“ROTA BIOCEÂNICA: OPORTUNIDADES E POSSIBILIDADES” COM A PRESENÇA ILUSTRE DO MINISTRO COORDENADOR DA RILA JOÃO CARLOS PARKINSON

Na noite de ontem, 23 de março, no auditório do CREA-MS, aconteceu o evento “Noite de oportunidades para Mato Grosso do Sul” com o tema Rota Bioceânica: oportunidades e possibilidades, promovido pela Rede Estadual de Comunicação Tribuna do Pantanal.

Com a presença de autoridades políticas, acadêmicas, religiosas, profissionais liberais e da população em geral, a qual foi oportunizado pelos organizadores interagir fazendo perguntas ao diplomata de carreira do Itamaraty e atual Ministro Coordenador da RILA no Ministério de Relações Internacionais, João Carlos Parkinson, iniciou sua palestra discorrendo e detalhando o ambicioso projeto, que a curto, médio e longo prazo transformará e impactará o estado de Mato Grosso do Sul, o Brasil e todo o Mercosul. Com a constante participação do público, que tornou a discussão em um diálogo muito produtivo, a fim de sanar dúvidas relacionadas sobre como o projeto afeta diretamente em seus núcleos sociais, empresas e formação profissional.

Da esquerda para direita: ministro Carlos Parkinson, Airton Farias e Aristides Cordeiro

A RILA, também chamada de Rota Bioceânica, é um dos projetos mais importantes para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul, já que tem o objetivo de encurtar os caminhos para as exportações e importações do Estado até a Ásia e a América do Norte, fazendo um percurso que corta a América do Sul, saindo do Brasil, passando pelo Paraguai, pela Argentina e chegando, assim, aos portos do Chile, que estão no Oceano Pacífico. “O Corredor Bioceânico, como também é chamado, em uma de suas metas ambiciosas tem como objetivo ser uma opção logística que reduz custos e descentraliza o eixo Três Lagoas – São Paulo (e Porto de Santos), a fim de interiorizar a dinâmica logística a nível internacional.

Tal constante, que beneficiava apenas a parte leste de Mato Grosso do Sul e, por conseguinte, o estado de São Paulo, não tinha impacto e não era sentida em importantes cidades do interior do estado, como Ponta Porã, Jardim, Corumbá e Porto Murtinho, devido à distância. Essa mudança logística privilegiará o interior do estado, em virtude do seu potencial e que anda a passos mais lentos do que deveria.

Teremos a valorização das terras, a oferta de cursos profissionalizantes (comércio exterior, logística, TI, Soldagem de navios, mecatrônica etc), o incremento do setor de serviços despontando na cidade de Porto Murtinho é uma tendência irreversível; a produção de grãos crescendo fortemente no estado, em detrimento da atividade extrativista e pecuária extensiva. Por consequência, importantes centros como por exemplo Dourados e Bonito, de forte expressão turística, sentirão os impactos dessa empreitada.”, afirma o ministro.

Um outro fator decorrente da implantação de um corredor intermodal é o de levar crescimento não só para o interior do estado, mas de criar uma comunicação com os países fronteiriços, tais como Paraguai e Bolívia, que possuem também regiões praticamente negligenciadas durante décadas por parte dos governos centrais. Ou seja, interiorizar essas dinâmicas logísticas a fim de descentralizar eixos historicamente consolidados aproximará o Centro-Oeste de importantes mercados internacionais atualmente despontando na economia mundial, como China, Índia, Vietnã, Emirados Árabes, dentre outros. A necessidade de encurtar essas distâncias escoando a produção de bens e serviços para o Pacífico, e de lá para a Ásia, otimiza a relação entre os mercados com os quais o Brasil tem mais relação. Pelo Atlântico, essa dinâmica se torna mais custosa e demorada.

Um outro ponto a se destacar é o fato de que a integração do Brasil com os países do Mercosul acaba criando uma relação muito mais estreita entre os estados do Sul e Sudeste, por conta de eixos como Buenos Aires-São Paulo e Santiago-São Paulo. Alvo de críticas das governanças estaduais do Norte e Nordeste brasileiro, essa tendência de relação mais concentrada ignora ou não favorece de forma mais palpável e direta a economia do Brasil como um todo, por conta das grandes distâncias. Aproximar tais distância trazem impacto, por exemplo, no preço final de produtos e serviços para a população sul-matogrossense.

Mapa com o trecho projetado para o Corredor Bioceânico

Importados de regiões como o Chaco e Chile, por conta da necessidade de ser intermediado pela logística determinada pelo Mercosul na década de 90 e privilegiando rotas mais ao Sul/Sudeste do que Centro-Oeste, Norte e Nordeste brasileiro, o custo logístico, se torna mais importante do que uma redução tarifária, acarretando-se um aumento no valor final do produto e, consequentemente, o consumidor é quem será penalizado.

