China aproveita preço baixo e exportações de soja de MS disparam
Mesmo com a cotação em baixa, venda de soja está em alta por causa dos grãos armazenados – GERSON OLIVEIRA
Conforme dados da Carta de Conjuntura do Setor Externo, divulgada pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), a oleaginosa teve 18,35% de participação na atividade comercial externa do Estado em termos de valores.
O titular da Semadesc, Jaime Verruck, avalia o desempenho da oleaginosa como positivo para o período, destacando que, mesmo com desafios e estando no período de entressafra, a soja foi o segundo produto mais exportado, em volume muito superior ao do ano passado.
“Nós tínhamos soja estocada em função dos baixos preços, mesmo assim, foram exportadas no mês de janeiro mais de 245 mil toneladas. Mostra que a soja estava retida e foi um bom momento de aumentar as exportações”, aponta.
Economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo (SRCG), Staney Barbosa Melo reforça que o aumento nas exportações em quase seis vezes, em relação a janeiro do ano passado, ocorreu em razão do preço baixo e do estoque que o produtor montou para aguardar cotações melhores.
“Com isso, os chineses estão aproveitando o momento de preços baixos para aumentarem seus estoques, o que de certa forma contribui para amortecer essa queda nos preços do grão que tanto prejudica o setor”, detalha.
PREÇOS
Com relação aos preços da soja, o ano de 2023 foi de cotações baixas para a soja. Em janeiro de 2023, a média de negociação em MS girava em torno de R$ 165 por saca, valor que caiu abruptamente com o pico da colheita.
Em maio de 2023, de acordo com a Granos Corretora, as cotações estavam em torno de R$ 120 por saca. De agosto de 2023 em diante, houve uma ligeira melhora nas cotações, que passaram para a média de R$ 130 no Estado, voltando a cair com o início do plantio, em outubro e novembro.
Já em janeiro deste ano houve uma queda muito forte nos preços da oleaginosa, que chegou a ser negociada abaixo de R$ 100 por saca. “A tese de mercado que sustenta a queda nas cotações da soja é de que, apesar dos problemas de clima no País, a safra mundial de soja terá uma oferta que compensa as perdas vindas do Brasil, com maior oferta de grãos na Argentina e nos Estados Unidos”, explica o economista do SRCG.
Com isso, Melo frisa que duas questões estão colocadas para o produtor rural. “De um lado, problemas de produtividade nas lavouras em função do clima e, de outro, preços baixos oferecidos na comercialização. Esse quadro sintetiza a atual situação dos preços e os problemas que o produtor rural enfrenta na atualidade”, afirma.
EXPORTAÇÃO
No primeiro mês deste ano, o destaque ficou para a celulose, seguida por soja e minério de ferro. De acordo com a Carta de Conjuntura do Setor Externo, janeiro ainda contabilizou aumento das vendas externas de minério de ferro (325,77%), ferro-gusa (294,12%), algodão (608,25%) e açúcar (60,44%).
A celulose aparece como primeiro produto na pauta de exportações, com movimentação financeira de US$ 137,535 milhões em janeiro, 20,24% do total exportado em termos de valor, e crescimento de 3,10% em relação ao mesmo período do ano passado.
No quesito volume, foram enviados 329.122 toneladas do derivado de eucalipto para fora do País, enquanto no mesmo período do ano passado foram exportados 382.164 toneladas, recuo de 13,88%.
A carne bovina foi o terceiro mais exportado, aparecendo logo depois da soja. Conforme o levantamento, no mês passado, o faturamento com as exportações do produto totalizou US$ 87,074 milhões, e o volume comercializado foi de 18.119 toneladas.
Sobre o cenário, o titular da Semadesc comemora o resultado do Estado. “Nós sabemos que o mercado estava andando meio de lado, mas, mesmo assim, nós tivemos um crescimento de exportação de 17,4% em relação a janeiro do ano passado”.
O doutor em Administração Leandro Tortosa salienta que, em janeiro, apenas os dois principais compradores de MS, China (41,07%) e Estados Unidos (8,49%), foram responsáveis por adquirir mais de metade das exportações.
Em termos de destino das exportações, a China permanece como o principal comprador de produtos de Mato Grosso do Sul, tendo sido responsável por cerca de 81% do valor total arrecadado com as vendas externas em janeiro.
Os Estados Unidos registraram um aumento de 51,1% no volume importado, em comparação com o mesmo período do ano passado, seguido pelo Japão e os Países Baixos.
BALANÇA COMERCIAL
Vindo de um número recorde, MS encerrou 2023 com o maior saldo na balança comercial de toda a série histórica, quando atingiu um total de US$ 7,56 bilhões (R$ 36,9 bilhões) exportados, este ano começou com bons números, registrando aumento de 43,4% na comparação com janeiro de 2023.
No Estado, as exportações em janeiro deste ano cresceram 17,4% em relação ao mesmo período do ano passado, saindo de US$ 578,725 milhões para US$ 679,520 milhões, com destaque para celulose, soja e minério de ferro.
Contribuindo com o sucesso da balança comercial de Mato Grosso do Sul neste ano, as importações tiveram queda de 10,6%. Enquanto em janeiro de 2023 o Estado importou US$ 278,366 milhões em mercadorias, neste ano foram importados US$ 248,895 milhões em produtos.
O resultado alcançado na balança comercial do Estado é obtido a partir do cálculo da diferença entre importações e exportações, totalizando US$ 430,6 milhões de superavit.
Com esse cenário, é possível verificar que o expressivo resultado na balança comercial do Estado teve como um dos motores o aumento nas exportações.
EXPECTATIVAS
Em análise, a expectativa é de que o ritmo intenso será mantido na atividade de exportação em Mato Grosso do Sul neste ano, com possível aumento de produção e produtividade, melhoria do ambiente de negócios local e incentivos para atrair empresas.
“É provável que as exportações de MS se mantenham em alta nos principais produtos e para os principais clientes e que surjam novas oportunidades de negócios”, avalia Staney Melo.
O economista do SRCG acrescenta que nos próximos meses deverá haver superavit em função da queda nas importações, dada a conjuntura de juros elevados no País.
“Quando o País exporta mais do que importa, consegue diversos benefícios econômicos, como a valorização de sua moeda e relativa queda de preços de bens importados, reduzindo consequentemente a inflação interna e aumentando o poder de compra de outros setores de nossa economia”, finaliza o economista.