Vaticano denuncia mudança de gênero e aborto e classifica ações como ‘ameaça à dignidade humana’
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Em um texto publicado nesta segunda-feira (8), o Vaticano denunciou o aborto e a mudança de gênero e classificou as ações como ‘ameaça à dignidade humana’. “Qualquer intervenção de mudança de sexo corre o risco, de forma geral, de ameaçar a dignidade única que uma pessoa recebe no momento da concepção”, afirma o documento. “Pouco se fala sobre esta violação dos direitos humanos (…) E é doloroso que alguns católicos defendam estas leis injustas”, lamentou em coletiva de imprensa o prefeito do Dicastério, o cardeal argentino Victor Manuel Fernández, próximo do papa e signatário do texto. O documento, denominado “Dignitas infinita” (“Uma dignidade infinita”), tem quase 20 páginas e foi aprovado pelo papa Francisco. Pode ser considerado como uma forma de apaziguar as divisões dentro da Igreja, quatro meses após o escândalo em torno da instauração de bênçãos para casais homoafetivos, especialmente entre os mais conservadores.
O documento aborda os temas-chave do pontificado de Jorge Bergoglio, como a guerra, os direitos dos migrantes, a pobreza, a ecologia e a justiça social, além de outras questões bioéticas ou relacionadas à violência na Internet. O texto também defende o direito das pessoas LGBTQIAP+. O texto, resultado de cinco anos de trabalho, foi publicado pelo Dicastério para a Doutrina da Fé, o poderoso órgão da Santa Sé encarregado do dogma que lista casos de “violações concretas e graves” da dignidade. Segundo a publicação, a gestação por barriga de aluguel entra “em total contradição com a dignidade fundamental de cada ser humano” e “a aceitação do aborto na mentalidade, nos costumes e na própria lei” reflete “uma crise de moralidade muito perigosa”.
Várias associações católicas LGBTQIAP+ na Itália e no exterior se mostraram decepcionadas com o novo texto, por considerarem que afeta a imagem e os direitos das pessoas trans. Essa é a primeira vez que o Vaticano denuncia veementemente a “ideologia de gênero”, que Francisco chama de “colonização ideológica muito perigosa”. Contudo, ao mesmo tempo, a Igreja recorda que as pessoas LGBTQIAP+ devem ser respeitadas e denuncia que “em alguns lugares, muitas são presas, torturadas e até privadas do bem da vida apenas por sua orientação sexual”. Sobre o fim da vida, a Igreja reitera sua firme oposição à eutanásia e ao suicídio assistido. Desde a sua eleição em 2013, o papa Francisco tem insistido na importância de uma Igreja aberta a todos, incluindo os fiéis LGBTQIAP+, mas seus esforços encontraram forte resistência.