Suposto esquema de corrupção tinha “laranjal” para ocultar beneficiados

Adir Paulino Fernandes, o “dono” da JR, uma das campeãs em contratos com o município, mora no Tarumã, saída para Sidrolândia – Foto: Gerson Oliveira

O grupo que está na mira da 31ª Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social de Campo Grande por desviar recursos públicos da prefeitura da Capital, de 2017 para cá, montou um “laranjal” para escapar das investigações e esconder os verdadeiros beneficiários do esquema investigado pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul (MPMS) por crimes como corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro.Dos R$ 405,1 milhões em contratos sob suspeita, R$ 224,7 milhões em serviços são prestados pela empresa JR Comércio e Serviços Eireli, em nome de um motorista que disse sobreviver com a venda de queijos e que tem uma renda de dois salários mínimos e meio por mês (aproximadamente R$ 3 mil).

O proprietário dessa empresa, Adir Paulino Fernandes, reside no Jardim Tarumã, ao lado do Anel Viário na saída para Sidrolândia. Na quinta-feira, quando a Operação Cascalho de Areia foi desencadeada pelo MPMS, ele estava na chácara que herdou de seu pai, em Terenos.

No local, Fernandes acabou preso em flagrante, pois foi encontrado um antigo revólver calibre 32 que também era de seu pai, falecido aos 92 anos, em 2019. Além da pequena chácara no município, o pai dele ainda deixou a ele e para mais duas irmãs uma casa modesta no Aero Rancho, em Campo Grande.

A vida que Fernandes leva é bem distinta da de outro empresário investigado na mesma operação: André Luiz dos Santos, o André Patrola. Ele reside no condomínio Damha I, em uma casa avaliada em mais de R$ 3 milhões, onde costuma promover festas.

É um dos poucos sul-mato-grossenses que tem carros da marca Tesla, chegando a presentear, há algum tempo, sua esposa, a corretora de imóveis Tatiana Duarte, com um luxuoso esportivo italiano Maseratti.

As empresas de Patrola, a AL dos Santos e a ALS Transportes, também são investigadas no esquema. Porém, elas têm contratos bem mais modestos que os do motorista “empresário” e supostamente laranja do esquema. Seus vínculos são de R$ 25,7 milhões, todos para a manutenção de vias sem pavimentação.

Outra parte considerável sobre essas prestações de serviços para o município de Campo Grande: R$ 111,3 milhões em contratos estão em poder da MS Brasil Comércio e Serviços Ltda., outra empresa cujos donos, apesar das quantias vultosas que recebem, também não levam a mesma vida luxuosa de Patrola.

Edcarlos Jesus Silva mora na Vila Planalto, tradicional bairro da classe média campo-grandense. Localidade segura e confortável, mas muito distante de ostentar o mesmo luxo no Damha I de Patrola.

Na gestão Marquinhos Trad (PSD), seja por competência, seja por sorte, seja pelos dois, Edcarlos teve muito êxito nas licitações com o município. Sua outra empresa, a Engenex (que mantém em sociedade com Paulo Henrique Silva Maciel) abocanhou R$ 37,1 milhões em contratos para manutenção de vias não pavimentadas, similares ao que Patrola obteve.

O Correio do Estado procurou as sedes da JR, de Fernandes, e da MS Brasil Comércio e Serviços Ltda. Curiosamente, elas funcionam no mesmo logradouro.

O endereço, diga-se de passagem, é tão difícil de ser encontrado, que é um terreno baldio no Bairro Monte Alegre, próximo ao Jardim Parati. Lá não há pátio de máquinas, nenhum que justificasse contratos que, se somados, passam dos R$ 300 milhões. Na sede da Engenex, na Vila Planalto, há um misto de escritório e residência.

Empresas fazem de tudo

O Correio do Estado verificou a classificação nacional de atividades econômicas (Cnae) das empresas investigadas no suposto esquema de corrupção. O que elas têm em comum é a diversidade de operações.

A MS Brasil Comércio e Serviços Ltda., por exemplo, tem o aluguel de máquinas como sua atividade principal.

Mas a empresa tem autorização para pintar ruas, aeroportos, construir edifícios, coletar resíduos perigosos e não perigosos e fazer comércio varejista de produtos alimentícios em geral, materiais de construção, equipamentos de telefonia, empresas de telecomunicação e até artigos de vestuário.

Ou seja, a MS Brasil Comércio e Serviços Ltda. pode locar equipamentos, construir edifícios, pintar aeroportos, vender comida, roupa, etc. Ela também pode fazer teleatendimento e “atividades de apoio à educação”.

O Cnae das outras empresas é muito semelhante ao dela. Porém, sobre as atividades de apoio à educação, a MS Brasil Comércio e Serviços Ltda. e seu dono acabaram acusados de superfaturar kits escolares em uma compra envolvendo a prefeitura de Paranhos.

Na época da denúncia, feita em 2020, os contratos com compras superfaturadas chegaram a R$ 420 mil, de acordo com o Ministério Público.

Correio Do Estado

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