Em meio à pandemia, 188 hospitais funcionam sem alvará da vigilância sanitária
Baratas circulando pelos quartos ou encontradas em alimentos, ralos entupidos e sujos, lixo descartado de forma irregular são algumas das realidades encontradas em hospitais estaduais no Brasil. Em meio a uma pandemia que já matou quase 160 mil pessoas, pelo menos 188 unidades funcionam diariamente, recebendo pacientes, sem ter sequer 1 alvará da vigilância sanitária.
Os dados são de levantamento feito pelo Poder360, nos 26 Estados e no Distrito Federal. Esses estabelecimentos se aproveitam de uma brecha na lei para poder atender sem ter que passar pelo mesmo rigor fiscalizatório que paira sobre as unidades de saúde do setor privado. Especialistas criticam a legislação.
O total de hospitais que funcionam sem alvará representa 47,9% dos do total de unidades estaduais em funcionamento citadas pelos estados no levantamento. Para piorar o quadro, dos poucos alvarás emitidos a esses hospitais, ao menos 28 estão vencidos.
O levantamento foi feito por meio da Lei de Acesso à informação, com solicitações feitas a cada governo das 27 unidades da federação. Eis a lista completa de hospitais.
Os únicos estados em que todos os hospitais possuem o alvará são Acre, Paraná e São Paulo. O número pode ser ainda maior porque 7 estados não responderam à solicitação: Goiás, Amazonas, Ceará, Piauí, Rondônia, Sergipe, Tocantins.
Apesar de UPA, unidades mistas, centros especializados aparecerem no levantamento realizado sem alvará da vigilância sanitária em alguns estados, eles foram excluídos porque não houve uma pergunta direcionada a esses estabelecimentos e, por isso, nem todos os estados citaram.
Quem presencia as irregularidades nem acredita estar diante de um hospital público, como a advogada Monique Thaise de Souza Siqueira que foi Internada com covid-19 no Hospital Metropolitano em Várzea Grande, em Mato Grosso. No local, que não tem alvará, até uma barata morta foi encontrada na sua gelatina.
“Fiquei 8 dias internada, recebi gelatina com uma barata morta na borda do copo, vasilha de água suja, as colheres não eram embaladas. No banheiro a única coisa que os funcionários faziam era trocar o papel, não jogavam produto de limpeza. Acabaram chamando a assistente social e a psicóloga dizendo que eu tinha TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) de limpeza, mas eu estava pedindo apenas o mínimo”.
Apesar de o estado do Piauí não ter respondido a solicitação via LAI, Juarez Carneiro de Holanda Silva, médico fiscal do CRM-PI, disse que há muitos estabelecimentos sem alvará no estado, principalmente no interior.
Juarez esclarece que os estabelecimentos não possuem nem o PGRSS (Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde), um documento técnico que estabelece ações de manejo dos resíduos provenientes de todos os serviços relacionados ao atendimento à saúde.
“Os maiores problemas estão em hospitais municipais, UPAS, unidades mistas. Mas nos hospitais estaduais já foram encontradas baratas, salas sem pias de higienização e lixos sendo descartados de maneira incorreta. Todos esses problemas afetam quem depende do serviço e quem mora no entorno”.
A Vigilância Sanitária do Amapá, por exemplo, afirmou que nenhum hospital público possui alvará porque os estabelecimentos não conseguem realizar o mínimo das solicitações exigidas.