizantes. Ela seria mera misturadora de produtos, o que geraria 90% menos empregos”, disse a ministra do Planejamento, Simone Tebet, em entrevista exclusiva ao Correio do Estado.

No ano passado, depois de o fornecimento de fertilizantes para o mercado brasileiro ficar ameaçado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, a paralisação das unidades produtoras no Brasil e a dependência local ficaram expostas.

Foi preciso um esforço diplomático da ex-ministra da Agricultura e senadora eleita Tereza Cristina (PP-MS) para garantir o fornecimento pela Rússia. Ainda assim, os preços desses produtos essenciais para a produção agrícola dispararam no mercado internacional.

Em 2018, quando uma due dilligence (vistoria para compra) foi realizada na UFN3, foi constatado que a unidade precisaria de pelo menos US$ 1 bilhão para ser concluída. Em reais, foram aplicados mais de R$ 3 bilhões em sua construção. Atualmente, não há uma avaliação do investimento necessário para retomar a obra. (Colaborou Daniel Pedra)

 

FONTE CORREIO DO ESTADO

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