Ao lançar livro, filha de Cunha compara pai a Lula e quer suspeição de Moro

Danielle Cunha, filha mais velha do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, afirma que, assim como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu pai foi perseguido politicamente pelo ex-juiz Sergio Moro, que lhe condenou a 15 anos de prisão. Mesmo tecendo duras críticas ao PT, de quem o ex-deputado é inimigo visceral, ela considera que o julgamento do caso de Lula no STF (Supremo Tribunal Federal) revelou uma grande perseguição a pesos pesados da política.

As críticas foram feitas em entrevista ao Poder360, concedida em função do lançamento do livro “Tchau, querida, diário de um impeachment”, neste sábado (17.abr.2021). Para ela, Moro foi “ainda mais suspeito” ao julgar seu pai do que o manda-chuva petista.

“Moro foi ainda mais suspeito com Cunha que com Lula. Esperamos que seja julgado da mesma forma. Se há suspeição, é suspeito. Ponto”, diz Danielle

Ela afirma que se o pai dela ainda estivesse na política, apoiaria o atual presidente, Jair Bolsonaro. Não porque concorde em tudo com ele, mas sobretudo como forma de manter o PT longe do poder. Apesar do apoio da família ao chefe do Executivo, ela critica a atuação do governo federal em algumas áreas, em especial com relação à pandemia.

“Houve erro na condução do início da pandemia e até perante a população. É verdade que emprego e renda não podem parar, mas não pode fingir que não há pandemia, diz.

Danielle também reclama da atuação do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), principal adversário de Bolsonaro que atua com mandato atualmente. “Fala-se muito do Brasil, mas se olha para São Paulo, por exemplo, Doria abriu uma trincheira. Foi dos primeiros a trazer a vacina, ok. Mas se São Paulo fosse 1 país, seria o 11º do mundo no número de mortes”. 

Ao falar sobre o estado de saúde do pai, recorre a uma metáfora: “Meu pai é um leão, mesmo encarcerado”.

Ao longo da conversa, ocorrida por aplicativo de chamada por vídeo, ela tomava água em uma xícara com a famosa frase de Lula para Dilma: “Adeus, querida”.

Publicitária, ela foi o braço direito de Eduardo Cunha para escrever o livro. Houve método. Não à toa são mais de 800 páginas de relato sobre aqueles dias que antecederam o término do ciclo petista de 13 anos a frente do governo. Confira os principais trechos da conversa.

SUSPEIÇÃO

Há chances de revisão do processo. No que tange à suspeição do Sergio Moro também temos um processo de suspeição aguardando julgamento. Mas as mensagens da Vaza Jato, o Lewandowski (ministro do STF) nega aceso para a gente. Só que no que a defesa do Lula divulgou, já tem tanta coisa aberrante contra ele, já mais que suficiente para mostrar que o Moro foi mais suspeito com o Cunha que com o Lula. Esperamos que seja julgado da mesma forma, se há suspeição, há suspeitas.

SAÚDE

Meu pai é um leão. É muito altivo. Dizer que está saltitante, não está. Não está dando saltos triplos de felicidade. Passou por problemas de saúde, teve problemas graves. Tornou a ser hospitalizado e passou por cirurgias. Mas está bem, sim. É uma pessoa de hábitos e rotinas simples. É muito estudioso. Sabe dos processos. Dá muito trabalho para os advogados. E está confiante.

BOLSONARO

Há aspectos positivos. É muito importante contextualizar a fala dele [de Eduardo Cunha, em entrevista à Folha de S.Paulo]. Quando coloca isso [apoio ao presidente], de forma alguma está tentando denegrir o presidente. O contexto é que o PT não pode estar no poder. Logo, se estivesse na politica, sim, seria um apoiador. O segundo ponto é que as pessoas não deram a Bolsonaro a oportunidade de ter governabilidade. Falando sobre a opinião dele sobre a pessoa Bolsonaro, ele acredita que sim, ele comete seus erros. Mas talvez esteja mais na forma de comunicar do que naquilo que é propriamente realizado. Além de que nunca na história houve um presidente tão enfrentado pela mídia como ele é.No fim, ninguém sabe se estava certo ou errado. É tão descaracterizado que impede a governabilidade. Ele foi mal assessorado. Pessoas no entorno estão preocupadas em legislar em causa própria. Acho que ele amadureceu muito no governo. No final, é isso: houve melhoras. Há críticas, mas acima de tudo, os que o elegeram, deem a chance de governar.

PANDEMIA

As pessoas falam muito do Brasil, mas se você olha São Paulo, por exemplo, sobretudo pelo papel do Doria, que abriu uma trincheira política. Foi dos primeiros a trazer a vacina, ok. Mas se São Paulo fosse 1 país, seria o 11º do mundo no número de mortes. E o Brasil está se vacinando. Se comparar com números da Europa, eu não tenho aqui, mas a porcentagem, o número de mortes e vacinados não está tão díspar. Houve erro na condução do início da pandemia e até perante a população. Emprego e renda não podem parar, mas não pode fingir que não há pandemia. 

FUTURO

Ele [Eduardo Cunha] está inelegível até 2026. Não sabemos o dia de amanhã. Primeiro quer cuidar da situação jurídica dele e mostrar o que em anos não conseguiu mostrar. Por exemplo, ele teve a gestão mais produtiva da história. Numericamente, um presidente nunca foi tão produtivo quanto naquela gestão. Houve cortes nos gastos, havia presença de parlamentares, os temas eram votados, temas polêmicos, como terceirização de mão de obra, por exemplo. Foi um excelente gestor.

MÉTODO

Tive alguns papéis na criação do livro. O 1º foi justamente porque convivi com meu pai e estive ativa em Brasília na época. Acabei sendo uma peça participante. O 2º, quando ele vai preso, acabo fazendo o confronto de informação. Daí começamos. Fizemos o clipping de todos os jornais da época e confrontamos com a agenda oficial. E acrescentamos o bastidor. Fiz a pesquisa e a parte de entrevistas. A concepção é dele. A memória é dele. Ali, meu papel foi um papel de suporte. Acabei escrevendo junto dele. Relembrando de fatos. Foi uma forma de construir um relato bem detalhado.

fonte: Poder360

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