Hackers acessam sistema do exército e vazam supostos exames de Bolsonaro

Um grupo de hackers afirma ter acessado o banco de dados do Hospital das Forças Armadas, onde o presidente Jair Bolsonaro teria feito seus exames de coronavírus. No vazamento de dados, divulgados na noite desta quarta-feira (13), consta o registro de quatro exames realizados pelo presidente entre junho de 2019 e janeiro de 2020, nenhum deles com pseudônimo – ao contrário dos exames de Covid-19 que o presidente realizou em março. Esse é o mesmo grupo que, no início da semana, vazou dados de cerca de 200 mil oficiais do Exército.

Nesta quarta-feira, por determinação do ministro Ricardo Lewandowski, o Palácio do Planalto divulgou três exames, realizados com três nomes diferentes, que seriam do presidente Jair Bolsonaro. Os três atestam que o presidente não estava infectado pelo novo coronavírus.

Os responsáveis pelo ataque ao banco de dados alegam que fizeram isso em protesto à forma como o governo brasileiro está lidando com o coronavírus. O grupo, entretanto, não deixou claro como conseguiu acesso aos dados. ÉPOCA apurou com pesquisadores da área que algumas vulnerabilidades em sistemas do Exército estavam suscetíveis a ataques há mais de três anos.

ÉPOCA questionou a Presidência da República sobre a veracidade dos dados vazados e, se eles são são reais, o motivo do presidente ter usado pseudônimos para realizar os exames para Covid-19, ao contrário do que teria sido feito em outros quatro exames desde o início de seu mandato, e por que o exame não estaria registrado, como afirmam os hackers, no sistema do Hospital.

A Presidência não quis comentar.

Em nota, o Exército afirmou que tem ciência do ocorrido e está investigando as causas e os impactos do incidente. “Foram adotadas providências imediatas para mitigar eventuais consequências. Fruto das conclusões da investigação, serão desenvolvidas as ações técnicas e legais necessárias”.

Para o diretor executivo da Elytron Security, empresa especializada em segurança da informação, João Lucas Melo Brasio, o vazamento reforça a exposição de dados críticos e sigilosos no Brasil.

“É muito mais preocupante porque o Exército lida com assuntos de segurança nacional. A este caso se adiciona também a questão do sigilo médico. É um órgão que lida com questões de Estado”, afirma.

No vazamento realizado na noite desta quarta-feira, o grupo de hackers publicou um arquivo em formato PDF com um exame de sangue que teria sido realizado em 14 de janeiro pelo presidente Jair Bolsonaro. Alguns indícios apontam para a veracidade do documento.

Nas propriedades do arquivo, sua data de criação coincide com a data do exame. Além disso, como autor do documento consta o nome “CompLab Advanced” – sistema utilizado pela empresa Mediarte, que proporciona sistemas para laboratórios e hospitais: entre eles, o Hospital das Forças Armadas.

Segundo os hackers, não há registro de nenhum exame em nome do presidente Jair Bolsonaro no sistema utilizado pelo Hospital das Forças Armadas, apesar do exame ter sido realizado lá. Entretanto, não está claro se o grupo procurou pelos pseudônimos utilizados pelo presidente nos exames realizados no Hospital e enviados ao laboratório Sabin: Rafael Augusto Ferraz e Airton Guedes. Outro terceiro exame, sob o nome de “Paciente 05”, foi enviado à Fiocruz.

Os responsáveis pelo ataque também afirmaram que realizaram a busca tanto pelos codinomes utilizados pelo presidente como pelo seu nome, mas não encontraram nenhum registro da coleta do exame.

Esse não é o primeiro vazamento realizado pelo grupo. Nesta semana, os hackers também publicou supostos dados de cerca de 200 mil miltares. ÉPOCA teve acesso a parte desses dados que indicam que o grupo teve acesso a nomes, filiação, tipo sanguíneo, dados bancários e até mesmo a fórmula datiloscópica de oficiais e praças do Exército Brasileiro.

Para João Lucas Melo Brasio, o ataque foge do padrão dos hackers brasileiros, que costumam ter objetivos financeiros com vazamentos, e não políticos. Segundo ele, no entanto, o ataque gera consequências ruins para a imagem do Brasil no exterior, já que o país passa a imagem de vulnerável a ataques cibernéticos.

“Isso é ruim porque traz holofote para a instituição e esse tipo de notícia que não fez mais nada. Duas vertentes surgem: a de que o Brasil está vulnerável a ataques do tipo, inclusive para hackers de fora. Por outro lado, há a vertente de que agora esses órgãos possam começar a corrigir vulnerabilidade”, afirmou.

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