Mourão admite que operação militar na Amazônia não recebeu ‘nenhum centavo’
A informação foi revelada pelo Estadão na semana passada. A operação anunciada no início de maio pelo governo de Jair Bolsonaro, como mostrou a reportagem, executou, até o momento, apenas 0,7% de seu orçamento previsto, um engessamento que tem impactado diretamente a operação e que já paralisa ações planejadas em campo.
A investida militar é liderada por Hamilton Mourão, que coordena o Conselho Nacional da Amazônia Legal. A operação foi anunciada com o aporte “inicial” de R$ 60 milhões. Até a última sexta-feira, 3, porém, somente R$ 2,323 milhões do orçamento previsto tinham sido empenhados, ou seja. Desse valor empenhado, apenas R$ 454 mil já tinham sido efetivamente pago, menos de 1% do planejado. Esse recurso deve-se, na prática, ao caixa que o governo já tinha disponibilizado a outras operações militares no âmbito da Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
“Vamos lembrar que até agora as Forças Armadas não receberam um centavo. Tem uma notícia que só executaram 0,7%… Não, não receberam nada”, disse Mourão, afirmando ainda que será necessário tentar aprovar um projeto de lei, para que o recurso seja aprovado de forma extraordinária. “A economia vai ter que enviar um projeto de lei para o Congresso pedindo crédito extraordinário, porque não tem recurso para alocar”, afirmou o vice-presidente nesta sexta-feira, 10, a jornalistas no Palácio do Planalto.
A fala de Mourão foi feita horas antes de uma reunião com um grupo de empresários brasileiros. Na semana passada, grupos econômicos assinaram uma carta cobrando medidas efetivas do governo para combater o desmatamento na Amazônia. Investidores estrangeiros ameaçaram recuar de planos no Brasil se o poder público não oferecer respostas satisfatórias.
Pressionado, Mourão admitiu lentidão do governo no combate ao desmatamento na região, que manteve o ritmo de alta no mês de junho, sendo o maior em cinco anos para o período, mesmo com a ação de militares na região desde maio.
O vice-presidente afirmou que o combate militar ao desmatamento, iniciado em maio, começou tarde e que deveria ter sido colocado em prática no mês de dezembro do ano passado. “Começou tarde, lógico. O começo em maio vai nos dar uma melhor situação em relação a queimadas, mas não em relação ao desmatamento”, disse o vice-presidente a jornalistas no Palácio do Planalto. “Tenho colocado que vamos prosseguir nesse tipo de trabalho até final de 2022, ou até que a turma que desmata se dê conta que não dá mais para fazer isso”, declarou Mourão.
Nesta semana, a operação militar abandonou uma das principais ações que estavam em andamento no Pará, deixando agentes do Ibama, Polícia Federal e Força Nacional sem terem como prosseguir no trabalho. O trabalho acontecia em Uruará, município cortado pela rodovia Transamazônica, e fortemente marcado pela presença de madeireiras ilegais. A paralisação foi oficialmente comunicada pelo Ibama, conforme despacho ao qual a reportagem teve acesso.
A paralisação, como afirma o próprio Ibama, tem resultado em desperdício de dinheiro público, com dezenas de servidores pagando diárias de hotel e alimentação, sem terem como executar o trabalho, enquanto as madeireiras desmontam bases para escapar da fiscalização.
Mourão admitiu a necessidade de aumentar o número de fiscais do Ibama na Amazônia, mas declarou que o governo fica engessado pois não pode migrar funcionários administrativos para o trabalho. “Precisamos contratar gente ou tirar a turma que está no serviço administrativo do ar-condicionado botar no meio da selva. Tem muita gente que não gosta disso, não. Vamos ter que buscar uma solução. Hoje eu não tenho flexibilidade para isso.”