Moro mantém silêncio sepulcral em perfis das redes sociais, que abriu a mando de Bolsonaro

Os ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que era um profícuo comentador da cena política, mais objetivamente em defesa da Lava Jato, nas redes sociais, está há 9 dias em silêncio sepulcral. E isso não é comum, visto que, quando analisamos o seu padrão de uso das redes sociais, observamos que, pelo menos 4 vezes por semana ele postava algum comentário.

O ex-ministro de Bolsonaro, que antes ele era avesso às redes sociais, criou o perfil no Twitter a mando de Bolsonaro, que exigiu que os ministros usassem a rede como espécie de Diário Oficial informal. No Instagram, ele chegou por incentivo de sua esposa, Rosângela Moro, tem até um post sobre.

A última postagem de Moro em suas redes foi no dia 1 de março, e o postagem era pra divulgar um webinário com a sua participação sob o tema “O que você tem a ver com a corrupção?”. Bom, ainda bem que foi antes desta segunda-feira (8), quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, tornou nula todas as condenações de Lula na Operação Lava Jato, a qual era conduzida pelo ex-juiz e o procurador da República, Deltan Dallagnol.

Estarei hoje conversando com o Promotor Affonso Ghizzo Neto sobre o papel do cidadão e do setor privado no combate à corrupção. https://t.co/xv3sssT7CE

— Sergio Moro (@SF_Moro) March 1, 2021

Entre os dias 1 e 20 fevereiro, data de seu último post, digamos pessoal e de linha política, o ex-juiz de Curitiba usou as redes para replicar conteúdos onde defende a sua conduta na Operação Lava Jato. Conduta esta que está sendo julgada pela 2ª Turma do STF, onde os ministros deliberam a ação de suspeição contra Moro, ou seja, de que ele foi parcial ao julgar o ex-presidente Lula, o que caracteriza um rompimento com os limites estabelecidos entre os poderes e torna nulo tudo aquilo que Moro defende como sendo o seu grande legado ao Brasil.

Manifestação de apoio à Operação Lava Jato em Curitiba. pic.twitter.com/ggqDtXHOll

— Sergio Moro (@SF_Moro) February 21, 2021

Falando em STF, no dia 1 de fevereiro o ex-juiz compartilhou um post do ministro Fux, onde este comenta o seu discurso de abertura dos trabalhos do STF, tema: obscurantismo e falta de políticas de combate à pandemia do governo federal, este que Moro fez parte e ajudou a vencer as eleições em 2018, como revelam novos áudios da Operação Spoofing apresentados pela defesa do ex-presidente Lula.

Forte e correto discurso do Presidente do STF, Min. Luiz Fux, a luz da ciência é imprescindível para vencer a pandemia do coronavírus e a do obscurantismo. https://t.co/lKiuQyZYhk

— Sergio Moro (@SF_Moro) February 1, 2021

No dia 29 de janeiro Moro postou um artigo seu para a revista Crusoé, pauta: As esperanças para 2021… acho que ele não esperava ver todo o seu trabalho cancelado pelo STF.

Meu novo artigo na Crusoé é sobre as esperanças com a chegada de 2021, mas tem algumas ressalvas.https://t.co/CzC7iOwfUp

— Sergio Moro (@SF_Moro) January 29, 2021

Com o humor um pouco mais azedo, o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro postou, no dia 10 de janeiro, uma resposta ao colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim, que levantava questões sobre o futuro do ministro, ele responde: estou “ajudando as empresas em políticas anticorrupção”.

Leio há semanas no Lauro Jardim informações sobre o que eu supostamente irei fazer da minha vida no futuro e publicadas sem me consultar. Esclareço que, como já falei aqui, estou trabalhando no setor privado, ajudando as empresas em políticas anticorrupção. Ponto. O resto é boato

— Sergio Moro (@SF_Moro) January 10, 2021

A terra plana gira, não capota. Pois, no dia 28 de dezembro Moro, personagem que serve de alicerce ao discurso bolsonarista, retuitou um vídeo com uma reportagem de uma emissora britânica um tanto espantada com a postura do presidente do Brasil diante da pandemia: virar jacaré após a vacinação está na pauta.

As vezes acompanhar certas coisas de perto faz a gente perder um pouco do senso do absurdo.

Bem, esse vídeo ajuda muito a retoma-lo pic.twitter.com/eUCAI6hoYR

— Samuel Pancher (@SamPancher) December 28, 2020

No mais, os posts de Moro versam sobre a sua etapa atual de vida: a luta contra a corrupção no setor privado e a defesa da Lava Jato, porém, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro segue a quase 10 dias sem nada falar… Será que ele não tem um comentário à sociedade brasileira sobre a decisão do STF?

Diz o antigo ditado que “quem cala consente”, devemos então entender que o ministro agiu de maneira parcial?

A defesa de Lula afirma que o juiz Moro e a operação Lava Jato como um todo se valeram de “métodos inortodoxos” contra o ex-presidnete. Daí que a gente lembra que o ministro divulgou de maneira ilegal os áudios de uma conversa entre as ex-presidenta Dilma e Lula, quando este seria nomeado ministro da Casa Civil.

À época, o ex-juiz Moro defendeu a divulgação do grampo e afirmou que “havia interesse público na sua divulgação”. Imparcial?

O silêncio de Moro nos remete ao depoimento do ex-presidente Lula ao então juiz da lava Jato, em 2017. Próximo do fim de sua fala, o líder petista reafirma a sua inocência, critica o power point apresentado por Deltan Dallagnol, onde indicava Lula como o chefe de uma “organização criminosa” e afirma que tudo não passa de uma ficção.

“Eles inventaram que o tríplex era meu porquê o Globo disse, e não é, e o senhor sabe disso. Eles agora inventaram que o apartamento é meu, e não é, e eles sabem disso. Como inventaram a história do sítio que é meu, e não é. Ou seja, três denúncias do Ministério Público por ilação, porque eles têm a ideia de tentar transformar o Lula no powerpoint deles. E eu poderia ficar zangado, nervoso, mas eu quero enfrentar o Ministério Público, sobretudo a Força-tarefa, para provar a minha inocência […] O que menos preocupa vocês agora é prova”, questiona Lula

No fim de seu depoimento, Lula pergunta a Moro: “Eu vou chegar em casa amanhã. vou almoçar com oito netos e uma bisneta de seis meses. Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?”.

Acho que o silêncio de Moro, a anulação das condenações de Lula na Lava Jato e o julgamento de suspeição do ex-juiz no STF respondem à pergunta do ex-presidente.

Jornalista (USJ), mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP) e doutor em Ciências Socais (PUC-SP). Professor convidado do Cogeae/PUC e pesquisador do Núcleo Inanna de Pesquisas sobre Sexualidades, Feminismos, Gêneros e Diferenças (NIP-PUC-SP). É autor do livro “A construção da heternormatividade em personagens gays na televenovela” (Novas Edições Acadêmicas) e um dos autores de “O rosa, o azul e as mil cores do arco-íris: Gêneros, corpos e sexualidades na formação docente” (AnnaBlume).

fonte: Conteúdo ms

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