Em crise “eterna”, dívida da Santa Casa cresce 90% em quatro anos e supera R$ 290,5 milhões

Abastecida pelo repasse milionário do SUS (Sistema Único de Saúde), a Santa Casa de Campo Grande foi atingida por nova crise neste mês, com restrição no atendimento por falta de medicamentos e renúncia do presidente. O agravamento da situação ocorre logo após a divulgação do balanço financeiro de 2019 (veja aqui), que fechou com aumento de 66% no déficit. Além disso, em quatro anos, a dívida do hospital cresceu 90% e chegou a R$ 290,554 milhões no ano passado.

O balanço financeiro mostra piora nas contas da instituição na gestão de Esacheu Nascimento, candidato a prefeito da Capital pelo Progressista. Os números contradizem o promotor aposentado e advogado, que tinha garantido ter equilibrado as contas do maior hospital do Centro-Oeste e referência no atendimento de alta complexidade em Mato Grosso do Sul.

A Santa Casa fechou 2019 com déficit de R$ 62,602 milhões, o que representa aumento de 66% em relação ao ano anterior, R$ 37,582 milhões. O resultado reflete ao aumento de 10,3% nas despesas, que passaram de R$ 382,5 milhões para R$ 421,990 milhões. Por outro lado, a receita cresceu apenas 4,18%, de R$ 344,9 milhões para R$ 359,388 milhões.

Apesar das queixas de defasagem no pagamento dos valores pagos pelo poder público, o SUS continua respondendo por 77,7% da receita total da unidade. Conforme o balanço, o total repassado ao hospital cresceu 3,3% entre 2018 e 2019, passando de R$ 270,2 milhões para R$ 279,4 milhões. Por outro lado, houve queda de 47% na receita com convênios e particulares, de R$ 60,1 milhões para R$ 55 milhões.

A situação só não foi pior porque houve aumento de 51% nas doações, de R$ 6,999 milhões para R$ 10,624 milhões, e de 47% nos convênios, de R$ 7,5 milhões para R$ 14,3 milhões. NO ano passado, causou polêmica a compra de um carro de luxo com o dinheiro arrecadado pela Associação Amigos da Santa Casa. O veículo teria custado mais de R$ 100 mil.

O gasto com terceirizados teve aumento de 36% em 2019, de R$ 21 milhões para R$ 28,7 milhões. O balanço não traz detalhes sobre quais os serviços continuam terceirizados pelo hospital.

O resultado não poderia ser pior para as finanças do hospital mais importante do Estado. O déficit teve salto de 66,57% em um ano, de R$ 37,582 milhões para R$ 62,602 milhões, conforme o balanço assinado por Esacheu, que deixou o cargo de presidente em fevereiro dest ano para disputar as eleições municipais. O déficit acumulado chega a R$ 196,1 milhões.

No cargo desde 2016, Esacheu realizou cinco operações de financiamento, que somaram R$ 215 milhões. Foram dois empréstimos de R$ 180 milhões em 2017 junto à Caixa Econômica Federal e mais três, de R$ 35 milhões, no ano passado.

A dívida da Santa Casa teve aumento de 16% no ano passado, quando passou de R$ 250,3 milhões, em dezembro de 2018, para R$ 290,554 milhões no final do ano passado. O maior débito é decorrente de financiamentos, que teve aumento de 8,46%, de R$ 159,8 milhões para R$ 173,3 milhões.

Parcelado em 60 vezes, os tributos, contribuições sociais e previdenciárias tiveram aumento de 34% em 2019, de R$ 24,8 milhões para R$ 33,4 milhões A dívida com fornecedores subiu 52,5% em um ano, de R$ 35,2 milhões para R$ 53,8 milhões. Apenas o débito com pessoal teve redução, de R$ 30,3 milhões para R$ 29,8 milhões.

 

Em quatro anos, considerando-se o período da gestão de Esacheu, a dívida da Santa Casa acumula aumento de 90%. Em 2016, o hospital devia R$ 152,9 milhões. Esse valor chegou a R$ 290,5 milhões no dia 31 de dezembro de 2019.

Em entrevista (veja aqui) sobre a situação do hospital, Esacheu tinha admitido que a dívida passou de R$ 168 milhões para R$ 190 milhões. Ele também tinha assegurado que havia equilibrado as finanças da instituição.

Os números do hospital

 

O balanço de 2019 da Santa Casa foi aprovado em julho deste ano. Na semana passada, o sucessor de Esacheu, Hever Xavier, considerado técnico, renunciou ao mandato de presidente da Associação Beneficente, gestora do hospital. Junto com o diretor-adjunto de finanças, José de Oliveira Souza, que também renunciou, ele alegou “motivo estritamente pessoal e de foro íntimo”.

Dias antes, ele tinha anunciado restrição no atendimento devido à superlotação do pronto-socorro e falta de medicamentos e insumos. Na ocasião, a prefeitura rebateu os argumentos e anunciou auditoria para verificar os argumentos da diretoria.

O novo presidente é o auditor Heitor Freire, que ainda não se manifestou sobre as prioridades da sua administração.

 

(Edvaldo Bitencourt)

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