Casarão Thomé recebe intervenção cultural do grafiteiro Rafael Mareco e da artista visual Bejona

Os lambe-lambes que a artista Bejona (à direita, de short preto) vai apresentar fazem referência à família Thomé – DIVULGAÇÃO

Arte de rua dentro de casa? Sim. Mas ao mesmo tempo a céu aberto. A partir das 8h desta terça-feira, o Casarão Thomé, na Rua 14 de Julho, nº 3.169, Centro, abre as portas para a arte urbana sob a condução de dois jovens criadores do cenário sul-mato-grossense. Laís Rocha Oliveira, mais conhecida como Bejona, seu nome artístico, tem 23 anos, e o grafiteiro Rafael Mareco, 31.

Na jornada criativa de hoje, que começa pela manhã e deve atravessar a tarde em ritmo de happening, com abertura para interação e participação dos visitantes, os dois artistas vão ocupar algumas áreas externas do histórico imóvel para que o público possa apreciar uma espécie de galeria a céu aberto.

As intervenções programadas para hoje serão no muro do jardim e do galpão anexos ao casarão, que completa oito décadas desde que foi construído em 2025 e está localizado próximo ao complexo ferroviário e à Feira Central.

OS TRABALHOS

Utilizando técnicas da arte digital, Bejona preparou cartazes com imagens que fazem referência à família Thomé, ao casarão e outras criações que remetem a metáforas visuais com uma expressividade relacionada “aos sentimentos humanos”. Esses lambes, como as peças gráficas costumam ser chamadas, serão colados nos muros externos do jardim (em construção) no dia do evento.

Já Rafael Mareco estará no local para os arremates finais de um projeto iniciado no ano passado. Em 2023, Rafael propôs a confecção e deu início a um mural nas paredes do galpão do Casarão Thomé. Hoje, o artista vai finalizar sua obra e “entregá-la” ao público.

OS ARTISTAS

Bejona é artista visual e iniciou sua carreira em 2018, quando passou a cursar o bacharelado em Artes Visuais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), se formando em 2023.

Sempre procurando a “expressão dos sentimentos inexplicáveis”, Bejona investiga diversos suportes para a sua arte, explorando a pintura, a gravura, o desenho e outros suportes menos tradicionais, como o videomapping e as planografias.

Ela participou, em dezembro de 2023, da Ocupação no Casarão Thomé com a Mostra de Arte Digital (Madi), promovida em parceria com a UFMS. A iniciativa envolveu um projeto de extensão do curso de Artes Visuais, com a professora Venise Melo e seus alunos. Além de expositora, Bejona foi uma das organizadoras da mostra.

Na Madi, a artista coordenou a ocupação de uma área externa do pátio do casarão com os lambes ou lambe-lambes. Esses cartazes de rua tornaram-se uma forma de expressão artística que ganhou espaço nas cidades brasileiras, especialmente desde os anos 2000. São cartazes em papel, impressos ou produzidos à mão, que têm origem na França, onde são chamados de affiche.

Conhecido por suas criações como grafiteiro, Rafael Mareco iniciou sua carreira em 2009 pintando muros por Campo Grande. Ele se especializou na criação de personagens dentro do universo do grafite e levou seu talento e sua experiência com o spray para outras áreas, como a ilustração, a animação, a modelagem, a impressão 3D, a edição de vídeos e o Router CNC, máquina industrial de alta precisão controlada por computador utilizada para corte, gravação, moldagem, etc.

Essas experiências resultaram na criação do Studio Mareco, com o propósito de estruturar e profissionalizar as demais áreas em que atua.

O CASARÃO

O Casarão Thomé é um espaço cultural em formação. A casa, que foi moradia de Manuel Maria Secco Thomé, avô materno da artista Miska Thomé, abrigou por 20 anos a sede do Consulado Português no antigo estado de Mato Grosso uno. O imóvel é também a sede da ONG Ecoa (Ecologia e Ação), no 1° andar. O espaço cultural, na parte térrea, ainda está sendo estruturado.

A ideia é manter, além de uma sala em memória da Família Thomé, espaços para mostras, exposições, oficinas e outras atividades artísticas, culturais e tecnológicas. A família Thomé veio de Portugal, com os irmãos Manuel, Joaquim e Antônio, em 1912.

Por meio da empresa Thomé & Irmãos, e posteriormente Thomé & Filhos, eles fazem parte do time de responsáveis pela construção de Campo Grande e do Estado. E também pela vinda de uma grande parte das famílias de imigrantes portugueses para MS.

O cinema Rialto, o Colégio Dom Bosco, o prédio dos Correios, o Relógio da 14 e a primeira ponte de concreto do Estado, em Coxim, são algumas das obras de vulto construídas pelos Thomé.

Construído em 1945, em estilo Art Déco, o casarão foi a última residência da família e continua sendo ocupado por seus herdeiros, “que têm muito orgulho em preservar essa memória para que as futuras gerações saibam dessa história”, afirma a artista Miska Thomé, neta do pioneiro Manuel e responsável pelo casarão.

Atualmente, a visitação ao imóvel está restrita aos dias de eventos. “O projeto cultural do espaço, que precisou ser adiado por causa da pandemia, agora começa aos poucos a tomar forma, com as ocupações”, diz Miska. Que hoje seja um dia de sol e de muita criação.

SAIBA

Art déco é um estilo de artes visuais, arquitetura e design que teve seu apogeu na França, nos anos 1920, afetando a arquitetura, o design, a moda, a pintura, as artes gráficas, o cinema e o design de carros, trens e navios. Com a sua combinação de estilos modernistas, habilidade fina e materiais ricos, o déco, como também é conhecido, representa, historicamente luxo, glamour, exuberância e fé no progresso social e tecnológico.

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