Com medo de traição, Bolsonaro adota mãos de ferro na condução do PL de MS
O ex-presidente da República Jair Bolsonaro e o deputado federal Marcos Pollon, ambos do PL – ARQUIVO/CORREIO DO ESTADO
A decisão do ex-presidente da República Jair Bolsonaro de trocar o comando do PL em Mato Grosso do Sul foi uma clara demonstração de força e também um sinal de que está cansado de traições políticas ocorridas no Estado em eleições passadas.
Segundo fontes ouvidas pelo Correio do Estado, ao substituir o deputado federal Rodolfo Nogueira pelo deputado federal Marcos Pollon, Bolsonaro manda um recado direto aos “aliados” de ocasião, que se aproximam dele para conquistar votos e, depois de eleitos, buscam trilhar caminhos diferentes.
Caberá ao novo presidente do PL em Mato Grosso do Sul deixar bem claro aos políticos de direita que só poderão contar com o apoio do ex-presidente da República se forem do mesmo partido dele, abandonando a história de dizer que é bolsonarista, mas caminhar com seus adversários.
Na prática, conforme apurado pela reportagem, Bolsonaro não quer repetir nas eleições municipais de 2024 o mesmo que aconteceu nas eleições gerais do ano passado, quando a direita rachou entre as candidaturas do ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB), que teve o apoio de várias lideranças do PL, Republicanos e Patriota, e do governador Eduardo Riedel (PSDB), que contou com a contribuição da senadora Tereza Cristina (PP) e dos demais caciques do PL.
controle do PL em todos os estados para tentar fazer uma base forte em 2024.
“É importante ressaltar que Bolsonaro não tem mais aquela representatividade que tinha. Até mesmo aqui no Estado, na verdade, a aliança com o governador Eduardo Riedel e com a senadora Tereza Cristina em 2022 lhe beneficiou mais do que ao contrário”, analisou.
Tércio Albuquerque acredita que a nova postura mais linha dura de Bolsonaro em Mato Grosso do Sul e em outros estados é para reconquistar uma base eleitoral que perdeu na derrota para o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no ano passado.
“Para isso, ele terá necessidade de fortalecer o PL e fazer com que o partido tenha muito mais alcance, visibilidade e voto nas principais cidades aqui de Mato Grosso do Sul. Então, essa é a verdade, e não acredito que se tenha nenhuma outra intenção dele que não seja essa”, garantiu.
Nesse momento, conforme o cientista político, Bolsonaro tem necessidade de se consolidar como força política que ele já foi e que hoje não é mais. “Além disso, o ex-presidente corre um sério risco de ficar inelegível, já que várias ações judiciais estão em busca disso”, alertou.
Tércio Albuquerque acrescentou ainda que Bolsonaro começa a perceber que, se ele não buscar apoio onde ainda lhe resta alguma coisa, como em Mato Grosso do Sul, pode ter sérias dificuldades de viabilizar uma potencial candidatura em 2026.
“É nesse sentido que ele passa o comando do PL de Mato Grosso do Sul para o Pollon, que teve uma votação expressiva e pode se tornar o responsável por aglutinar toda a direita sul-mato-grossense”, pontuou.
Na avaliação dele, mesmo se não tiver os direitos políticos cassados pela Justiça Eleitoral, Bolsonaro ainda terá dificuldades de sair vitorioso na próxima eleição para presidente da República. “Então, essa é a grande verdade, o ex-presidente entendeu que o momento é de tentar se consolidar como liderança, a qual deixou de ser ao ser derrotado”, argumentou.
TEREZA CRISTINA
O cientista político também analisou que a senadora Tereza Cristina deixou de fazer parte do grupo mais próximo de Bolsonaro, o qual integrava quando foi ministra da Agricultura e Pecuária, formado por ferrenhos defensores das suas ideias.
“Dois motivos são relevantes a considerar. O primeiro é que Tereza Cristina tem potencial para ser candidata a presidente da República, e isso já está sendo pensado pelas lideranças políticas nacionais. Então, ela pode ser a nova aposta da direita para fazer uma oposição forte ao presidente Lula”, projetou Tércio Albuquerque.
Ele ainda ressalta que a filiação da prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, ao PP, para concorrer à reeleição em 2024, cria naturalmente uma distância entre Tereza Cristina e o PL de Bolsonaro, que tenta se fortalecer.
“A Tereza Cristina tem uma representação política relevante e tem chances claras de fazer frente aos demais adversários em uma eventual campanha presidencial. Então, é natural esse afastamento dela em relação ao ex-presidente, até porque, neste momento, em que Bolsonaro perde credibilidade, é aconselhável que a senadora fique bem longe dele para não afetar a própria carreira política”, aconselhou.
No entanto, Tércio Albuquerque acredita que isso ainda pode mudar, mas a tendência natural é Tereza Cristina buscar um espaço próprio. Se eventualmente reeleger Adriane Lopes como prefeita, terá um colégio eleitoral importantíssimo para as suas aspirações políticas. “Eu a vejo como uma provável candidata ao cargo de presidente da República”, finalizou o cientista político.
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