A discussão sobre um corredor que interliga as regiões mais centrais da América do Sul com os portos do Pacífico não é nova. Desde a década de 50 que a ideia de uma ferrovia interligando o Atlântico ao Pacífico tem sido discutida. A ideia inicial era de que o Corredor Bioceânico constituiria-se de aproximadamente 4 mil km de rodovias que atravessariam o continente sul-americano no sentido leste-oeste, a partir do Porto de Santos, cortando a Bolívia e chegando aos portos chilenos de Arica e Iquique. Assim os bolivianos poderiam dispor de maior facilidade de transporte e acesso para o mar. Em agosto de 2017 ocorreu a 2ª Expedição da Rota da Integração Latino Americana, partindo de Campo Grande e percorrendo toda sua extensão até os portos chilenos de Iquique e Antofagasta, parada final. A rota passou por 4 países: Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. A 1ª Expedição percorreu o trajeto atravessando pela Bolívia, até os portos chilenos. Devido ao histórico recente com o governo boliviano, decidiu-se que a rota deve seguir via Paraguai e Argentina. A ideia era de que o corredor fosse terminado em 2022. A maior parte do trabalho deverá ser realizada pelo Paraguai, que precisará implantar e/ou asfaltar mais de 600 km de rodovias (a maioria do trecho tendo que ser implantado do zero). O trajeto terá 2400 km entre Campo Grande e Antofagasta.

Passando pelas mãos de dezenas de presidentes, o projeto não avançou durante décadas até ser incluído no Plano Nacional de Viação por meio da Lei 11 772, de 17 de setembro de 2008, durante o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como “Ferrovia Transoceânica”. A partir daí, a recebeu mais atenção por parte dos governantes, que entenderam a necessidade e benefícios que o corredor bioceânico traria. A rota deve diminuir em até 2 semanas o tempo de viagem das exportações do Centro-Oeste do Brasil até a China e Japão. Com a rota, parte da produção brasileira, que atualmente deixa o país pelos portos de Santos e Paranaguá, será exportada pelos portos chilenos a preços mais baixos. Para viabilizar a rota, o Brasil irá construir uma ponte entre as cidades de Porto Murtinho e Carmelo Peralta, no Paraguai, com previsão de início em 2021. Também irá ampliar a BR-267 no Mato Grosso do Sul. O Governo Paraguaio dividiu a obra em 3 lotes: o primeiro, de cerca de 270 km, liga Carmelo Peralta, na divisa com o brasil, a Loma Plata, no meio do país. O segundo trecho liga 2 cidades no meio do país, e o terceiro trecho liga o meio do país à divisa com a Argentina. Em agosto de 2021, o Paraguai já havia concluído 203 km do lote 1, faltando 72,6 km para terminar este trecho.

Em 2014, uma parceria foi acertada pela ex-Presidente Dilma Rousseff e os governos peruano e chinês, para o financiamento e o compartilhamento dos estudos da construção da ferrovia. Em junho de 2015, o governo chinês aprovou o financiamento da obra pelo AIIB (banco de infraestrutura chinês), porém aceitou financiar somente o trecho entre a Ferrovia Norte-Sul e o litoral do Oceano Pacífico, deixando de fora o trecho entre a FNS e o litoral fluminense (até o Porto do Açu). A construção seria iniciada ainda em 2015, porém o prazo previsto não foi cumprido. Após as reuniões de governantes do G20, na China em setembro de 2016, o Governo Chinês entrou em acordo com o Governo Brasileiro, prometendo investimentos múltiplos no país sul-americano, entre os quais, a efetiva construção da Ferrovia Transoceânica, a qual naquele momento já possuía o projeto de análise de viabilidade econômica concluído, que abrirá a rota de exportação pelo Pacífico, barateando custos de transporte de minérios e grãos.

Considerando o ano de 2022 como um ano decisivo para a política estadual e Federal, a consolidação da Rota Bioceânica, que já é uma realidade e não mais utopia, depende de uma gestão e atenção responsáveis, a fim de aproveitar todos os benefícios que o empreendimento naturalmente trará para toda a população sul-matogrossense.

Assista à reunião completa no link abaixo:

NOITE DE OPORTUNIDADES: ROTA BIOCEANICA

Nas palavras finais do Ministro João Carlos Parkinson, ele convidou os Sul-mato-grossenses para participar do Evento que está em tratativas finais, o qual está previsto para acontecer nos dias 26 e 27 de maio: contará com painéis temáticos dos diversos segmentos. Desde a esfera do governo (executivo e legislativo), empresários do segmento ferroviário, comércio exterior, logística, entidades de classe, a população dos diversos municípios brasileiros e dos países vizinhos. A Tribuna do Pantanal terá a primazia na divulgação do evento. Acompanhe nossas redes sociais para mais informações sobre a Rota Bioceânica.

 

REDAÇÃO: Luciane Costadele, Eduardo Leão e Airton Farias

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