Objetivo de Putin é combater as democracias

A invasão da Ucrânia é surpreendente e marca a maior mudança na dinâmica da geopolítica mundial em décadas. Não se trata de uma ação defensiva para se defender do avanço da Otan e das forças ocidentais em seu quintal, como o autocrata russo tenta transmitir. Trata-se de um projeto deliberado de poder, anacrônico e imperialista, que visa reforçar sua força doméstica e prolongar seu governo por décadas.

Ex-agente da KGB, o russo quer reviver os tempos de glória soviética, quando o regime comunista ocupou todo o leste europeu, até a metade da Alemanha. Em recente pronunciamento, disse que não reconhecia a Ucrânia como um Estado independente. É um desafio ao ordenamento internacional conquistado a duras penas desde a Segunda Guerra. Putin rasgou a carta da ONU e quer voltar à política internacional ao começo do século XX, quando nações conspiravam contra seus vizinhos e pretendiam ganhar influência internacional na base de tropas e bombas.

Apesar de a Rússia hoje ser uma economia mediana menor do a Califórnia, está amparado pelo arsenal nuclear da extinta URSS, por grandes reservas de petróleo e gás e por forças militares poderosas que consomem boa parte do PIB do país. Putin conta com isso para se tornar um novo czar, virando o jogo contra as democracias liberais do Ocidente. Por isso recebeu o apoio entusiasmado da China. Xi Jinping é outro autocrata que deseja se perpetuar no poder desafiando o Ocidente. O chinês está de olho no desenrolar do atual conflito, porque deseja fazer o mesmo movimento: deseja invadir Taiwan restabelecendo a supremacia chinesa no Oriente.

Putin e Xi Jinping querem minar as democracias ocidentais. Por isso Putin interferiu abertamente nas eleições americanas de 2016, conseguindo ajudar decisivamente na eleição de Donald Trump, que tentou implodir a ordem que garantiu paz e prosperidade ao mundo nos últimos 70 anos. Joe Biden felizmente derrotou Trump, e acertou em cheio ao prever que Putin era a maior ameaça estratégica aos EUA. Todas as advertências de Biden agora se concretizaram. O americano estava certo e tem tudo para voltar a fortalecer a Otan. Será um ótimo sinal para a continuidade da paz e da prosperidade que têm reinado desde que o totalitarismo foi derrotado no século XX.

Esse conflito mostrou o Brasil novamente como um ator coadjuvante e irrelevante. Bolsonaro se elegeu criticando o chavismo, mas foi se solidarizar em Moscou com o ditador russo que garante o financiamento militar e econômico da ditadura na Venezuela. O brasileiro apoiou Putin em meio a uma virada no ordenamento mundial, quando a Rússia desafiava os EUA, segundo maior parceiro comercial e maior parceiro estratégico do Brasil, num gesto patético. A diplomacia brasileira até agora não condenou a invasão da Ucrânia. Os princípios de não interferência externa e de soberania das nações deixaram de valer no Itamaraty?

 

 

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