Distanciamento não existe, dizem trabalhadores que usam transporte coletivo

Na 13 de maio, fila de gente para sair e para entrar no ônibus (Foto: Henrique Kawaminami)

Para quem mora em bairro longe do centro e faz algum serviço essencial ou autorizado a funcionar durante a pandemia de coronavírus, depender de transporte público é risco dobrado. O dia em Campo Grande foi trazido, nesta terça-feira (31), por gente que acordou antes que o sol nascesse, para pegar um ônibus e fazer a economia rodar.

Entre as mais de duas horas de espera do bairro ao centro nos pontos de integração, o sistema nervoso da cidade vai exibindo ares de normalidade com o vai e vem de ônibus e o movimento incessante de quem não pode escolher ficar em casa.

São trabalhadores da saúde, mas também são pintores e levantadores de arrimo, são caixas de supermercado, balconistas de farmácia, cuidadores nos abrigos improvisados. É gente responsável pelo que tem de funcionar para que toda a cidade possa continuar com a vida em meio à ameaça do vírus.

A Praça Ary Coelho tem 4 faces, a depender de qual rua cruza com a Avenida Afonso Pena. Na Campo Grande do transporte público de pandemia, a Praça é o relógio da cidade, e os caminhos não apontam para Roma, como diz o ditado. Eles parecem apontar para um lugar no tempo, no futuro: os cruzamentos da Avenida Afonso Pena onde ficam os pontos de integração têm ruas com nomes dos meses que virão, na 13 de Maio, 14 de Julho e 15 de novembro.

Na 13 de maio, fila de gente para sair e para entrar no ônibus (Foto: Henrique Kawaminami)
É esse movimento que vai enganando quem observa. Tic-tac, desce gente do ônibus. Tic-tac, volta gente a subir. Mas não para quem vai trabalhar com transporte público. O que dizem esses trabalhadores é que a única ilusão é pensar ser possível ficar distante 1,5 metro dentro de um ônibus.

Enquanto um ou outro exibe máscara no rosto, funcionários do Consórcio Guaicurus, responsável pelos ônibus, orientam os trabalhadores e observam o primeiro dia de retomada.

Sandra Gomes da Silva, 42, trabalha no centro de acolhimento improvisado no Jardim Los Angeles.Do José Abraão, o centro é o meio do caminho até o trabalho. “Está bagunçado, hoje vou chegar tarde, fiquei quase 1h esperando ônibus, estava quase desistindo”, disse ela, que foi para o ponto às 4h50 e chegou ao centro, aproximadamente, 6h40. “Acho importante, mas as pessoas não estao tomando esse mesmo cuidado, a distância não é respeitada”, explica.

De máscara, mas de volta ao trabalho (Foto: Henrique Kawaminami)
Dia nasceu feliz – O último dia do mês é recomeço para o pintor José Patrocínio, 57, que trabalha em uma obra no Shopping Campo Grande e sai do bairro Coophavilla para ir até a nobre região da cidade. Saiu de casa, conta, feliz, depois de vários dias sem trabalho e esperou o ônibus que chegou 15 minutos atrasado, às 5h45.

“Na entrada tive que me identificar, por sorte o ônibus que vim não estava tão cheio”, conta ele, sobre todo mundo sentado e só alguns de pé. – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.