Brasil e França negociam uso de combustível nuclear em submarino
Lula e Macron | Créditos: RICARDO STUCKERT/PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe na próxima semana o presidente da França, Emmanuel Macron, com quem deve conversar sobre uma possível cooperação da França na oferta de combustível do primeiro submarino brasileiro convencionalmente armado com propulsão nuclear. O equipamento é desenvolvido pela Marinha brasileira e vai receber o nome de Álvaro Alberto, em homenagem ao patrono da ciência, tecnologia e inovação da Marinha. A previsão de entrega é até 2033.
O submarino armado com propulsão nuclear passou a ser oficialmente projetado em 2008, com a assinatura do Prosub (Programa de Desenvolvimento de Submarinos), criado por meio de parceria estabelecida entre Brasil e França. O decreto que estabeleceu o programa prevê que o apoio francês ao Brasil será restrito à concepção e à construção “da parte não-nuclear” do submarino.
Os dois países cogitam renegociar esse trecho do decreto. “Nós acreditamos que sim, que é uma área em que talvez houvesse uma resistência no passado, mas hoje já há conversas sobre essa possibilidade, de que a França coopere conosco inclusive nesse aspecto à luz da energia nuclear, do combustível nuclear”, afirmou a embaixadora Maria Luisa Escorel de Moraes, secretária de Europa e América do Norte do Ministério das Relações Exteriores.
“Sim, é um assunto estratégico, sensível, delicado, mas sim, os dois países estão conversando sobre isso também”, acrescentou a embaixadora.
Para proteger os 8,5 mil quilômetros de costa, a Marinha investe na expansão da força naval e no desenvolvimento da indústria de defesa. Parte essencial desse investimento é o Prosub. O programa contempla três projetos: construção da infraestrutura industrial e operacional; construção e operação de quatro submarinos da classe Riachuelo (que pode realizar operações de ataque, esclarecimento e especiais); e construção e operação do primeiro submarino convencionalmente armado com propulsão nuclear.
“O programa viabilizará a produção de quatro submarinos convencionais, que se somarão à frota de cinco submarinos já existentes. E culminará na fabricação do primeiro submarino brasileiro com propulsão nuclear”, diz a Marinha.
Lançamento de submarino
O presidente francês desembarca em Belém (PA) na próxima terça-feira (26) e segue no dia seguinte para Itaguaí (RJ), onde participa ao lado de Lula do lançamento ao mar do Tonelero, um submarino convencional com propulsão diesel-elétrica. O equipamento foi construído pelo Prosub.
Segundo a Marinha, o Tonelero tem 71 metros de comprimento e possui deslocamento submerso de 1.870 toneladas. Depois de colocado na água, o submarino será submetido a testes para avaliar as condições de estabilidade no mar e os sistemas de navegação e de combate.
A Marinha lançou outros dois submarinos feitos pelo Prosub: o Riachuelo e o Humaitá. Estão previstas a entrega de mais um submarino convencional, o Angostura, e a fabricação do Álvaro Alberto. De acordo com a Marinha, isso “representará uma elevação sem precedentes” no patamar tecnológico da defesa nacional.
Defesa da costa
A defesa da costa marítima brasileira é feita pelos submarinos e pelo conjunto dos meios aeronavais e de fuzileiros navais. A medida demanda atuação diuturna da Marinha, que utiliza os equipamentos em zonas de patrulha definidas de acordo com uma análise operacional definida previamente. As informações da ação na ponta são classificadas como de inteligência e não são divulgadas. O Exército e a Aeronáutica também fazem esse trabalho.
Os submarinos convencionais, de propulsão diesel-elétrica, têm capacidade de ocultação limitada, uma vez que necessitam se posicionar próximo à superfície do mar. Por meio de equipamento especial, o esnórquel, o equipamento aspira o ar na superfície para permitir a renovação do ar ambiente e o funcionamento dos motores a diesel para recarregar suas baterias.
O veículo se torna vulnerável quando está com partes expostas acima d’água – podendo ser detectados por radares de aeronaves ou navios. Para limitar a exposição, devem economizar energia ao máximo, o que limita a mobilidade.
Para os nucleares, a fonte de energia é um reator nuclear, cujo calor gerado vaporiza água, possibilitando o emprego desse vapor em turbinas. As turbinas podem acionar geradores elétricos ou o próprio eixo propulsor. Em qualquer caso, produzem toda a energia necessária à vida a bordo.
Diferentemente dos submarinos de propulsão diesel-elétrica, os nucleares dispõem de elevada mobilidade. Por possuírem fonte virtualmente inesgotável de energia, podem ficar submersos por tempo ilimitado. A capacidade de desenvolver altas velocidades permite que sejam empregados segundo uma estratégia de movimento que proporciona elevada dissuasão, informou a Marinha.
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