Na tentativa de agradar ideológicos, militares e evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro tem adiado a sua decisão para indicar o novo ministro da Educação. O cargo está vago há 20 dias desde que Abraham Weintraub deixou o governo sob pressão. Enquanto isso, candidatos ao posto se movimentam nos bastidores em busca de apoio político e de entidades educacionais que possam ajudar na escolha do presidente.O presidente da Republica, Jair Bolsonaro fala ao telefone ao caminhar da biblioteca para area dos aposentos, no salao principal do Palacio da Alvorada.  © DIDA SAMPAIO/ESTADAO O presidente da Republica, Jair Bolsonaro fala ao telefone ao caminhar da biblioteca para area dos aposentos, no salao principal do Palacio da Alvorada. Auxiliares do Planalto evitam determinar uma data para o anúncio do novo titular da Educação, mas Bolsonaro, diagnosticado com a covid-19, já fez as últimas entrevistas para o cargo e faz as derradeiras análises antes de indicação. De acordo com assessores próximos, o presidente reconhece que não há mais chances para errar.O mais recente cotado é o ex-vice reitor da Universidade Mackenzie, Milton Ribeiro. Pastor presbiteriano em Santos (SP) e doutor em Educação, ele conversou por videoconferência na terça-feira, 7, com o presidente. Momentos antes da reunião virtual, Bolsonaro indicou, sem mencionar nome, que falaria com um “candidato do Estadão de São Paulo” e que ele “talvez” fosse o escolhido.

No ano passado, Ribeiro foi indicado por Bolsonaro para integrar a Comissão de Ética da Presidência (CEP). A sugestão para quw ele seja o novo comandante do MEC é atribuída ao ministro-chefe da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira. A chancela de Oliveira tem sido determinante para nomeações no governo.

Apesar de pastor, Milton Ribeiro não agrada a todos os evangélicos. “No segmento evangélico o Mackenzie é a pior referência conservadora que eu conheço. De todo o ensino confessional, é o menos conservador”, disse o deputado federal Sóstenes Calvante, que quer ver nomeado o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Correia. Ex presidente da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), ele é membro da Igreja Batista e teria o apoio de parte de militares.

O pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, admite a torcida por Correia, mas diz que para ele não faz diferença que o novo ministro seja evangélico. O religioso tem telefonado ao presidente para passar sua opinião sobre os rumos da Educação no País. “Meu candidato é aquele que seja competente e alinhado ideologicamente com o presidente, seja ele evangélico ou não. Nunca me preocupei com isso”, disse Malafaia ao Estadão.

Apontado pelo presidente como “reserva” para o cargo de ministro, o líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-SP), vem buscando apoio de parlamentares para assumir o posto e tem se apresentado a integrantes de entidades educacionais, como a a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e a Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif).

O major Vitor Hugo em entrevista exclusiva ao Estado © Dida Sampaio/Estadão O major Vitor Hugo em entrevista exclusiva ao EstadoIntegrante da Comissão da Educação, o deputado federal Felipe Rigoni (PSB-ES) pondera que o líder pode ser considerado um avanço no MEC por ter capacidade de diálogo. “Ele não tem experiência na área e é um defensor do governo, mas ele ouve e dá para dialogar. Comparando com o que tínhamos vamos ter um grande avanço”, disse Rigoni. “É bom nome, técnico e é preparado para o cargo. Vitor Hugo é bom, faria uma boa parceria com parlamento e o presidente Jair Bolsonaro”, líder do Republicanos, Jhonatan de Jesus.

A ida de Vitor Hugo para o MEC é de interesse também de parte do Centrão que quer assumir a liderança do governo na casa. Bolsonaro, no entanto, resiste em tirar o aliado do posto sem encontrar uma nova posição. O parlamentar é considerado de extrema confiança do presidente. Caso a liderança fique vaga, o nome mais especulado para o cargo é do deputado federal Ricardo Barros (Progressistas-PR).

Segue correndo por fora o secretário-executivo do MEC, Antonio Vogel, que tenta se cacifar para ser efetivado como ministro. A divulgação da nova data nesta quarta-feira, 8, deverá ser usada para se promover como um nome competente para fazer entregas e e diálogo com secretários estaduais, universidades públicas e privadas. Eles espera também o apoio da bancada da educação.

Presidente da Comissão da Educação na Câmara, o deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-BA) critica a indecisão do presidente. “Acho que nem Bolsonaro sabe para que lado vai. Total descaso com a educação”, disse.

Na terça-feira, 7, Bolsonaro disse que tem recebido “excelente currículos”, mas muitos candidatos “declinam e outros pedem tempo para pensar” ao serem apresentados aos problemas da pasta.

Foram avaliados para o cargo Sérgio Sant’Ana, ex-assessor de Weintraub, e Ilona Becskeházy, secretária de Educação Básica do MEC. Há ainda o evangélico Benedito Guimarães Aguiar Neto, que foi reitor da Universidade Mackenzie e hoje é presidente da Capes. Na segunda-feira, Bolsonaro também recebeu o reitor da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Aristides Cimadon.

Ministério da Educação está sem um titular desde a saída de Abraham Weintraub, anunciada no dia 18 de junho. Bolsonaro chegou a nomear o professor Carlos Alberto Decotelli, ex-presidente do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE). Cinco dia depois, no entanto, ele pediu demissão após informações falsas serem apontadas em seu currículo.

Na última quinta-feira, 3, Bolsonaro convidou para o MEC o secretário estadual de Educação do Paraná, Renato Feder, que havia aceitado. Entretanto, com a divulgação o convite, Feder passou a ser alvo de fritura de grupos ideológicos, evangélicos e até militar. No domingo, 5, o secretário usou as redes sociais para rebater as críticas e disse que declinou a proposta do presidente.

Também na terça-feira, o opresidente se negou a dizer se tinha um preferido para o posto. “Não posso falar. O mundo cai na cabeça do favorito. Todo mundo vai para cima dele até o que ele fez quando ele tinha 5 anos”, destacou. / COLABOROU CAMILA TURTELLI