A FAMÍLIA EM NOSSA ESCALA DE VALORES – LUCIANO SUBIRÁ
A escala de valores de muitos cristãos está desordenada. Alguns estão vivendo de modo desordenado porque não fazem a menor ideia do que as Escrituras ensinam a respeito do assunto; outros porque, mesmo tendo os valores e prioridades devidamente ordenados no conceito mental, não conseguem mantê-los na prática.
Para quem deseja viver no lugar correto de importância à família atribuída por Deus, a primeira coisa a ser feita é conhecer a escala de valores do ponto de vista de Deus, ou seja, aquilo que a Bíblia ensina. Depois, é lutar para fazer funcionar.
DEUS EM PRIMEIRO LUGAR
Não há nada, absolutamente nada, que possa ocupar o primeiro lugar de nossas vidas, a não ser Deus. O mandamento dado a Moisés foi lembrado e enfatizado pelo próprio Senhor Jesus:
“Aproximou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, percebendo que lhes havia respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses” Marcos 12.28-31
Amar ao Senhor de todo o nosso coração, alma, entendimento e forças, é colocá-lo em primeiro lugar nas nossas vidas. Jesus deixou bem claro a qualquer que quisesse segui-lo como discípulo, que deveria reconhecê-lo em primeiro lugar em suas vidas, na frente das pessoas que normalmente nos são as mais amadas e queridas:
“Se alguém vier a mim, e não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também à própria vida, não pode ser meu discípulo Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. Assim pois todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo” Lucas 14.26,27 e 33
O Senhor deve estar à frente dos pais, cônjuge, filhos e qualquer outro familiar. Ele deve ser o primeiro valor em nossa lista ou escala de prioridades. Deve vir antes de nossa própria vida. Deve vir antes de nossos bens ou qualquer outra coisa. Quando falamos sobre Deus vir antes, não é porque as outras coisas não têm mais lugar em nossas vidas; apenas elas vêm depois.
Por exemplo, se o meu cônjuge, incomodado com minha fé me dá um ultimato e me manda escolher entre ele ou o Senhor, me disponho a sacrificá-lo e ficar com Deus, pois Deus é o maior valor de minha vida. Mas se, mesmo não sendo cristão, meu cônjuge não se importa que eu busque ao Senhor, então ele passa a ser meu segundo maior valor ou prioridade (1 Co 7.12,13). O primeiro lugar de nossa vida, indiscutivelmente, é de Deus:
“Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” Mateus 6.33
Repetindo: isso não quer dizer que as outras coisas não caibam em nossas vidas; tão somente que elas vêm depois de Deus.
FAMÍLIA EM SEGUNDO LUGAR
Muita gente tem errado ao pensar que a igreja ou o ministério vem logo depois de Deus. Na verdade, a família vem em segundo lugar. Conheci, quando ainda era um adolescente, uma senhora (do interior de São Paulo) que disse que Deus a chamou para uma missão e desapareceu de casa por mais de um mês. Quando os irmãos da congregação perceberam o que estava acontecendo, tiveram que cuidar dos filhos dessa mulher, que não tinham o que comer e nem vestir. O marido estava furioso porque roupas chegaram a apodrecer no tanque enquanto a família aguardava ansiosa o término da “missão”. Isto é um absurdo! Uma
mulher dessas, ainda que se intitule missionária, não conhece a Bíblia. Até no caso de diminuir a intensidade do contato físico para se dedicar à oração, o casal deve estar em acordo (1 Co 7.5). Mas aquela mulher não consultou seu marido, e apenas disse: “Deus me chamou e eu estou indo”. E ainda por cima, dizia que o marido é que era um carnal ao ponto de não discernir a voz de Deus.
Como declarou D. L. Moody, o grande evangelista: “Acredito que a família foi estabelecida muito antes da igreja, e o meu dever é primeiro a minha família. Não devo negligenciar minha família”. Veja o que as Escrituras ensinam acerca do lugar da família na nossa escala de valores:
“Mas, se alguém não cuida dos seus, e especialmente dos da sua família, tem negado a fé, e é pior que um incrédulo” I Timóteo 5.8
Não há dúvida de que a família é nossa segunda prioridade depois de Deus. Se alguém negligenciar sua família por causa da igreja, do ministério, ou de qualquer outra coisa, por mais “espiritual” que pareça, estará contra a Palavra de Deus. Paulo disse que tal pessoa está negando a fé e é pior do que um incrédulo. Agora veja, o apóstolo estava falando com os crentes que iam à igreja mas estavam negligenciando o lar. Logo, concluímos que a família vem antes da igreja na nossa escala de valores. Há um outro texto que mostra claramente a família como uma prioridade antes da igreja e do ministério. É o conselho pastoral que Paulo queria estender a todos os ministros debaixo da supervisão de Timóteo:
“É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher,..que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)” 1 Timóteo 3.2,4 e 5
Observe que o homem de Deus deve ser exemplar quanto à sua família. Fiel à sua esposa, e governando bem sua casa e seus filhos; caso contrário não poderá cuidar de igreja e ministério.
