Desvendado mistério de artefatos de pesca de 5.000 anos bem conservados na Noruega
Enigma de 90 anos de apetrechos de pesca e restos de peixe e baleias de 5.000 anos encontrados em uma fazenda norueguesa longe do mar foi finalmente desvendado por pesquisador norueguês.
A história começa com um agricultor do sul da Noruega que, há 90 anos, decidiu drenar um pântano perto da fazenda para poder cultivar novas terras.
Durante os trabalhos de drenagem foram encontrados ossos de um atum-rabilho e de uma orca, bem como enormes anzóis e arpões feitos de ossos.
Os apetrechos de pesca foram encaminhados para o Museu Universitário de Antiguidades e os ossos para o Museu de História Natural, ambos na capital norueguesa, Oslo.
Mas os pesquisadores jamais conseguiriam chegar a uma conclusão. Os arqueólogos acreditavam que deveriam ser originários de um povoado humano, mas não havia vestígio de nenhum. Já os geólogos ficaram intrigados com a presença de uma orca há 5.000 anos em um local tão longe do mar.
Contudo, nenhum dos pesquisadores colocou a seguinte questão: por que esses ossos e apetrechos estavam no mesmo lugar? Haveria uma conexão entre eles?
Desvendando o enigma
Intrigado com o sucedido, Svein Vatsvag Nielsen, doutorando do Museu de História Cultural da Universidade de Oslo, logrou finalmente juntar as peças, quase 90 anos depois do achado e três anos após iniciar a investigação, informa o site científico Science Norway.
Os apetrechos encontrados há 90 anos eram particularmente interessantes, dado objetos de ossos da Idade da Pedra serem muito raros em virtude de apodrecerem facilmente.
O fato de os apetrechos terem sido encontrados juntamente com restos de peixes e baleias levantava a questão de saber se seriam da mesma época. Para Nielsen, isso poderia significar mais qualquer coisa.
A datação foi inequívoca: eram contemporâneos, de entre 3.700 e 2.500 anos a.C. Nesta época, o nível do mar era mais alto do que hoje e a área onde se encontrava o campo era provavelmente uma laguna, pelo que seria uma área de pesca e não um povoado humano.
Nenhuma escavação arqueológica adicional foi jamais realizada no local, pelo que poderiam existir no local mais artefatos, tanto mais que “sabia-se que pessoas tinham encontrado uma série de ossos em charcos nesta área, tanto antes como depois da descoberta de 1931”, disse Nielsen, citado pelo portal.
De volta ao pântano
Os trabalhos de campo iniciaram-se em 2018, com a colaboração de estudantes de arqueologia da Universidade de Oslo.
Nielsen e os estudantes escavaram através de camadas de terra arável e argila dura, achando unicamente uma ponta de flecha.
Quando se preparavam para desistir encontraram, a 1,25 metro de profundidade, em barro úmido e pegajoso com todos os sinais de ter sido um fundo marinho, dezenas de vestígios.
Após três temporadas de escavações, Nielsen logrou coletar pontas de flechas, anzóis e arpões de pesca, mas, o mais importante, muitas espinhas e ossos de peixe, como de bacalhaus e de atuns, mas também de pequenas baleias.
Nielsen em sua pesquisa conclui que no local existiu uma laguna, onde o atum-rabilho perseguia cardumes de arenque ou cavala, ficando à mercê dos pescadores.
Todas as espinhas no fundo podem se dever ao fato de que os pescadores limpavam o peixe antes de desembarcar. Ou podem ser os restos de peixes que escaparam, mas ficaram feridos demais para sobreviver.
Face à enorme quantidade de restos de tunídeos, para Nielsen “é improvável que tantos atuns azuis tenham acabado [ali] por acaso”.
Se algum fenômeno natural tivesse matado os peixes na laguna, haveria forçosamente espinhas de muitas espécies diferentes, não apenas do atum-rabilho, referiu.
Os arpões encontrados no pântano também são muito parecidos com os arpões que os arqueólogos sabem que eram usados apenas para capturar peixes grandes ou baleias pequenas.
Novas questões
Mesmo sabendo que a interpretação de achados arqueológicos está sempre associada a uma grande dose de incerteza, ainda assim Nielsen acredita que as evidências do pântano nos dão uma visão da vida cotidiana dessas pessoas.
As descobertas levantam claramente uma questão interessante: o que mais poderia estar enterrado? Em teoria, as condições extremamente boas no pântano podem ter preservado tudo, pelo que estão aprazadas escavações complementares nos charcos.
“Seria fantástico encontrar um barco”, afirmou Nielsen ao portal.