Plantio do milho safrinha avança 77% em Mato Grosso do Sul

Nos arredores de Campo Grande, essa plantação de milho safrinha já tem grandes unidades – GERSON OLIVEIRA

Para a segunda safra do milho, Mato Grosso do Sul deve enfrentar um novo desafio climático que poderá comprometer o ciclo 2023/2024. De acordo com especialista da Embrapa Agropecuária Oeste, o fenômeno pode impactar negativamente a cultura, desencadeando atrasos nas chuvas e até mesmo um período de seca.
Contrapondo-se ao já conhecido El Niño, o La Niña é um fenômeno natural que consiste na diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico tropical central e oriental. No País, o La Niña esteve ativo pela última vez entre 2020 até março do ano passado, momento em que causou secas históricas em várias regiões do Brasil.

“Nesse momento, teríamos efeitos mais diretos para o milho safrinha, sobretudo pelas altas temperaturas que estamos vivenciando”, destaca o pesquisador agrometeorologista Éder Comunello, da Embrapa Agropecuária Oeste.

Ele ainda acrescenta que, após o fim da atuação do El Niño, haverá uma fase neutra e, em seguida, a expectativa da ocorrência do La Niña.

Responsável por afetar áreas geográficas de formas diferentes, na Região Centro-Oeste o risco maior é o atraso nas precipitações, que podem demorar um pouco mais do que é considerado normal por especialistas do clima. Segundo o meteorologista Willians Bini, da Climatempo, ainda não há razões para alarmismo no momento. “Pode ser que, em vez de setembro, as chuvas comecem em outubro”, aponta.

Comunello relata que após o fim da atuação do El Niño e os meses da chamada fase neutra – em que as águas do Oceano Pacífico não estão sob influência de nenhum fenômeno – haverá a expectativa da instalação do La Niña.

“O La Niña ocorre quando há o resfriamento da faixa equatorial central e centro-leste do Oceano Pacífico. Ele é estabelecido quando há uma diminuição igual ou maior a 0,5°C nas águas do oceano”, explica.
Conforme o agrometeorologista, há a possibilidade do evento climático ocorrer no segundo semestre. “Entretanto, ainda é difícil precisar a duração e a intensidade do fenômeno, mas é provável que ele se instale no início do segundo semestre deste ano”, pondera.

Para a segunda safra do milho no Estado, a confirmação é de um panorama desfavorável, com uma tendência de queda na redução de área cultivada que pode ser agravada pela possibilidade do La Nña.
A área do milho safrinha 2023/2024 deve apresentar queda de 6%, chegando a 2,2 milhões de hectares (ante os 2,3 milhões registrados no ciclo anterior) e 86,3 sacas por hectare (retração de 19,23% em relação à safra anterior).

A estimativa é da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), que estima ainda uma produção de 11,4 milhões de toneladas de milho, em comparação aos 14,2 milhões de toneladas colhidas na safra anterior – uma queda de 14%.

PLANTIO

Com avanço de 22,8 pontos porcentuais em comparação ao registrado em 19/3/2023, durante o ciclo 2022/2023, o plantio do milho iniciado em 12 de janeiro atingiu 1,717 milhão de hectares, equivalente a 77% da área total estimada.

A região norte está com o plantio mais avançado, com média de 95%, enquanto a área central de MS está com 87,5% de média. Já a região sul, com 71,6%.

Economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo (SRCG), Staney Barbosa Melo esclarece que o panorama ocorre em virtude da escassez hídrica e das chuvas irregulares, que afetaram a maioria das regiões produtoras no fim do ano passado. “Sobretudo o Centro-Oeste brasileiro, que encurtou o ciclo da soja, fazendo com que muitas propriedades adiantassem a colheita da soja, aceitando as perdas na produtividade”, diz.

Com isso, Melo destaca que o encurtamento da primeira safra resultou em uma janela mais favorável ao plantio antecipado do milho. “Reduziu consideravelmente o risco
de se fazer o plantio da safrinha, diante das condições climáticas que estamos vendo neste ano”, afirma.

FIM DO El NIÑO

Comunello detalha que, apesar de o Estado ainda estar oficialmente sob os efeitos do El Niño, considera-se que o fenômeno esteja perdendo força e entrando em sua em fase final.

“Embora os efeitos do fenômeno devem ser sentidos até abril ou maio, os meteorologistas esperam que as temperaturas do Oceano Pacífico voltem à normalidade [nessa época]”, salienta.

“Causado por uma interação complexa entre os ventos, as correntes oceânicas e a atmosfera, o fenômeno El Niño tem uma recorrência variável, demorando de dois a sete anos para voltar a ocorrer e se intercalando com períodos de La Niña e de neutralidade”, explica o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.

Em conclusão, o agrometeorologista ressalta que, apesar da atuação do El Niño ter sido por muitas vezes benéfica para algumas culturas, por exemplo, a soja, o evento também está associado
a outros efeitos, como a irregularidade hídrica e o aumento das temperaturas, fato que pôde ser visto na safra da soja 2023/2024.

De acordo com dados do Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio (Siga-MS), para a safra de soja 2023/2024, a estimativa é de que haja uma colheita de 13,818 milhões de toneladas, uma redução de 7,92%
no comparativo com o ciclo anterior, quando Mato Grosso do Sul colheu recordes 15,007 milhões de toneladas.

A área de soja, no entanto, é 6,5% maior em relação à safra passada, com 4,265 milhões de hectares, segundo apontam os números do Siga-MS.

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