Crise do coronavírus derruba faturamento dos restaurantes em até 95%
Juliano Wertheimer, da Abrasel-MS afirma que a situação na maioria dos estabelecimentos do ramo não exprime tanto otimismo. Segundo ele, a maioria esmagadora dos restaurantes estão com o faturamento prejudicado em 85% a 95%.
O sistema de entrega não ajudou os estabelecimentos porque as pessoas pararam de pedir. Por estarem sem sair de casa, muitos optam em cozinhar, especialmente quem tem crianças. “A maioria que já tinha delivery continua e quem não tinha implantou, mas não há como dizer que essa é a salvação”, afirma.
“Nosso pleito junto ao Governo Federal é que haja o afastamento por 90 dias dos funcionários dos bares e restaurantes recebendo o seguro-desemprego para preservar os postos de trabalho. Já estamos em crise e o nosso setor foi um dos primeiros a serem atingidos”,afirma.
Em Mato Grosso do Sul, segundo ele, são pelo menos 30 mil trabalhadores divididos entre as três mil empresas do ramo.
IMPROVISO
O empresário Hugo Borges é dono do Graciliano, localizado perto do Fórum de Campo Grande. O ponto antes era estratégico por ficar em uma região com grande movimentação de pessoas, mas como os clientes não podem sair de casa para evitar o contágio, o jeito foi entregar e implantar o “pegue e leve”.
Além disso, prevendo que ninguém conseguiria viver comendo fast food durante toda a quarentena, ele decidiu vender não somente o almoço, mas o jantar também.
“No começo das medidas de contenção o astral era outro, ninguém parava para pensar no tempo que elas durariam. Passou o tempo e as pessoas viram que não podiam comer sanduíches e pizza como se todos os dias fossem fins de semana então eu peguei minha equipe e dividi: um dos cozinheiros continuou de dia e o outro entra no fim da tarde”, conta Borges.
Segundo ele, todos os funcionários compreenderam a importância de vestir a camisa da empresa neste momento.
Para segurar o faturamento dentro de uma margem necessária à sobrevivência, o empresário subsidia parte do valor da entrega por aplicativos e tem um funcionário próprio que entrega de graça.
“Como não tem trânsito, está mais rápido levar os produtos para os meus clientes. Eles atravessam a cidade toda em cinco minutos”, relata.
Além disso, notou um aumento na quantidade de motociclistas que passaram a atender em serviços como Uber Eats e Ifood. “O delivery é a única maneira de nos manternos nesses tempos difíceis”, conta Borges.
Quando o coronavírus começou a motivar medidas de contenção, o faturamento do restaurante do empresário caiu 70% em uma semana. Depois que as medidas para contornar o problema foram adotadas, a situação melhorou um pouco, mas ele ainda nota um déficit de 60% no que costumava ganhar com movimento normal.
“Vejo que a sociedade está à beira do colapso. Somos uma empresa nova e já nos tivemos que adaptar a essa realidade. Imagino quem está com as portas fechadas”, diz.
Hugo tenta negociar aluguel e prorrogação do vencimento de outras contas para conseguir bancar o que ele considera essencial: o salário dos funcionários. Porém, até os insumos estão contribuindo para deixar a situação ainda mais crítica.
“Até na quinta verde que os mercados costumavam fazer os preços não estão mais chegando aos patamares que eram antes”.
ATÉ BREVE?
O chefe de cozinha André Nardo, proprietário do Domus Bistrô, teve que fechar as portas durante a quarentena porque o delivery não deu certo. “Haviam poucos pedidos. Talvez a partir da semana que vem consigamos desenvolver algo diferente nesse sentido”, disse.
Além disso, Nardo também considera a exposição dos funcionários ao contágio como um dos elementos decisivos na tomada de decisão. “Se fizesse algo nesse sentido, de entregas, seria eu cozinhando e levando aos clientes”.
O empresário e chefe aguarda ações do Governo Federal para manter o setor e evitar um colapso ainda maior.