Bolsonaristas ainda veem “perseguição” e não acreditam na melhora econômica
Contrários ao resultado das eleições, seguidores de Bolsonaro durante protesto em frente ao CMO – MARCELO VICTOR/arquivo
No caso do levantamento do IPR/Correio do Estado, os bolsonaristas da Capital, que representam 31,84% da população, têm uma perspectiva muito negativa, prevendo que este ano será pior do que 2023, com aumento desemprego e falta de renda.
Entre os 51,74% dos entrevistados que esperam um ano melhor para suas finanças, 40,63% afirmaram ser bolsonaristas, enquanto entre os 27,86% que consideram que este ano será pior, 40,63% são bolsonaristas. Entre os que consideram que este ano será igual a 2023, 17,97% são bolsonaristas.
A polarização política, conforme análise do diretor do IPR, Aruaque Fressato Barbosa, pesa nessa avaliação do tema em razão das diferentes perspectivas.
“Quando a gente separa entre bolsonaristas e petistas, os bolsonaristas têm uma perspectiva muito negativa em relação ao ano que vem [2024]. Acreditam que será um ano pior, vai aumentar desemprego, não vai gerar renda”, explicou Aruaque Barbosa.
LEMEP/INCT
Já no caso do Lemep e do INCT, que acompanharam dois grupos, com 18 integrantes cada, divididos entre eleitores que votaram em Bolsonaro no segundo turno de 2022 que discordam das invasões aos Poderes de 8 de janeiro do ano passado (moderados) e eleitores que defendem os atos golpistas (convictos).
Desde que Bolsonaro ficou inelegível por oito anos por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em junho de 2023, os entrevistados são unânimes em afirmar que o ex-presidente é “insubstituível” e têm a expectativa de que ele reverta sua inelegibilidade, concorrendo em 2026.
Também apontam que o “efeito teflon” em relação a Bolsonaro continua forte, amparado na narrativa de que há uma “perseguição” movida pela esquerda e por instituições do Estado, isso tanto para o grupo de bolsonaristas moderados quanto para o de convictos.
O sentimento se repete quando os entrevistados são confrontados com investigações que miram Bolsonaro, como o caso que apura se houve desvios de joias, relógios, esculturas e outros itens de luxo recebidos pelo ex-presidente como representante do Estado brasileiro.
Os hábitos de consumo de informação são centrais para explicar esse comportamento, pois os moderadores tendem a ter uma abertura maior para a imprensa tradicional, o que não costuma ocorrer entre os convictos, mais restritos a veículos simpáticos ao bolsonarismo.
As pesquisas contínuas do Lemep e do INCT mostram que há dificuldade na comunicação com os grupos mais próximos a Bolsonaro. A dúvida é até que ponto é possível fazer um retorno ao chamado “voto econômico”, mais pautado por resultados em áreas da economia.
ALERTAS
Entre os bolsonaristas monitorados, foram raros os tópicos que geraram em 2023 manifestações de apoio às ações de Lula.
Uma das perguntas feitas pelos pesquisadores reforça o desafio, pois mesmo dados positivos, como a queda da taxa de desemprego, não geram reação positiva e há desconfiança em relação aos dados apresentados, classificados pela maioria como uma “propaganda enganosa” e que é possível ver o “aumento de pessoas pedindo dinheiro ou comida nas ruas”.
Outro alerta é que o sentimento anti-instituições segue com adesão tanto no grupo convicto quanto no moderado quase um ano depois dos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023.
No segundo semestre do ano passado, discursos com ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) apareceram, por exemplo, em falas de participantes da pesquisa em perguntas sobre a proposta de limitar decisões monocráticas (individuais) aprovada no Senado ou sobre as manifestações contrárias à indicação de Flávio Dino como ministro do Supremo.
Segundo a pesquisa do Lemep e do INCT, foi possível perceber isso mesmo entre os moderados. Os bolsonaristas são organizados, mas perderam muito a capacidade de mobilização e, mesmo com essa vontade, não tomam atitude em relação a isso, como ir para a rua protestar.
Maioria da população da Capital é neutra
Ao contrário do que muitos moradores de Campo Grande pensam, a maioria da população da Capital não se declara apoiadora do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou do atual presidente Lula (PT). Conforme pesquisa realizada pelo IPR, 56,47% dos entrevistados se declararam neutros, enquanto 31,84% falaram que são bolsonaristas e 11,19% disseram que são lulistas.
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