Balanço: pesquisadores relatam desafios com altitude e tecnologia em expedição
Professores que fizeram parte da expedição Rila (Foto: Redes sociais)
Foram 11 dias de Expedição Rila (Rota de Integração Latino-Americana) identificando situações que ainda precisam avançar no caminho de quase 2,5 mil km entre Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. Agora professores da UniRila, universidade criada para estudar o corredor bioceânico seguem com os trabalhos em torno do assunto e claro, com relatórios sobre problemas a serem resolvidos para a inauguração, daqui há dois anos, da “Rota 67” como também é chamado o trajeto.
Ao todo, 28 pesquisadores de instituições públicas e particulares participaram da viagem que terminou esta semana, entre eles a professora doutora Alessandra Machado, dos cursos de medicina e enfermagem da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul). Ela atendeu 11 pessoas que durante a expedição sentiram os efeitos da altitude em território Chileno, na Cordilheira dos Andes.
Alguns dos viajantes tiveram dor de cabeça, náusea, queda de pressão e até desmaiaram. “Até gente que está acostumada a praticar esportes passou mal. Na aduana da Argentina com o Chile tem um serviço de emergência, mas é preciso haver mais pontos e atendimento e telefones de emergência ao longo do caminho”, conta.
Expedição Rila (Foto: Rede Social)
A pesquisadora destaca que além das condições para as cargas do trajeto, é preciso cuidar dos responsáveis por conduzi-las. “Quando a gente pensa na rota, logo lembramos de transporte e os primeiros nesta cadeia são os profissionais da área, caminhoneiros. Eles têm alto índice de doenças cardiovasculares. É preciso prevenir também doenças como colesterol, diabetes, hipertensão. A saúde tem que estar em dia para enfrentar a baixa altitude”, diz.
Outra dificuldade encontrada é a falta de sinal de internet em vários pontos da viagem. A professora doutora Vanessa de Moraes Weber é diretora de informática da Uems e na expedição percebeu como a área de tecnologia precisa avançar.
“Durante a viagem disseram que por vezes, chegam a passar 40 pessoas ao dia na Alfândega. Com a expedição éramos 100 pessoas em questão de horas e vimos as dificuldades. Podemos pensar em aplicativos, por exemplo, para agilizar o processo. As pessoas incluem dados para serem conferidos pela fiscalização”, explica acrescentando que “startups” podem ser acionadas para ajudar no desenvolvimento de tecnologias.
O professor doutor Lúcio Flávio Joichi Sunakozawa do curso de direito da Uems, faz estudos sobre questões jurídicas da Rota e destaca avanços necessários na parte aduaneira. “Temos um tratado para este território desde 1991 que deixou o Centro-Oeste Sul-americano de lado. As grandes forças do Mercosul foram voltadas para Argentina e Chile, que já têm um comércio internacional muito intenso e estão preparados para o transporte nas Cordilheiras. Precisamos através dos governos fazer a harmonização das normas internacionais, inclusive acionar o Parlasul para não sofrermos com entraves burocráticos”, explica.
Expedição Rila (Foto: Rede social)
Durante a expedição, a UniRila lançou três livros nas versões português, inglês e espanhol. Também ficou clara a dificuldade de comunicação. “A língua ainda é um grande empecilho na rota e o espanhol foi tirado da grade das escolas brasileiras. Acho que precisamos repensar isso”, disse o professor doutor Ruberval Franco Maciel, coordenador da Universidade.
Por outro lado o professor também aproveita para comemorar os avanços em 6 anos de UniRila. “Há uma grande troca de conhecimento. Temos trabalhos em coautorais com professores de outros países da rota. Estamos em fase de amadurecimento. Na Argentina, por exemplo, tem deficit de doutores. É melhor fazer o doutorado com a gente do que na Europa”, detalha.
O professor doutor Fábio Ayres, do curso de Geografia da Uems e coordenador do Centro de Estudos de Fronteira e Territórios, define a viagem pela rota da seguinte forma “Saímos de um cerrado, passamos pelo Chaco (região alagada), entramos na Cordilheira e chegamos ao deserto. Nestas mudanças de paisagem existem muitas comunidades. Algumas convivendo com grandes mananciais de água e outras com escassez hídrica. Podemos trocar informações sobre tecnologias”, ressalta.
E complementa: “Em Assunção por exemplo, tem universidade com mais de 150 anos. A cidade de Jujuy, na Argentina tem quase 500 anos, quase duas vezes a idade no nosso País e vimos projetos exitosos. Existem desafios, mas também a possibilidade de muita troca.
– CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS