Vem aí o Campo Grande Jazz Festival; saiba como participar e confira a programação

De cima para baixo, El Trio, Miguelito, DDG4 (à esquerda), Toninho Porto, Barah Trio, Edu Ribeiro Trio (centro), Urbem, Ryan Keberle e Katie Thiroux (à direita) formam o line-up da 1ª edição do Campo Grande Jazz Festival, com apresentações gratuitas – Reprodução/Divulgação

Todo artista tem de ir aonde o povo está, canta Milton Nascimento em uma de suas canções mais conhecidas, e isso se aplica aos músicos de jazz, conforme a programação do primeiro festival com foco exclusivamente no gênero, que surgiu no fim do século 19, no sul dos Estados Unidos, a ser realizado na Capital.

Dividido em duas etapas, o Campo Grande Jazz Festival (CGJF) ocupará diferentes circuitos da cidade a partir do dia 25, com shows, sempre gratuitos, em terminais de ônibus e na Esplanada Ferroviária.

Oito atrações, entre nomes de MS, São Paulo e dos EUA, vão embalar a primeira edição do evento, oferecendo ao público da Capital a inédita oportunidade de ter contato com diferentes facetas de uma expressão musical marcada pelo sentimento de liberdade, criativa e pessoal, de seus praticantes, bem como pelo profundo desejo de improvisar no andamento, nas viradas e nos solos das composições, sem perder de vista o tema principal da peça em questão.

Barah Trio, El Trio e Urbem são os três grupos de Campo Grande que participarão do festival. De São Paulo, apresentam-se o Dani & Debora Gurgel Quarteto, ou simplesmente DDG4, e o Edu Ribeiro Trio.

A contrabaixista e cantora Katie Thiroux, de Los Angeles, em formação de trio, e o trombonista nova-iorquino Ryan Keberle, em formação de quarteto, são as duas atrações norte-americanas do elenco.

A programação prevê ainda homenagens a dois pioneiros do jazz de Campo Grande, os multi-instrumentistas Antônio Porto, o Toninho, e Jaime Miguel Barrera, o Miguelito, além de um encontro, pela manhã, com a proposta de aproximar ainda mais os músicos do público, que terá a participação do grupo DDG4 e de outros artistas.

O lançamento do CGJF, na noite de terça-feira, levou uma pequena multidão – por volta de 300 pessoas – ao Copo Bar, na Rua 14 de Julho, região central da cidade, que abrigou, na calçada, uma inspirada e instigante apresentação do El Trio. Por mais de duas horas, a partir das 19h30min, o público pôde curtir Adriel Santos (bateria), Gabriel Basso (baixo) e Gabriel de Andrade (guitarra) mandando “Coffee Hunter”, “Orbital” e “Oração das Dores”, entre outros temas autorais, além de standards do jazz, como “Take Five” (Paul Desmond).

O show teve direito a canjas do músico Otávio Neto, cantando – e reinventando – “Smile” (Charles Chaplin), e da cantora Karla Coronel, entre outros convidados. Parte da galera que apreciava a apresentação respondeu com um descontraído bailinho improvisado, bem em frente aos instrumentistas do El Trio.

“Aconteceu! Virou de verdade. Agora temos um festival de jazz nosso”, vibrava Adriel Santos ao abraçar os amigos no fim do show, seguido pelo sorriso de orelha a orelha de Basso e Andrade, parceiros de grupo.

Tamanho burburinho, em plena terça-feira, em uma região da Capital que costuma estar deserta à noite, motivado por um estilo musical que anda quase sempre à margem do gosto médio, mostra que a iniciativa faz todo sentido e revela mais que uma queda do campo-grandense pelo gênero.

“O jazz é patrimônio da humanidade, e no mundo inteiro tem festival dedicado a este estilo. O jazz faz parte da cultura musical do ser humano, e Campo Grande ter um festival para fomentar este estilo é algo culturalmente básico”, ressaltou Adriel Santos.

Duas etapas

Na primeira etapa do Campo Grande Jazz Festival, o El Trio vai tocar no Terminal Moreninhas no dia 25 (segunda-feira), a Urbem, no Terminal Nova Bahia, no dia 26 (terça-feira), e o Barah Trio, no Ponto de Integração Hércules Maymone, no dia 27 (quarta-feira). As performances terão 40 minutos e começarão às 18h.

“As pessoas vão descer do ônibus no terminal e ver de pertinho os músicos improvisando. O jazz vem do gueto, e levar o festival para a rua nos motiva muito”, afirmou Adriel Santos.

Baterista do El Trio e produtor musical, Santos é também, ao lado da produtora Franciella Cavalheri, o idealizador do CGJF. As apresentações nos terminais de ônibus servirão como um “esquenta” para a segunda etapa do evento, entre 28 e 31, no Armazém Cultural, localizado na Esplanada Ferroviária.

O espaço será adaptado para o festival, com sala adequada acusticamente para os shows, cadeiras e arquibancada, camarins e praça de alimentação.

“Vamos deixar o lugar mais íntimo, com uma proximidade maior entre os músicos e a plateia. A sala de concerto vai ter um tratamento acústico para que a experiência musical seja muito boa para quem for ao festival. Queremos proporcionar uma verdadeira imersão no jazz para a plateia”, frisou o baterista.

Toninho e Miguelito

No dia 30 (sábado), a partir das 19h, o show “Antônio Porto In Concert” reunirá, no palco do Armazém Cultural, diversos instrumentistas de Campo Grande com o homenageado.

Nascido em Campo Grande, Toninho, como carinhosamente é chamado pelos mais próximos e pelos admiradores, é um dos pioneiros que estimularam o surgimento de uma cena jazzística na Capital, durante os anos 1990, e influenciou uma nova geração de músicos a se dedicar ao jazz.

Além do show tributo a Porto, que, aliás, apresenta-se hoje, ao contrabaixo, com Tetê Espíndola, no Blues Bar, o festival vai prestar homenagem, a cada edição, a um artista pela contribuição ao jazz em Mato Grosso do Sul, o que não impede, como se vê, outras loas.

O primeiro homenageado dentro dessa proposta curatorial de reconhecimento será o pianista, guitarrista e baterista Jaime Miguel Barrera. Miguelito lançou, em 1992, o primeiro disco de jazz gravado em solo sul-mato-grossense e participou de bandas icônicas do Estado, como a The Mini Boys e a Zutrik. A homenagem ao músico será no dia 31, no Armazém Cultural.

Café

“No sábado pela manhã haverá um Café Musical, no Teatro Aracy Balabanian, com os integrantes do DDG4. A ideia é aproximar pessoas interessadas, estudantes e o público em geral, para que conversem sobre música diretamente com os músicos”, afirmou a produtora Franciella Cavalheri.

O Campo Grande Jazz Festival foi contemplado em 2019 pelo Fundo Municipal de Investimentos Culturais (FMIC), da Prefeitura de Campo Grande. O evento tem realização da Cravo Filmes e apoio da TV Morena, da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), da Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura de Mato Grosso do Sul (Setesc), do Copo Bar e Restaurante, do Outz Burger e do restaurante Cantina Romana.

Quem é quem

BARAH TRIO (Campo Grande/Brasil)

O Barah Trio – Júnior Matos (saxofone, vocal, piano e percussão), Adriel Santos (bateria, percussão e vocal) e Wesley Silveira (piano) –surgiu em 2013, após Matos voltar de uma viagem pela África. Mescla de sonoridades e uma forte base rítmica marcam o BT.

DDG4 (São Paulo/Brasil)

Dani e Debora lançaram oito álbuns com seu Dani & Debora Gurgel Quarteto, que ganhou o apelido de DDG4 por seus fãs no Japão. Colaborando com Big Rabello (produção musical e bateria) e Sidiel Vieira (baixo), elas receberam prêmios nipônicos e realizaram turnês na América do Sul, nos EUA e na Europa.

EDU RIBEIRO TRIO (São Paulo/Brasil)

Músico, baterista, compositor e professor, Edu Ribeiro ganhou premiações importantes, como o Grammy Awards e o Latin Grammy. Ribeiro virá ao festival com Théo Ribeiro (baixo) e Fábio Leal (guitarra).

EL TRIO (Campo Grande/Brasil)

Rigor na tradição e imprevisíveis improvisos. Esta é a marca do grupo El Trio, composto por Adriel Santos (bateria), Gabriel de Andrade (guitarra) e Gabriel Basso (baixo). No repertório, temas autorais e grandes standards do jazz.

KATIE THIROUX TRIO (Los Angeles/EUA)

Katie Thiroux é ponta de lança arrojada da nova geração de cantores e instrumentistas de jazz. Foi residente por três meses no Dubai Jazz Club, de Quincy Jones, e dividirá o palco em Campo Grande com os músicos Matt Witek (bateria) e Felipe Silveira (piano).

RYAN KEBERLE (Nova York/EUA)

Ryan Keberle é um trombonista radicado em Nova York. Imerso na tradição, ele é um educador muito atuante e dirige a primeira orquestra de jazz juvenil da cidade. Acompanhou as lendas Rufus Reid (baixo) e Wynton Marsalis (trompete). Virá acompanhado de Paulinho Vicente (bateria), Felipe Silveira (piano) e Felipe Brisola (baixo).

URBEM (Campo Grande/Brasil)

Urbem é um quarteto com pés em solo brasileiro e os braços espalhados pelo mundo, com ingredientes de várias etnias e uma sonoridade jazzística de originalidade. O grupo é formado por Sandro Moreno (bateria), Bianca Bacha (voz e violão), Ana Ferreira (teclado) e Gabriel Basso (baixo).

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