Covid-19: Brasil vive “apagão” de dados e não tem noção do tamanho da pandemia

Ao admitir que o Brasil não sabe quando ocorrerá o pico da Covid-19, o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou em uma reunião com senadores por videoconferência que a nação está “navegando às cegas”. Para pesquisadores que têm somado esforços para identificar a dimensão da pandemia no país, não há, apesar da franqueza de Teich, esforços para mudar esse cenário.

Na avaliação de diferentes organizações que têm compilado estatísticas públicas sobre a Covid-19 no Brasil, existe um “apagão” de dados. A situação dificulta a travessia pela crise e a projeção de cenários, em especial quando se discute o afrouxar o isolamento social.

O aspecto mais problemático está na base de notificações do Ministério da Saúde, cujo acesso está restrito a secretarias municipais e estaduais de Saúde e à Fiocruz. Há informações de diferentes categorias que poderiam ajudar a ciência brasileira a fortalecer políticas públicas contra a disseminação do novo coronavírus.

Ao admitir que o Brasil não sabe quando ocorrerá o pico da Covid-19, o ministro da Saúde, Nelson Teich, afirmou em uma reunião com senadores por videoconferência que a nação está “navegando às cegas”. Para pesquisadores que têm somado esforços para identificar a dimensão da pandemia no país, não há, apesar da franqueza de Teich, esforços para mudar esse cenário.

Na avaliação de diferentes organizações que têm compilado estatísticas públicas sobre a Covid-19 no Brasil, existe um “apagão” de dados. A situação dificulta a travessia pela crise e a projeção de cenários, em especial quando se discute o afrouxar o isolamento social.

O aspecto mais problemático está na base de notificações do Ministério da Saúde, cujo acesso está restrito a secretarias municipais e estaduais de Saúde e à Fiocruz. Há informações de diferentes categorias que poderiam ajudar a ciência brasileira a fortalecer políticas públicas contra a disseminação do novo coronavírus.

“O voo às cegas se deve à própria atitude do ministério de fechar essas bases. É uma decisão que, para mim, parece estritamente política. Por que não liberar os dados para todos?”, avalia Renato Coutinho, professor de Matemática Aplicada da Universidade Federal do ABC e integrante do Observatório Covid-19 BR.

Embora os dados públicos estejam sujeitos à Lei de Acesso à Informação, o prazo de 20 dias é completamente incompatível com o objetivo de acompanhar a evolução da pandemia, pontua Coutinho.

Piora na nova gestão

Desde a posse de Teich, o Ministério da Saúde deixou de divulgar as cidades em situação de emergência. Além disso, as tradicionais coletivas de imprensa diárias com a atualização dos números de casos e óbitos no país se tornaram ocasiões pontuais. Procurada pelo Globo, a pasta não se manifestou.

Outra dificuldade encontrada por pesquisadores é a falta de uniformidade nos dados a nível nacional. Por vezes, informações disponibilizadas por determinado estado não são divulgadas por outros, o que dificulta um parâmetro da verdadeira situação do país no combate à pandemia.

Fernanda Campagnucci, diretora-executiva da Open Knowledge Brasil, ONG que tem feito análises semanais do nível de transparência dos portais dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal, além da União, avalia que o governo federal deveria servir de exemplo para os estados.

“A sensação depois de um mês de monitoramento é que tínhamos uma situação de absoluta escuridão, apagão mesmo. O que chama atenção é o papel do governo federal, que deveria ser liderança no processo de transparência. Embora tenha evoluído desde o início da crise, o painel de dados na internet traz uma informação muito pouco útil por ser agregada e difícil de mergulhar em detalhes. O mínimo que o governo federal deveria fazer é abrir a base de dados completas, omitindo dados pessoais, e colocar à disposição do público”, avalia Campagnucci.

Nos estados, embora o quadro tenha melhorado nas últimas semanas na avaliação da ONG, o cenário ainda está longe do ideal para uma crise como esta. Segundo a organização, apenas 32% dos estados brasileiros disponibilizam os chamados microdados, ou seja, o detalhamento de todos os registros de casos .

“Esses dados são importantes, além de para a própria população, para os gestores públicos formularem políticas contra a pandemia , para os jornalistas e as organizações da sociedade civil, que podem ajudar a melhorar a qualidade e a consistência dos dados e confrontá-los com a realidade. O gestor do estado e do país não está em todos os lugares ao mesmo tempo. Ele precisa de muitos olhos para melhorar a qualidade da informação”, avalia a diretora-executiva da ONG.

Campagnucci diz que, de posse das informações pesquisadores podem melhorar as projeções da doença : “quem é mais vulnerável? Quais são os sintomas? Tudo isso é dado para pesquisas que precisam ser feitas para ontem. Há também os desenvolvedores de software, que conseguem ajudar a fazer essas projeções e em tecnologias para ajudar a população a lidar com isso e monitorar o contágio”.

Para Ana Freitas Ribeiro, epidemiologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, o manejo de dados é fundamental para trazer a real dimensão do desafio da Covid-19 . Como alguns óbitos suspeitos ocorrem antes da realização de exames, essas informações permitem estimar o quadro da doença: “se não tiver coletado amostras, não é possível confirmar o diagnóstico. É importante trabalhar em conjunto com as universidades para juntar com esses profissionais que têm essa expertise que nós não temos”.

Fonte: iG

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