Detenta denuncia estupro durante escolta em hospital
Detenta de 23 anos que cumpre pena por tráfico de drogas denunciou policial penal por estupro enquanto esteve internada sob escolta na Santa Casa de Campo Grande, em junho, após tentativa de suicídio com medicação.
Ela registrou boletim de ocorrência esta semana e segundo a mãe dela, Sandra Regina dos Santos, depois disso, a filha está presa não mais em presídio, mas em cela de delegacia, onde não há nem mesmo colchão.
A jovem, Julia Domingas dos Santos Ferreira esteve internada na Santa Casa entre os dias 30 de maio e 15 de junho, mas só contou o fato à mãe em 8 de julho, em ligação por vídeo. Ela disse que não havia relatado nada antes por medo.
Através de advogados, ela conseguiu permissão da Agepen (Agência Estadual do Sistema Penitenciário) para registrar o boletim de ocorrência, isso em 11 de julho.
Juliana contou que ficava sonolenta quase todo tempo devido às medicações e que durante todo tempo de internação estava sob escolta de policiais militares e penais e em quarto isolado. Em determinado dia, a escolta era de responsabilidade da Polícia Penal e um deles desceu para o carro, conforme ela ouviu da conversa entre eles e outro ficou fazendo a guarda.
Nisso, o homem, identificado como Eduardo – mas Julia afirmou não saber se este é o nome real do rapaz – e que teria sinais de ter tido lábio leporino, aproximou-se dela e começou a conversar. Ele teria perguntado se em outra situação, fora do hospital, ela ficaria com ele, ao que ela respondeu positivamente. O policial então a questiona se ela ficaria com ele naquele momento, e ela responde que não sabia.
Pelos registros à polícia, ele então a beija e ela o retribui. As algemas que a prendiam na cama são retiradas pelo policial, que a leva para o banheiro e começa a agarrá-la. Ela diz a ele que não queria transar, mas ele a vira, coloca seu rosto contra parede, retira o uniforme hospitalar e consuma o ato, sem preservativo.
Depois disso, ele teria saído do banheiro enquanto ela se lavava na pia, recoloca as roupas e vai dormir. Que ao acordar ele não estava mais lá e que foi a única vez que o viu. A mãe disse à reportagem que a filha teria pedido pílula do dia seguinte ao hospital, mas não recebeu. Dias depois ela acabou menstruando normalmente.
Internação – a jovem deu entrada na Santa Casa em estado grave e chegou a ficar em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) depois de ingerir diversos medicamentos calmantes e contra depressão. No local, ela ainda foi identificada com pneumonia, que também foi tratada.
Ela saiu de lá em 20 de junho, conforme o advogado dela e acredita que o período do suposto crime teria sido entre 4 e 20 de junho. O caso foi relatado à Agepen, que a levou para fazer registro da ocorrência. Depois disso, ela não voltou mais ao Presídio Feminino Irmã Irma Zorzi, onde está presa desde o ano passado e é mantida em cela da 2ª Delegacia de Polícia em Campo Grande.
“Pra piorar, depois de tudo que já aconteceu, a deixaram lá, alegando que é pra segurança dela, mas não tem nem colchão, uma cobertinha de nada e ela toma remédio controlado. É absurdo o que está acontecendo”, afirmou.
Tráfico – em março do ano passado Julia foi presa em Amambai quando seguia como batedora em um carro junto com outro rapaz. Acadêmica de Direito no Rio Grande do Sul, ela confessou o crime e foi mantida presa. Com isso, ela começou a tomar remédios controlados que são entregues às dententas que apresentam algum quadro psiquiátrico, após passarem por consulta psiquiátrica.
Em 30 de maio, no presídio, ela tentou se matar tomando muitos remédios que já tomava e alguns outros e em grande quantidade. Levada ao hospital, a mãe passou alguns dias com ela, podendo visitá-la após determinação judicial, mas teve negado pedido de acompanhamento 24 horas.
Nesse interim, diante do estado de saúde mental debilitado, a defesa solicitou prisão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica em clínica psiquiátrica em Camboriú (SC), onde a mãe mora ou em outra unidade hospitalar. Em 8 de julho o pedido foi negado e a determinação judicial foi da necessidade de realizar perícia com psiquiatra para posterior análise do pedido de internação, que deve ocorrer em 30 dias.
Respostas – em nota, a Agepen informou que a “interna faz uso de medicamentos, conforme prescrição de psiquiatra e, de acordo com o que foi apurado, ela utilizou remédios fornecidos também a outras internas da cela” quando tentou se matar.
Sobre o suposto estupro, a agência diz que “está apurando a denúncia administrativamente e providenciou a condução da interna à Delegacia de Polícia Civil para registro de ocorrência para que a investigação criminal também seja realizada, prezando pela total imparcialidade e esclarecimento da denúncia”.
Quanto à manutenção dela em cela de delegacia, a medida é “de forma preventiva, para fins de apuração”. A agência também disse que não há policial penal com nome de Eduardo e que tenha feito escolta no hospital no período relatado.
Em contato com a Santa Casa, o hospital informou que a paciente “é judicializado, então, não podemos passar informações sobre mesmo, apenas que recebeu alta no dia 15/6”.
Pela assessoria do juiz Albino Coimbra Neto, em substituição na 1ª Vara de Execução Penal em Meio Fechado, o Campo Grande News foi informado que “o suposto crime de estupro já está em apuração pela 1ª Delegacia de Atendimento à Mulher” e que “já há data pra realização do exame de sanidade mental, em razão de pedido da defesa anterior à tal situação, por conta de supostos problemas psiquiátricos”. (CAMPO GRANDE NEWS)