Poesia – Amanhecer Pantaneiro, por Athayde Nery
Amanhecer Pantaneiro
Meu tempo de escolher momentos
tem me chegado como andar
em jardins floridos
Esses dias estive no amanhecer do pantanal
No meio do rio Paraguai
Qui quié aquilo?
Um vermelhão amarelado
que vai tomando conta
divagarinho e se derramando feito mel.
Resplandecendo no peito do rio num espelho liquefeito
Com nuvens de cor de temporal e ao mesmo tempo
de acordar de céu
Parece Deus acordando
Tudo acontece num ajuntamento lento
de perfeição corporal de luz e sentimento
Não existe razão
Não existe senão
Só paixão pelo tempo que se esvai numa correnteza macia
Numa imensidão
vazia de vazios
Tudo se encaixa
O sol vai beijando o dia como se deve beijar o corpo de uma mulher
Bem aos milímetros Com estremecimento Até que o gozo vire lua.
IN: O Livro dos acasos. Págs. 52, 53.