Lockdown de um árbitro de voleibol

*Marco Antonio Tavares
Vivemos intensamente o voleibol. Não jogando, não nas comissões técnicas, mas sim, gerenciando conflitos, solucionando crises, vivendo desilusões e aplausos, mastigando sucesso e engolindo desafetos, mas tudo bem, somos árbitros de voleibol.
Começamos pequeninos, diante da grandeza de outros que chegaram a nossa frente. Fizemos um curso duro e ríspido, onde as respostas eram mais uma agressão ao não saber, onde os caminhos eram indiretos e onde as decisões deveriam ser rápidas e sem erros, onde o erro não era perdoado e os acertos não vinham acompanhados de elogios. Parte do aprendizado.
Fomos colocados a prova logo no primeiro dia de formado, campeonato brasileiro, onde nos disseram que as 13 horas do outro dia deveríamos estar com o uniforme completo e prontos a atuar. Desafio de tirar o sono.
Passamos por Leite Neto, Eça Vilas Boas, Chamba, Julio, Madrugada, presidentes da entidade maior de nosso Mato Grosso do Sul e estamos firmes, com algumas baixas é verdade como o Bira e Jose Osmar, mas unidos e com a esperança de dias melhores. Alguns outros ficaram pelo caminho: Rui, Caca, Jorge, os Checkers, Rosana, Baixinha, Durval. Outros nos abandonaram pela necessidade da vida, como o PC.
Tivemos grandes mestres: Josebel, Kuroki, Dalmir, Cimino, Nereu e um que nos deixou meio tipo meteoro, Menescal, dormimos a noite e não acordamos de manhã. Curtimos nos vestiários dos jogos o surgimento do fenômeno musical Paralamas do Sucesso. Convivemos no dia a dia com Antonio Carlos Gouveia, o Carlão e Pampa. As noites de sábado no ginásio Dom Bosco com a Copagaz. A cabana Gaúcha. O JEBS em Campo Grande. E acompanhávamos um ídolo chamado Senna.
Como esquecer os Brasileiros em Coxim. As tiradas no Marcio orelha, o chevette branco do Jose Osmar, o velho tereré no hotel. O ônibus com o Piauí, lembram do Sergio Henrique, vulgo Seika? Os jogos escolares no calor de Corumbá ao frio de Iguatemi e bota frio nisso. As histórias do Savio chorando e do gago Zebu. A Adriana com cobertor na quadra em Paranaíba. E as bombinhas no tênis do gaúcho em Maracajú.
Como dizia o poeta, relembrar é viver, então, vivo intensamente. Largar o voleibol? Impossível. Ele também insiste em não me largar.
Deixo o registro a grandes árbitros que tive a oportunidade de trabalhar, quer em jogos, quer sob a coordenação em eventos: Julinho da Paraíba, Laerte e Chiquinho de Minas, Mauricio de Santa Catarina, Assunção e Carvalho de São Paulo, Luis Carlos de Goiás, Murilo e Cantine do Rio e não tão grande assim, Fabinho do Ceará. Na praia, Mario Ferro, Maria Amélia e Regis. Claro que não lembraria de todos. Aos novos de meu estado peço a desculpa de não cita-los, mas, ainda terão oportunidade de escrever a própria história.
Nesses tempos de isolamento social, onde o próximo está muito distante, me alegro com a possibilidade de escrever estas linhas, de uma pequena história que vivi. E nessa linha do tempo não poderia deixar de citar os meus verdadeiros amigos, alguns compadres, que foram atores durante 30 anos nesse palco e que contribuíram para a minha existência no voleibol: Godofredo Barbosa, André Chita, Paulo Zebu, Marcio Orelha, Marcos Bigorna, Savio Ameba, Cacau, Silvia Paraguaia, Adriana Magrela, Rosangela e Lele.
Pior aos que leram esse texto e acreditavam ser uma despedida, se enganaram, apenas um prefácio das histórias que contaremos ao longo dos tempos. Essa é a minha. Qual é a sua?

*Árbitro Nacional de Voleibol

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