Serra do Cipó: invasão de turistas vai parar na Justiça

Com o estado se aproximando da marca de 20 mil casos confirmados de COVID-19, a liberação do comércio em um dos mais populares destinos turísticos de Minas se transformou em divisão de opiniões e batalha judicial. Depois que turistas formaram filas de carros em acessos à Serra do Cipó ontem, no início do feriadão de Corpus Christi, uma ação popular com pedido liminar em caráter de urgência, requerendo o cancelamento da flexibilização, foi protocolado na Comarca de Jaboticatubas, responsável pela jurisdição de Santana do Riacho, onde ficam algumas das principais atrações da região. Parte dos moradores está na expectativa de que a visitação seja interrompida, devido os riscos de propagação do novo coronavírus.

O primeiro dia de flexibilização provocou uma chegada em massa de visitantes à Serra do Cipó. Tanto que barreira sanitária montada próximo à ponte que liga o município de Jaboticatubas a Santana do Riacho provocou fila quilométrica de carros, evidenciando a enorme quantidade de pessoas que buscavam aproveitar o feriado em plena pandemia do novo coronavírus.

Publicidade

x

O movimento foi consequência do Decreto 41/PM511/2020, que autorizou a retomada do funcionamento de bares, restaurantes, pousadas e outras atividades econômicas não essenciais. Mesmo com uma série de regras de segurança

impostas, parte dos moradores manifesta repúdio à flexibilização e quer que a medida seja revogada.

A advogada Luana de Oliveira Ferrer de Souza, que entrou com a ação nesse sentido, sustenta que a retomada está ocorrendo sem critério. “Os turistas estão se aglomerando, não está sendo fiscalizado. Já fizemos fotos de restaurantes lotados e muitas pessoas sem máscaras. Também registramos a fila para a entrada na cidade”, disse ela, que move o processo com o advogado Ivan de Godoy Azeredo Miranda.

Eles representam um grupo de moradores que questionam a medida e alegam que, no caso de uma disparada da doença na região, não há estrutura nem para os primeiros socorros. Eles organizaram um abaixo-assinado que conta com 1.079 assinaturas virtuais e 372 pela associação dos moradores.

“Compreendemos a dificuldade de todos os que precisam trabalhar. Porém, estamos no pico da COVID-19, e um plano de ação que envolvesse a comunidade deveria ter sido feito. Um planejamento de medidas e regras sanitárias que fosse realizado com mais calma e profundidade. Foi de última hora, em pleno feriado. O risco para a comunidade é enorme”, disse uma profissional de saúde local, que preferiu não se identificar. Nas ruas, muitos ignoraram cuidados como o uso de máscara. Moradores sustentam que reabertura ocorre sem monitoramento SEM CONFIRMAÇÃO

Santana do Riacho não teve, oficialmente, nenhum caso confirmado da doença respiratória. Foram 33 registros notificados e nove descartados para COVID-19.

Segundo a prefeitura, um caso é monitorado (paciente que não se enquadra para realização de teste); 23 pacientes estão em alta do isolamento domiciliar (apresentaram melhora 14 dias após o início dos sintomas), mas não foram testados, o que não permite contabilizá-los como casos positivos da doença.

Na quarta-feira, moradores e representantes de associações comunitárias da região já haviam protestado contra a reabertura parcial do turismo e do comércio, vestidos de preto e portando máscaras de proteção e luvas. A manifestação ocorreu na ponte que liga as cidades de Jaboticatubas e Santana do Riacho, onde começa o distrito de Cardeal Motta.

Estado registra quase mil casos em 24 horas

Enquanto o dilema entre flexibilização e risco de aumento dos casos se acirra em várias cidades mineiras, o número de casos confirmados da COVID-19 ultrapassou os 18 mil em Minas Gerais, segundo o mais recente boletim da Secretaria de Estado de Saúde. Os dados mostram que em 24 horas foram registrados mais 947 diagnósticos positivos da doença, totalizando 18.448 confirmações. Desse total, 431 pessoas morreram. O balanço anterior apontava 409 casos fatais.

