Brasileira cria técnica para cultivar tomates, ervilhas e cenouras em Marte; conheça
Rebeca Gonçalves | Créditos: Foto: Arquivo pessoal
A pesquisadora brasileira Rebeca Gonçalves, anteriormente associada à Wageningen University & Research (WUR) na Holanda, publicou em maio um estudo inovador na revista científica Plos One, que investiga a viabilidade da técnica de policultura — que combina diversos vegetais em um único cultivo — para a agricultura em Marte .
O estudo, liderado por Gonçalves como primeira autora, testou o cultivo de tomates, ervilhas e cenouras, tanto isoladamente quanto em combinação, em diferentes tipos de substratos: simulador de regolito marciano, areia e solo de vaso.
A policultura é uma técnica bem estabelecida na agricultura terrestre, conhecida por aumentar a produtividade e promover a saúde do solo. No entanto, sua eficácia em ambientes extraterrestres ainda era desconhecida. Este experimento, o primeiro do tipo a usar um simulador de regolito marciano criado pela NASA, visava determinar se a policultura poderia ter um desempenho melhor em Marte do que o cultivo monocultural.
Os resultados foram promissores. Os tomates cultivados em sistemas de policultura apresentaram o dobro da produção de frutos, amadureceram mais cedo e mostraram plantas mais vigorosas.
“Ficamos muito satisfeitos com esses resultados, pois conseguimos demonstrar que a técnica de policultura pode ser eficaz para uma das três espécies testadas em um ambiente simulando Marte,” afirmou Gonçalves à Folha de São Paulo.
Apesar dos avanços, o estudo revelou desafios significativos. Transformar um solo estéril, como o regolito marciano, em um meio adequado para o crescimento de plantas é complexo, principalmente devido à ausência de bactérias que realizam a fixação de nitrogênio. Os pesquisadores tentaram introduzir essas bactérias, mas encontraram dificuldades para sua sobrevivência, um fator atribuído ao uso de potes profundos para os plantios.
A equipe planeja realizar mais experimentos para refinar os parâmetros e melhorar a eficiência do cultivo, com potencial aplicação tanto em Marte quanto na Lua, e até mesmo na Terra. Gonçalves enfatiza que as tecnologias desenvolvidas para regeneração de regolito marciano ou lunar têm aplicações diretas na recuperação de solos degradados na Terra. Este aspecto é particularmente relevante, dado que cerca de 40% dos solos férteis do planeta já foram degradados, em grande parte devido a mudanças climáticas e práticas agrícolas insustentáveis.
Atualmente, Rebeca Gonçalves, atuando como consultora para a Agência Espacial Brasileira (AEB), está envolvida em um projeto para possibilitar a agricultura na Lua, em colaboração com a Embrapa. Esse projeto faz parte do programa Artemis da NASA, que visa o retorno tripulado à Lua até o final da década. O objetivo é desenvolver sistemas agrícolas que possam sustentar futuras colônias lunares, ampliando as fronteiras da agricultura espacial.