MASCARADOS MISTERIOSOS!
$Estacionei apressado em frente ao Mercado Santa Rita. Era quase meio dia desses tempos estranhos. Eu já alastrava o cheiro da fome e precisava comprar carne. Ajustei minha máscara; e enquanto minhas mãos lambiam mais uma porção de álcool gel na entrada, eu irritei-me com o embaçar dos meus óculos. Alguns metros à frente, próximo ao açougue, ele bateu em minhas costas e lembrou-se de uns amigos em comum:
— Quanto tempo, hein, Josyel?!
— Pois é. O importante é que continuamos firmes e fortes – respondi, entre uma prosa e outra sobre a Bela Vista ‘dos nossos tempos’ e outras amenidades cotidianas. Chegou minha vez de ser atendido. Falamos qualquer coisa e combinamos de tomar um tereré assim que essa pandemia deixar. E assim nos despedimos.
— Aparece lá! – disse ele.
— Opa! Qualquer hora dessas – respondi.
Com a carne pesada, agradeço ao açougueiro e me dirijo ao Caixa. No meio do corredor, entre ervas de tereré e inúmeros temperos, uma senhora me para, cumprimenta e elogia um dos meus textos recentes.
— Guri do céu (fiquei envaidecido), eu lembrei muito da sua mãe, como ela nos faz falta, né?!.
— Muita falta! Sempre.
Não sei se por minhas respostas monossilábicas ou pela minha fome que já se escancarava, ela percebeu minha pressa. Encurtamos a conversa, fingi conhecimento em coisas desconhecidas. Sua simpatia não me permite dizer que ela foi inconveniente; talvez o horário não tenha sido dos melhores para boa prosa.
— Bom, qualquer hora dessa eu apareço na sua casa pra gente colocar a conversa em dia, ok?! Tchau!
— Sim. Vou aguardar! Tchau.
Dirijo-me ao Caixa ameaçando um sorriso. Pago e deixo o Mercado com 1 quilo de carne e algumas toneladas de curiosidades e dúvidas: quem seriam essas pessoas mascaradas e tão íntimas em minhas histórias? Que na próxima vez eu ao menos recorde das vozes!