Mercosul e Canadá retomam negociações para acordo de livre comércio

O Mercosul e o Canadá vão retomar negociações para um acordo de livre comércio. As conversas estavam paradas desde o início da pandemia.

Na primeira semana de maio, uma equipe de negociadores canadenses virá a Brasília para a primeira rodada de discussões em mais de três anos.

O grupo formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai vinha negociando com o Canadá desde 2018. As tratativas evoluíam bem e havia interesse do setor privado em um acordo, mas a pandemia congelou tudo.

Segundo relatos feitos à CNN por funcionários do governo brasileiro envolvidos nas discussões, a expectativa é de que um tratado de livre comércio possa ser concluído logo –em questão de meses, e não de anos.

A ideia é ter um acordo moderno e abrangente, contemplando não apenas a eliminação de tarifas sobre bens industriais e agrícolas, mas áreas como serviços, investimentos, medidas sanitárias e fitossanitárias, propriedade intelectual e compras governamentais, entre outras.

O Brasil exportou US$ 5,4 bilhões ao Canadá e importou US$ 5,2 bilhões do país no ano passado. Os principais produtos exportados foram ouro, alumínio, semimanufaturados de ferro e aço, açúcar, café e aviões da Embraer.

Os principais produtos importados incluem cloreto de potássio para uso como fertilizantes, produtos químicos, medicamentos, aviões da Bombardier, máquinas e equipamentos.

Diferentemente de várias outras negociações de livre comércio, o acordo Mercosul-Canadá não provoca tanta resistência entre empresários dos dois lados. As duas economias são consideradas, em muitos sentidos, complementares entre si.

Reservadamente, o governo brasileiro acredita que um tratado com o Canadá pode mandar duas sinalizações importantes. Uma para o mundo: a de que o Mercosul é, sim, capaz de concluir acordos comerciais de peso.

Hoje o bloco tem poucos tratados em vigência fora da própria América do Sul. O Uruguai pressiona por mais abertura comercial e por uma aceleração dos acordos. Ameaça, inclusive, negociar diretamente com a China –mesmo sem Brasil, Argentina e Paraguai.

Outro recado seria para a União Europeia: o de que, se Bruxelas não se mexer, ficará para trás no mercado sul-americano. Mercosul e UE concluíram as negociações em 2019, mas os europeus apontaram a alta do desmatamento na Amazônia e incertezas sobre as políticas ambientais no Brasil como justificativa para não assinar e nem ratificar o acordo fechado.

No ano passado, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) fez uma simulação dos impactos de um eventual acordo com o Canadá. Os resultados indicam que, em um período de 20 anos, o acordo poderá representar aumento de R$ 33,4 bilhões no PIB brasileiro –na comparação com um cenário sem o tratado.

De acordo com o estudo, haveria expansão de R$ 17,1 bilhões nos investimentos, além de redução geral do nível de preços ao consumidor e aumento do salário real no Brasil. Setores como vestuário, produtos farmacêuticos, equipamentos eletrônicos, produtos de couro e calçados podem estar entre os maiores beneficiados nas exportações ao Canadá.

Na reunião de maio, um dos primeiros desafios impostos aos negociadores será decidir se as tratativas continuam nas mesmas bases do passado ou se haverá uma redefinição do escopo das discussões. A partir daí, espera-se definir também um cronograma para os passos seguintes.

Além do Canadá, o Mercosul tem na mira negociações com países da América Central, Indonésia e Vietnã. No caso da UE, os dois blocos discutem a possibilidade de incluir uma declaração adicional sobre meio ambiente ao acordo fechado em 2019.

Também fechados, mas pendentes de assinatura efetiva e do processo de ratificação, estão os acordos do Mercosul com Cingapura e com o EFTA. Esse último é um bloco formado por países europeus que não formam parte da UE –Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein.

Um estudo do Banco Mundial, divulgado nesta semana, mostra que o Mercosul não só tem poucos acordos comerciais, mas com baixa profundidade –medida pelo número de áreas cobertas por esses tratados.

 

Na América Latina, México e Peru firmaram os acordos com maior número de áreas cobertas (18), seguidos por Colômbia (17) e Chile (15). Os países do Mercosul assinaram tratados que cobrem, em média, apenas seis áreas.

CNN

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