Paraguai suspende licitação de ponte com o Brasil e destina recursos ao sistema de saúde
A situação da pandemia de covid-19 levou o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, a cancelar a licitação da ponte sobre o Rio Paraguai, nesta quarta-feira, 14, conforme ele informou em entrevista coletiva à imprensa, nesta manhã.
As obras da ponte, que ligaria Carmelo Peralta a Porto Murtinho (MS), exigiria investimentos de US$ 30 milhões (mais de R$ 170 milhões) somente neste ano, por parte da margem paraguaia de Itaipu. O presidente disse que já informou o Ministério de Obras Públicas e a Itaipu Binacional sobre sua decisão.
Os recursos serão redirecionados para o Ministério de Saúde Pública, para a compra de medicamentos, insumos e vacinas contra a covid-19.
Segundo o ministro de Obras Públicas, Arnoldo Wiens, a decisão do presidente já foi informada ao Brasil, levando-se em conta de que se trata de um empreendimento conjunto dos dois países, informa o jornal La Nación.
Por enquanto, a licitação fica postergada para junho. Mas, se a situação de contingência se mantiver, a suspensão permanece até o ano que vem.
RECORDE DE MORTES
Na terça-feira, 13, dia em que o Paraguai iniciou a vacinação de idosos com mais de 85 anos, houve recorde de mortes por covid-19 no país. Foram 89 óbitos, totalizando agora 4.978 desde o início da pandemia. Em mais 24 horas, o país deve fechar 5 mil mortes, o que representa 714 óbitos a cada 1 milhão de habitantes.
Perto dos números do Brasil, Estados Unidos e México, por exemplo, o índice ainda é baixo, menos da metade do que a covid mata nestes três países. O que preocupa as autoridades de saúde do Paraguai é que os índices de casos e de mortes vêm subindo progressivamente, numa segunda onda mais perigosa ainda do que a primeira.
Com 2.599 novos casos, o total de contágios subiu para 240.141, dos 1uais 196.717 são pessoas recuperadas.
A letalidade, que na primeira onda da pandemia não chegava a 1% em relação ao total de casos, agora está em 2,07%, mais perto das médias de Foz do Iguaçu e do Paraná.
Ainda não dá para ter um comparativo real, mas, aparentemente, as mortes de pessoas mais jovens estão cada vez mais frequentes no Paraguai. Isso também ocorre em Foz do Iguaçu, por exemplo, mas em índices menores.
Dos 89 óbitos das últimas 24 horas, sete eram pessoas com idades entre 20 e 39 anos; 31 entre 40 e 59 anos; e 51 com idade superior a 60 anos.
O número de internamentos está em 2.888 pacientes, dos quais 485 em UTI. Quando o Paraguai entrou em “alerta vermelho” para a covid-19, no início de março, havia 1.250 pacientes hospitalizados – menos da metade dos atuais – e 324 em terapia intensiva, 50% a mais.
A pandemia está em aumento de casos, de mortes, de internamentos em geral e de internamentos em UTI, com hospitais já em colapso há mais de um mês.
A vacinação anda muito lentamente. Até agora, o Paraguai só imunizou 55.260 pessoas, a maioria pessoal de saúde. A vacinação dos idosos começou na terça, mas a quantidade de doses não será suficiente para atender todos da faixa etária superior a 85 anos.
A PONTE SUSPENSA
A ligação entre Carmelo Peralta, no Paraguai, e o município de Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, integra o pacote de obras necessárias para realizar um antigo sonho de criar a Rota Bioceânica, uma ligação entre os portos brasileiros, no Atlântico, aos portos do Pacífico.
Para concretizar este sonho, além da ponte, é necessário construir a ligação rodoviária a partir dela até o Chile, passando pelo Paraguai inteiro. Com isso, os produtores de grãos do Brasil teriam acesso aos portos do Pacífico, uma rota muito mais curta para atingir os principais mercados mundiais, o que significa, também, frente mais baixos e maior competitividade para os produtos brasileiros.
Enquanto a margem paraguaia ficaria responsável pela ponte sobre o Rio Paraguai, a margem brasileira está construindo a segunda ponte sobre o Rio Paraná, entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco. Metade das obras já está concluída.