Uso de ‘figurinhas’ do Ramadã no Instagram gera polêmica; entenda a tradição muçulmana
Com o início do Ramadã na última terça-feira, 13, o Instagram lançou três “adesivos” em homenagem ao mês sagrado do calendário islâmico. Assim como já tinha acontecido em fevereiro durante o Ano Novo Chinês, o uso das “figurinhas” temáticas fica disponível por tempo limitado e faz com que os stories [recurso de vídeos de até 15 segundos] apareçam com destaque no feed da rede social. Essa vantagem nas visualizações levou muitas pessoas a fazerem publicações utilizando o recurso, mesmo quando o conteúdo não tinha relação com a tradição muçulmana. A atitude foi considerada desrespeitosa para alguns seguidores do Islã e uma oportunidade de desmistificar a religião para outros. “Eu não posso considerar essa atitude desrespeitosa porque as pessoas às vezes desconhecem algumas coisas. Quem viu que aquilo aumentaria as visualizações quis usar porque realmente dá mais engajamento, mas aí é nosso dever como muçulmanos alertar essas pessoas a não utilizarem o recurso de qualquer maneira porque, querendo ou não, isso mexe com a religião dos outros. Se, mesmo explicando, a pessoa disser que não está nem aí, irrita um pouco, mas cada um com a sua consciência”, defende a influenciadora Carima Orra. A muçulmana brasileira acrescenta que ficou feliz pela preocupação do Instagram com a representatividade dos seguidores do islamismo e viu um lado positivo na polêmica envolvendo o uso dos “stickers”, já que levou as pessoas a falarem e se informarem mais sobre o assunto. O sheik Yuri, que é um líder e estudioso da religião, teve uma opinião parecida. “Eu acho que foi uma boa iniciativa do Instagram para tentar homenagear a comunidade muçulmana, dar visibilidade a essa cultura. Mas a internet é um local aberto, e algumas pessoas só colocam aquele símbolo para divulgar marcas e trabalhos ou simplesmente para aparecer. Eu, particularmente, não tenho nada contra”, afirma.
O que acontece durante o mês do Ramadã?
Enquanto o calendário gregoriano, utilizado pela maioria dos países do mundo, se baseia na movimentação do Sol e nas mudanças das estações, o calendário islâmico utiliza as fases da Lua como referência e possui entre dez e onze dias a menos. Por esse motivo, o mês do Ramadã é sempre o nono do calendário muçulmano, mas pode acontecer em diferentes períodos do calendário gregoriano e passar por todas as estações ao longo do tempo. Em 2021, especificamente, o mês sagrado teve início no dia 13 e pode ter de 29 a 30 dias, dependendo de quando as autoridades religiosas conseguirem avistar a Lua Nova. Durante esse período, todos os muçulmanos considerados aptos têm o dever de jejuar do amanhecer ao pôr-do-sol. Apenas no final do dia é permitido quebrar o jejum para comer, beber e, no caso das pessoas casadas, ter relações sexuais. As crianças, os idosos, as mulheres grávidas ou que estão amamentando, os doentes e as pessoas que estão em viagem, por exemplo, não são obrigados a jejuar. O sheik Yuri explica, no entanto, que o Ramadã não se resume a isso. O mês é considerado sagrado por ter sido quando o Anjo Gabriel revelou o Alcorão pela primeira vez ao Profeta Maomé. Nessa época do ano, os fiéis são incentivados, mas não obrigados, a aumentar sua espiritualidade, fazer caridade e se abster também de palavras e comportamentos negativos. Mais do que isso, o mês é de festa para os muçulmanos, já que os jejuns costumam ser quebrados com fartos jantares em família e as mesquitas tendem a ficar lotadas para as orações noturnas. Esse ano, porém, as celebrações estão sendo limitadas por causa da pandemia do novo coronavírus. A muçulmana Carima Orra conta que, como seus três filhos ainda são muito pequenos, eles não têm o dever de jejuar, mas acabam entrando no clima do Ramadã com as luzinhas e os enfeites temáticos que ela espalhou pela casa e com as mudanças na rotina, como o banho todos os dias antes do jantar especial com os avós. “Dia desses, o meu filho mais velho, de cinco anos, decidiu não comer o lanche da escola porque disse estar fazendo jejum. Mas mesmo assim ele come normalmente na hora do almoço e eu fico mais tranquila, porque as crianças nem sempre conseguem comunicar que estão passando mal. Eu acho necessário ter essa responsabilidade, mas ao mesmo tempo fiquei feliz pela iniciativa dele”, contou a influenciadora.
Os muçulmanos acreditam que foi no mês do Ramadã que Profeta Maomé recebeu a primeira revelação do Alcorão, o livro sagrado do islamismo.
O que representam os “stickers” do Ramadã no Instagram?
O Instagram disponibilizou três “stickers” comemorativos do Ramadã. O primeiro representa uma mesquita, que é o local de culto dos muçulmanos e um importante ponto de encontro para orações durante o mês sagrado. O segundo é uma Lua que, de acordo com o sheik Yuri, pode estar relacionada ao próprio calendário islâmico e à importância do astro para determinar o início e o fim do Ramadã, ou então à bandeira do antigo Império Otomano, que foi o maior império muçulmano da história. Já a terceira figurinha é de uma xícara de chá e um prato com tâmaras, fruto típico do Oriente Médio que o Profeta Maomé recomendava ingerir antes do início do jejum e mais tarde, para quebrá-lo. Como é rica em glicose, frutose e sacarose, a tâmara fornece uma boa quantidade de energia e reduz a sensação de fadiga, além de nutrir o corpo com ferro, magnésio e vitamina B.