Dos 22 novos óbitos confirmados no balanço, quatro ocorreram em Belo Horizonte. As outras vítimas eram dos municípios de Contagem, Betim, São Joaquim de Bicas (todas na Grande BH), Uberaba e Uberlândia (Triângulo), Juiz de Fora (Zona da Mata), Ipaba (Vale do Rio Doce), Ipatinga (Vale do Aço), Conselheiro Lafaiete e Tiradentes (Região Central), Montes Claros (Norte de Minas), Pedrinópolis (Alto Paranaíba), Teófilo Otoni (Vale do Mucuri), Paraisópolis (Sul de Minas) e uma de outro estado.

A capital mineira continua com o maior número de casos confirmados e mortes. São 2.853 diagnósticos positivos da doença e 66 óbitos. Logo atrás vem Uberlândia, no Triângulo Mineiro, com 1.354 casos e 31 mortes. Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, 778 pessoas tiveram a doença diagnosticada e 38 morreram.

No estado, 9.710 casos estão em acompanhamento e 8.307 pessoas se recuperaram da COVID-19. Dos 853 municípios mineiros, 554 são atingidos pelo coronavírus.

Alta e palmas depois de enfrentar 30 dias no CTI

Em meio às mais de 40 mil mortes no Brasil, 431 delas em Minas, milhares de histórias de superação da doença também se acumulam. Uma dessas vitórias foi a do caminhoneiro L.C.S., de 51 anos, que recebeu alta no Hospital Universitário Clemente de Faria, em Montes Claros, no Norte de Minas, sob aplausos dos funcionários. Natural do Ceará, o caminhoneiro ficou internado por 46 dias, dos quais 30 no Centro de Tratamento Intensivo (CTI).

Em 22 de abril, o caminhoneiro saiu do Ceará com destino a São Paulo. Ao passar pelo Norte de Minas, se sentiu mal em uma parada em posto de gasolina, às margens da BR-251. Foi atendido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e Emergência (Samu) e levado para o Hospital Municipal de Francisco Sá, cidade da mesma região. Em seguida, foi transferido para o hospital vinculado à Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). O quadro se agravou e, em 3 de maio, o paciente foi levado para o CTI e precisou ser entubado, permanecendo até 2 de junho.

“Temos muita gratidão a Deus a todos os médicos do hospital pelo esforço”, afirmou a mulher do caminhoneiro, S.M.O.M. “O sentimento é de extrema gratidão, pois, muitas vezes, eu mesma não acreditava que seria possível ele voltar pra nós”, relembra. Ela que deslocou até o Norte de Minas para reencontrar o companheiro depois de passar 39 dias sem vê-lo.

A mulher afirma que o caminhoneiro apresentou os sinais da doença ainda antes de sair de casa, mas disse que não imaginou que ele teria contraído a COVID-19. “Ele já saiu do Ceará com a garganta ardendo e febril. Mas a gente nunca pensou que seria coronavírus. No Ceará tem muitos casos e o meu marido não teve os cuidados preventivos necessários”, relatou.

A superintendente do Hospital Universitário Clemente de Faria, Priscila Izabela Menezes, ressalta que a unidade é referência para a macrorregião Norte de Minas, que atende a 1,6 milhão de pessoas. Mas, ainda segundo ela, devido a situação geográfica de Montes Claros, a cidade acaba recebendo pacientes de outros estados. “Por sermos um entroncamento rodoviário, recebemos pacientes de todo o Brasil, como ocorreu nesse caso, em que o caminhoneiro, passou mal na viagem e foi trazido para o nosso hospital”, comenta.

Desde o inicio da pandemia até a terça-feira, o hospital universitário de Montes Claros atendeu a 312 casos suspeitos da COVID-19. A unidade conta com 20 leitos de UTI voltados exclusivamente para os casos de coronavírus e tinha, ontem, seis pacientes internados com suspeitas da doença.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.