Contaminações entre indígenas dobram em 1 semana e mortes atingem 7 aldeias
Profissionais de saúde orientam indígenas em barreira sanitária instalada no Distrito de Taunay, em Aquidauna, a utilizar itens de proteção contra o novo coronavírus (Foto: Divulgação/Governo do Estado)
Profissionais de saúde orientam indígenas em barreira sanitária instalada no Distrito de Taunay, em Aquidauna, a utilizar itens de proteção contra o novo coronavírus (Foto: Divulgação/Governo do Estado)
Devoção a ancestrais é algo comum na cultura indígena, mas a covid-19 fez precoce algumas partidas. A terena Dominga José, 97 anos, pegou a doença da neta, funcionária de frigorífico, e não resistiu a 12 dias de internação em hospital de Sidrolândia, a 72 quilômetros de Campo Grande, morrendo no início de julho.
A contaminação importada tornou-se percurso comum nas aldeias, levou os casos a dobrarem na última semana e 12 a morreram em 7 aldeias diferentes de Mato Grosso do Sul.
Acampamentos e nem mesmo áreas demarcadas, supostamente seguras quanto a interferências externas, livraram os indígenas das contaminações pelo novo coronavírus.
Os parcos recursos liberados pelo governo Federal para prevenir as aldeias e a necessidade de buscar sustento na área urbana fizeram dos próprios moradores, que não dispensam nem por vontade e nem por necessidade o convívio coletivo, agentes transmissores
De acordo com boletim epidemiológico divulgado na última quarta-feira, pela Dsei-MS (Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul), as confirmações saltaram de 78 para 148. O total é de 492 diagnósticos.
O recorde na última semana não foi apenas de casos confirmados, mas também de mortes. Foram sete registradas num intervalo de cinco dias, entre 21 e 26 de julho, elevando para 12 o número total de óbitos entre indígenas.
Avança – Kaiowá de 59 anos, morador de aldeia de Dourados, distante 235 quilômetros da Capital, foi a primeira vítima da doença entre os indígenas do Estado, em 17 de junho. O município abriga as duas maiores reservas indígenas do Estado. Juntas, a Bororó e a Jaguapiru somam população de 18 mil Terenas e Guarani Kaiowás, que foram os primeiros alvos das contaminações.
Já foram três mortes registradas no município que tem o maior número de casos confirmados, 216. Apesar disto, são as aldeias de Aquidauana, distante 139 quilômetros da Capital, onde há maior incidência de covid-19 e também de mortes. Foram sete desde o início da pandemia e 135 contaminações.
O último óbito entre indígenas ocorreu em Miranda, a 235 quilômetros da Capital, e envolveu uma terena de 49 anos, a Aldeia Moreira. São 22 casos confirmados da doença nas nove aldeias da região. Em Sidrolândia, onde faleceu Dominga, 65 foram diagnosticados com a doença.
Aldeias de Tacuru (30), Caarapó (19), Amambai (3) e Antonio João (2) tiveram casos confirmados, mas ainda não registraram mortes.
Do total de 12 óbitos, 10 envolvem Terenas, um Kaiowá e Guarani Kaiowá. O maior índice de contaminações também é entre os Terenas, 58% dos casos contra 42% Guarani/Kaiowás.
No Brasil, de acordo com a Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), 581 indígenas morreram por covid-19 e mais de 18,8 mil foram contaminados.
Mais jovens – Entre os indígenas as contaminações entre os mais jovens e aqueles em idade laboral são as mais comuns, sendo o menos índice de diagnósticos da doença entre idosos. Conforme os dados da Dsei-MS, 107 casos foram confirmados entre pessoas de 20 e 29 anos e até mesmo em criança, foram 57 exames positivos entre 0 e 9 anos.
São 82 diagnósticos entre adolescentes de 10 e 19 anos; 78 entre pessoas de 30 e 39 anos; 75 entre as de 40 e 49 anos; 53 entre 50 e 59 anos; e 40 entre pessoas com mais de 60 anos.
Mato Grosso do Sul é o estado com a segunda maior população indígena do País. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há mais de 50 mil indígenas, sendo cerca de 10 mil nas cidades e o 40 mil na área rural. As etnias mais comuns são Guarani Kaiowá, Terenas e Kadiwéus.
(com informações do Campo Grande News)