Após 26 anos de fuga, polícia francesa prende suspeito de financiar genocídio em Ruanda
Suspeito do genocídio em Ruanda, Felicien Kabuga, foi preso neste sábado (16), perto de Paris, após 26 anos em fuga, informou o Ministério da Justiça.
Kabuga é considerado o “tesoureiro do genocídio de Ruanda” e um dos principais réus ainda procurados pela Justiça internacional. As informações foram publicadas pela agência AFP.
Kabuga, de 84 anos, é acusado de ter criado as milícias Interahamwe, o principal braço armado do genocídio de 1994 que causou em torno de 800 mil mortes, segundo números da Organização das Nações Unidas (ONU).
Ele vivia com identidade falsa em um apartamento de um prédio residencial em Asnieres-Sur-Seine, quando foi preso. Kabuga estava com um de seus filhos, que não foi detido.
Olivier Olsen, chefe da associação de proprietários de imóveis no prédio onde ele morava, descreveu Kabuga como “alguém muito discreto … que balbuciava quando alguém o cumprimentava”.
Kabuga morou no prédio por três ou quatro anos e tinha problemas para caminhar.
Felicien Kabuga foi indiciado em 1997 por sete acusações criminais, incluindo genocídio, cumplicidade em genocídio e incitação a cometer genocídio, todas em relação ao massacre de 1994 em Ruanda.
Ele é alvo de um mandado de prisão por parte do Mecanismo para Tribunais Penais Internacionais (MTPI), a estrutura encarregada de concluir os trabalhos do Tribunal Penal Internacional para Ruanda.
Sua detenção mostra que “os responsáveis pelo genocídio podem ser responsabilizados, mesmo 26 anos após seus crimes”, disse o promotor do MTPI, Serge Brammertz, em um comunicado.
Kabuga passará por um processo de extradição diante de uma câmara do Tribunal de Apelações de Paris. Este órgão decidirá sua entrega ao MTPI do Tribunal Internacional de Haia para julgamento.
Os dois principais grupos étnicos de Ruanda eram os hutus e os tutsis, que travaram uma guerra civil no início dos anos 90.
Em 1994, Félicien Kabuga fazia parte do círculo próximo ao presidente ruandês, Juvénal Habyarimana, cujo assassinato em 6 de abril de 1994 provocaria o genocídio. Uma das filhas de Kabuga era casada com um filho de Habyarimana.
Kabuga presidiu a Rádio Televisão Free Thousand Hills (RTLM), que transmitia convocações para assassinar os tutsis, e o Fundo de Defesa Nacional (FDN), que coletava “fundos” para financiar a logística e as armas dos milicianos hutus Interahamwe, de acordo com a ata de acusação do TPIR.
Kabuga era um dos principais acusados foragidos, junto com Protais Mpiranya, que dirigia a guarda do então presidente ruandês, Juvénal Habyarimana, e o ex-ministro da Defesa Augustin Bizimana. Ambos ainda são perseguidos pela justiça internacional.