Após morte em UPA, secretaria pretende informar tempo de espera em unidades

A Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (Sesau) pretende mudar o sistema de atendimento nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) nos próximos dias. De acordo com a secretária em exercício, Rosana Leite, a iniciativa já foi testada e informará o usuário a respeito do tempo de espera.

Segundo Rosana, a mudança foi pautada na semana passada, antes da morte de Marcelly Almeida na UPA Coronel Antonino, porém, só foi divulgada após o fato. O projeto deve ser votado pelo Conselho Municipal de Saúde nesta terça-feira.

“A gente vai colocar tempo, e ela [classificação] vai estar mais em consonância com as classificações do hospital”, informa. A iniciativa foi testada em 2022, por meio de um projeto do Ministério da Saúde, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF).

Na época, 50 UPAs de todo o País participaram do teste. Em Campo Grande, a UPA Moreninha III foi a escolhida.

A Sesau informou, em 2022, que os resultados da implementação do “lean healthcare” foram “redução no desperdício, maior segurança e capacidade na hora do atendimento e otimização do tempo de espera e permanência” do paciente na unidade.

Atualmente, a Sesau adota um sistema próprio de classificação, baseado nas diretrizes do Ministério da Saúde, que utiliza cores, como azul, verde, amarelo e vermelho, para classificar a gravidade do estado do paciente.

Essa classificação é feita na triagem, que é realizada por um profissional de saúde com Ensino Superior, que geralmente é um enfermeiro.

Na triagem, de acordo com a gravidade do problema do paciente, também é estipulado o tempo que o paciente pode esperar para receber atendimento.

Hoje em dia, a classificação vermelha é a mais urgente, e o paciente deve ser atendido imediatamente. Na amarela, caso de Marcelly, o paciente pode esperar, em tese, até 20 minutos, e em alguns estudos, segundo Rosana Leite, de 20 minutos a 60 minutos.

Nas classificações verde e azul, o tempo de espera pode ser de até duas horas.

“Hoje, quem faz a nossa classificação é o enfermeiro, e o técnico de enfermagem confere os sinais vitais. Só com os sinais vitais a gente consegue inferir se um paciente tem algum sinal de gravidade, e isso é de acordo com a idade. Por exemplo, um jovem de 29 anos, se tiver uma pressão 8 por 5, está normal. Agora, uma pessoa de 70 anos, se tiver com a pressão a 8 por 5, aí a gente já fica preocupado”, explica a secretária em exercício.

Esses critérios de classificação não serão modificados no novo modo de atendimento que será votado pelo Conselho Municipal de Saúde, as principais mudanças ocorrerão na metodologia e no fluxo de trabalho das pessoas que atuam na unidade de saúde e no tempo de espera do paciente, que será disponibilizado em uma tela, como ocorre em hospitais.

A secretária em exercício também frisa que, atualmente, enfermeiros e profissionais que atuam nas UPAs observam constantemente a evolução do quadro clínico dos pacientes em espera e, em caso de piora, eles mudam a classificação desse paciente.

Foi o que ocorreu com Marcelly Almeida. Rosana Leite pontua que a assistente social foi atendida, porém, a família alega que houve demora entre o momento que ela chegou na unidade de saúde e o momento que foi chamada para fazer a triagem.

Na Sesau, há também um sistema de monitoramento que disponibiliza uma série de dados, como imagens das UPAs, quantidade de pacientes e tempo de espera, que são observados diariamente por uma equipe da secretaria, de forma remota, e também levantados para análise e revisão dos atendimentos com os gestores das unidades.

“Às 9h [desta sexta-feira], a gente tinha a [UPA] Coronel Antonino com sete fichas verdes e sete azuis, com o tempo menor de espera de uma hora, e nenhuma amarela. A gente faz esse monitoramento: a cada duas horas, eles enviam para a gente os pacientes que estão aguardando classificação e a cor de cada um deles. Na [UPA] Universitário, por exemplo, tinha 17 [fichas] azuis e 11 verdes às 9h, com tempo de espera um pouquinho maior. A gente faz um contato com a unidade para saber o que está acontecendo, se é uma alta demanda, se é algum atraso no atendimento, e a gente age”, explica Bruno Casal, médico supervisor da Coordenação de Urgência da Sesau.

APURAÇÃO INTERNA

Após a morte de Marcelly, além da investigação policial, que é conduzida pela 2ª Delegacia de Polícia Civil da Capital, para apurar eventuais falhas que podem ter causado o óbito da assistente social, a Sesau também fará uma apuração interna.

A secretária em exercício informa que análises e revisões dos atendimentos sempre são feitas pelas equipes que compõem a pasta, mas um procedimento foi aberto.

Sindicâncias foram abertas pelo Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul (CRM-MS) e pelo Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul (Coren-MS).

“Foi um óbito de uma paciente jovem, súbito, uma paciente que procurou assistência, foi atendida e aconteceu esse insucesso. Então, a gente tem de dar uma resposta. Nós instauramos uma sindicância administrativa que vai avaliar todos os processos, desde o primeiro atendimento, as classificações, o que está nos prontuários, tudo isso é avaliado. Paralelamente, tem a avaliação ética, que é a única que é capaz de julgar se teve imperícia, negligência ou imprudência por parte da enfermagem ou dos médicos”, declarou Rosana.

A morte, na terça-feira, revoltou familiares da jovem. Segundo eles, ela teria esperado das 13h30min até as 15h para passar pela triagem, quando recebeu a classificação amarela e, momentos depois disso, passou mal e precisou ser socorrida.

Como o caso ganhou repercussão e está sob investigação, a família busca agora conseguir o prontuário de atendimento da vítima na unidade. Sobre isso, a secretária informa que esse documento é sigiloso e que há regras legais e do Conselho Federal de Medicina que norteiam quem pode ter acesso a esse registro.

No caso de morte, o parente mais próximo deve comprovar o vínculo e solicitar o acesso, entretanto, a partir do momento que ele obtém o prontuário, passa a ser o responsável pelo sigilo do documento.

Até o fim da tarde desta sexta-feira, a família de Marcelly ainda tentava conseguir o prontuário.

 

 

Correio Do Estado

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