Teste da Rota Bioceânica terá caminhão com carne de MS rumo ao Chile

Com obras a todo vapor em várias frentes, a Rota Bioceânica, que vai ligar Mato Grosso do Sul aos portos do Chile passando por Paraguai e Argentina, terá uma espécie de teste nas próximas semanas. É a terceira expedição da Rila (Rota da Integração Latino-Americana).

Rota Bioceânica - Uma das caminhonetes da terceira expedição da Rila (Foto: Fernando da Mata)
Uma das caminhonetes da terceira expedição da Rila (Foto: Fernando da Mata)

Em preparação para a incursão, o Setlog/MS (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul) realizou, na noite dessa sexta-feira (10), um briefing em Campo Grande reunindo empresários, autoridades e parceiros.

O presidente do Setlog/MS, Cláudio Cavol, explica que serão mais de 100 pessoas e 35 caminhonetes já confirmadas nesta terceira expedição da Rila, que sairá da capital sul-mato-grossense rumo ao litoral chileno no dia 24 de novembro (sexta-feira). Mas para ser um verdadeiro “test drive”, um caminhão carregado com carne também vai encarar a rota rumo ao Pacífico.

“O caminhão estará saindo de Campo Grande no dia 17 de novembro. Ele vai sair alguns dias antes da expedição porque nós estamos prevendo alguns dias de perda de prazo nas aduanas que temos que passar pelos diversos países. Mas nós esperamos que, mesmo que aconteça esse atraso, nós possamos então ter conhecimento do que está acontecendo nessa rodovia. Então nós levaremos a nossas autoridades pra que então a gente consiga ter essa rodovia, a maior e melhor rodovia de exportação e importação que o Brasil já teve”, afirma Cavol.

Rota Bioceânica – Presidente do Setlog/MS, Cláudio Cavol, fala durante briefing da terceira expedição da Rila em Campo Grande (Foto: Fernando da Mata)
Presidente do Setlog/MS, Cláudio Cavol, durante briefing da terceira expedição da Rila (Foto: Fernando da Mata)

Com certeza, o grande desafio a ser vencido é o desembaraço aduaneiro nas fronteiras.

“Nós estamos levando uma carga de carne, é uma carga perecível. Isso demostra que estamos apostando muito nisso. Se esse caminhão ficar muitos dias parado nas aduanas, está sujeito a perdermos essa carga, nós corremos esse risco. Então nós estamos apostando alto e estamos empenhando toda a nossa energia, nosso tempo e recurso para que essa expedição dê certo, pra que esse caminhão consiga chegar a Iquique em tempo recorde, pra nós mostrarmos pra todas as indústrias que estão no Centro-Oeste, principalmente, que a melhor saída para exportar é via Porto Murtinho, via Mato Grosso do Sul”, destaca o presidente do Setlog/MS.

Empresário do ramo de transportes, Gelson Pavoni ressalta que a integração dos quatro países é o sonho do setor há três décadas. “Agora vendo a Rota se concretizar, e sabendo que a gente pode integrar Mato Grosso do Sul com os portos chilenos, isso pra nós é uma satisfação muito grande e uma vitória.”

Por ora, não é qualquer carga que poderá ser transportada pela Rota Bioceânica, a exemplo da soja.

“A princípio, opinião minha, a gente só vai conseguir levar daqui pra lá e trazer de lá pra cá produto acabado. Produto in natura a gente não vai conseguir porque os nossos caminhões ainda não conseguem subir e nem conseguem trafegar porque a legislação do Paraguai, da Argentina e do Chile é diferente da nossa e nossos caminhões são todos rodotrens 9 eixos. Lá eles ainda estão trabalhando com caminhões de 5 eixos e 6 eixos”, pontua Pavoni.

Ao mesmo tempo, a maioria da frota de Mato Grosso do Sul é composta por carretas 3 eixos, segundo Cavol. “[Elas] poderão levar e trazer cargas de valor agregado maior, cargas industrializadas, que são câmaras frias, proteína animal, por exemplo, caminhões-baús. Enfim, carretas que não sejam rodotrens, que são grandes composições que não são permitidas lá.”

