Francesas desafiam Igreja Católica e se candidatam a cargos proibidos às mulheres

Sete francesas desafiam dogma e se candidatam a cargos da Igreja Católica proibidos para mulheres. Elas escolheram o dia de Santa Maria Madalena, festejado em 22 de julho, para iniciar a campanha pela renovação da instituição.

As sete mulheres integram o coletivo “Todas Apóstolas!”, informa  Le Monde desta quinta-feira (23). Ontem, elas foram à Nunciatura Apostólica de Paris apresentar suas candidaturas para os cargos de bispo, núncio apostólico, diácono, pregador laico, padre, isto é, funções exercidas até agora somente por homens e interditadas ao sexo feminino pelo Vaticano, essencialmente por motivos ligados à tradição, explica o vespertino.

A iniciativa foi incentivada pela candidatura de Anne Soupa à sucessão do cardeal Barbarin na arquidiocese de Lyon, há dois meses, que provocou grande polêmica. “Nosso gesto não é uma reivindicação sindical, nem uma declaração de princípios, mas um ato salutar de desobediência à crença eclesiástica”, declararam as candidatas. Elas militam há anos e desejam dar voz “à metade da humanidade reduzida ao silêncio”, aponta Le Monde.

“A ausência de mulheres em cargos de responsabilidade, seja na governança das paróquias, dioceses e Vaticano ou como sacerdotes ordenados é, ao mesmo, tempo um escândalo e uma refutação da Igreja”, criticam as integrantes do coletivo. As sete mulheres têm itinerários e perfis diferentes. Elas são laicas e deram ao núncio apostólico de Paris, que representa o papa na França, os detalhes de sua profissão de fé.

Biografias fora dos critérios

Mas suas biografias não encaixam com os critérios da Igreja Católica para os cargos que pretendem, ressalta Le Monde. A maioria é casada, mãe e algumas são até divorciadas. Como profissão, elas exercem cargos de consultora, professora universitária, diretora de relações institucionais de uma ONG, funcionária pública ou terapeuta espiritual.

O itinerário de duas delas é, segundo o jornal, inesperado. Uma das candidatas foi ordenada padre em 2015 pela Associação de Mulheres Padres Católicas Romanas, contrariando a hierarquia da Igreja Católica. Outra é uma transgênero que aspira ser diácono e permitir a integração dos LGBT, hoje marginalizados na instituição.

Todas sustentam que a diversidade de seus itinerários é uma vantagem para renovar profundamente a Igreja e, principalmente, sair da oposição atual entre eclesiásticos e laicos.

Santa Maria Madalena

A data para a entreda das candidaturas não foi um acaso – 22 de julho é o dia de Santa Maria Madalena, “apóstolo dos apóstolos”, que foi escolhida por Jesus Cristo para ser a primeira pessoa a vê-lo ressuscitado e recebeu dele a missão de anunciar sua ressurreição. Essa é a prova, segundo o coletivo “Todas Apóstolas!”, que os homens interpretaram “Os Evangelhos” de maneira misógina.

“Após Maria Madalena e as diáconas saudadas por Paulo em suas cartas, quem chamou as mulheres para trabalhar na Igreja Católica?”, perguntam as francesas. Por enquanto, as candidatas sabem que o pedido não tem a menor chance de ser atendido, mas o movimento não é em vão. Ele se amplia em toda a Europa e é o único caminho para incitar a Igreja a sair de sua inércia, afirmam especialistas ouvidos por Le Monde.

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