A Palavra de Deus não deixa a menor sombra de dúvida quanto ao lugar que nossa família deve ter na nossa escala de valores. Mas muitos cristãos têm negligenciado a sua família. Muitos pais que não dão tempo e atenção aos seus filhos se queixam de vê-los desviados, mas não se apercebem que estão andando em desordem. Há esposas perdendo seus maridos e vice-versa, porque não os colocaram no lugar certo na sua escala de valores. É hora de ordenarmos nossos passos e darmos atenção, honra e dedicação devidas à família.
TRABALHO EM TERCEIRO LUGAR
É impressionante a facilidade com que nos levamos aos extremos. De um lado, temos na igreja pessoas que são viciadas em trabalho e cujas vidas não estão em ordem, pois desrespeitaram a escala bíblica de valores pondo o trabalho em primeiro lugar. De outro, temos aqueles que relegaram ao trabalho o último lugar na sua escala de valores, ou que nem mesmo colocam o trabalho em suas prioridades.
Quando a Bíblia fala daquele que não cuida da sua família sendo pior do que o descrente (1 Tm 5.8), está falando, no contexto, sobre sustento material, sobrę provisão das necessidades físicas. Um cristão que não leva a sério o trabalho, ao ponto de deixar sua família passar necessidade, está violando os dois valores mais importantes que vem logo depois de Deus.
O trabalho é uma ordem bíblica. É o meio do homem sustentar sua casa e viver dignamente. Além disso, por meio do seu ganho ele também poderá servir ao reino de Deus e ao necessitado:
“Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” Efésios 4.28
A Bíblia também diz que aquele que não trabalha está andando desordenadamente, fora do plano divino:
“Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: Se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados de que entre vós há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo que, trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão” 2 Tessalonicenses 3.10-12
O mandamento de Deus é claro: quem não trabalha, não deve ser sustentado pelos outros. Cada homem tem a obrigação e a responsabilidade de se envolver com o trabalho; isto não apenas o proverá quanto às suas necessidades, mas ocupará corretamente o seu tempo, livrando-o de outros problemas. Paulo se orgulhava de nunca ter sido um peso para ninguém, e suas próprias mãos (seu trabalho) terem lhe provido o sustento (Atos 20.34)
Mesmo quando Deus chama alguém para o ministério de tempo integral – o que também é trabalho – deve-se ter a sensibilidade de reconhecer que, em determinados momentos, devido à falta de recursos, nada há de errado em se trabalhar em uma outra área até que a condição de sustento mude – foi isto o que aconteceu com Paulo em Corinto (At 18.1-5).
Na vida dos que se dedicam de tempo integral, o ministério se enquadra na prioridade “trabalho”. Jesus ao enviar seus discípulos para pregar e ministrar ao povo, aplicou a eles o termo “trabalhadores” e mencionou seu direito de salário, que é a recompensa legítima do trabalhador (Mt 10.7-10).
Alguns estudantes crentes não sabem onde devem colocar seus estudos nessa escala. Considerando que o estudo é um meio de profissionalização e preparo para melhores trabalhos, deve ser colocado no mesmo lugar que trabalho. Porém, algumas famílias conseguem manter seus filhos somente estudando sem que trabalhem, mas a maioria não. Portanto, devemos aconselhar e encorajar nossos jovens que enfrentem a correria de exercer as duas atividades, pois, independentemente da necessidade financeira, o trabalho engrandece e amadurece a pessoa.
Se dermos o valor devido a cada uma destas atividades, mantendo-as em ordem na escala de valores e respeitando esta ordem em nosso dia a dia, deixaremos de ter muitos dos problemas que já tem nos incomodado. O trabalho tem o propósito de servir ao cuidado familiar; mas requer muita atenção e equilíbrio de nossa parte, uma vez que alguns, por se dedicar demais ao trabalho, acabam perdendo a própria família da qual deveriam cuidar, enquanto outros, por sua vez, negligenciam o cuidado básico. Texto extraído do livro “O Propósito da Família”