Rota Bioceânica - Briefing da terceira expedição da Rila reúne empresários, autoridades e parceiros em Campo Grande (Foto: Fernando da Mata)
Briefing da terceira expedição da Rila reúne empresários, autoridades e parceiros em Campo Grande (Foto: Fernando da Mata)

Obras

Para concretização do corredor, duas obras que estão em andamento são primordiais. A primeira é a construção da ponte sobre o rio Paraguai ligando Porto Murtinho (MS) a Carmelo Peralta (Paraguai), que deve ser concluída no primeiro semestre de 2025.

Projeto da ponte da Rota Bioceânica (Foto: Reprodução)
Projeto da ponte da Rota Bioceânica (Foto: Reprodução)

A segunda é a pavimentação da rodovia em território paraguaio. O primeiro trecho, de Carmelo Peralta a Loma Plata, tem 277 quilômetros e já está asfaltado.

Em solo paraguaio, as próximas obras para concretização da Rota Bioceânica são:

  • 227 km de estrada que liga Mariscal José Félix Estigarribia (que fica 100 km depois de Loma Plata) a Pozo Hondo, na fronteira com a Argentina;
  • Nova ponte sobre o rio Pilcomayo, ligando Pozo Hondo (Paraguai) a Misión La Paz (Argentina).

Segundo o governo paraguaio, essas etapas devem ser concluídas até fim de 2024.

Rodovia que integra Rota Bioceânica liga Carmelo Peralta a Loma Plata, no Paraguai (Foto: MOPC Paraguay)
Rodovia que integra Rota Bioceânica liga Carmelo Peralta a Loma Plata, no Paraguai (Foto: MOPC Paraguay)

No Brasil, as rodovias da Rota Bioceânica estão asfaltadas. Porém, o trecho da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho, preocupa pelos sinais de deterioração. O assessor especial de logística da Semadesc (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Lucio Lagemann, garante que o governo tem feito, junto à bancada federal, as tratativas para liberação de recursos.

“Já tem uma emenda liberada no valor de [R$] 185 milhões. Nós fizemos, na semana passada, estivemos em Brasília dentro do Ibama viabilizando a questão do licenciamento ambiental, que aquela rodovia depende da autorização do Ibama, para que as obras possam se iniciar. A verba já está alocada, o Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] já tem a empresa vencedora do certame, é só autorização do Ibama mesmo e começar as obras. Ali vai ser feita terceira faixa e obra de recuperação da rodovia, dando mais segurança pros usuários. Lembrando também que ali é o grande canal de escoamento que chega até os portos. E esse ano, o porto de Porto Murtinho bateu recorde de exportação. Então nós tivemos uma deterioração um pouco maior da estrada que o normal”, detalha Lagemann.

MS como hub logístico

O assessor especial de logística da Semadesc projeta essa tendência de Mato Grosso do Sul se tornar grande hub logístico.

“Os grandes mercados, os grandes produtores mundiais, como China e Índia, estão olhando para a Rota Bioceânica como um caminho de chegada ao Brasil. Então um volume muito grande de produtos produzidos na China e na Índia vai vir através da Rota Bioceânica. E com certeza vai dar entrada por Porto Murtinho e vai dar o desembaraço na Capital Morena aqui para despachar para todo o Brasil. Então com certeza Mato Grosso do Sul vai ser o grande hub logístico.”

Mapa da Rota Bioceânica (Foto: MOPC Paraguay/Reprodução/Facebook)
Mapa da Rota Bioceânica (Foto: MOPC Paraguay/Reprodução/Facebook)

Turismo

Além da questão econômica, de encurtar o caminho dos produtos sul-mato-grossenses para o mercado asiático, a Rota da Integração Latino-Americana vai potencializar o turismo, ligando destinos de Mato Grosso do Sul ao Chaco Paraguaio, à Cordilheira dos Andes e ao Deserto do Atacama, por exemplo.

“A Rota vai ser o grande canal de trazer turistas pra cá. Já acontece isso hoje na região de Bonito, Bodoquena, vem muita gente do Paraguai e da Bolívia. Com a concretização da Rota, nós vamos ter um fluxo muito maior chegando aqui no nosso estado, também possibilitando as pessoas que moram aqui no nosso estado ou que virão de outros estados poder conhecer a única rota no mundo em que você faz passando pelo Pantanal, passando pelo deserto e chegando até no mar. Então a Rota Bioceânica tem esse privilégio e o turismo vai poder explorar isso com muita grandeza. Nós temos riquezas naturais imensas aqui no Mato Grosso do Sul e vamos poder divulgar através da Rota Bioceânica”, pontua Lagemann.

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