Criticado, novo Ensino Médio segue sem mudanças neste ano

Estudantes seguirão com mesma grade curricular do ano passado – Foto: Gerson Oliveira

Amplamente criticada por professores e alunos da Rede Estadual de Ensino (REE), a metodologia do novo Ensino Médio, que vem sendo implementada desde 2020, permanecerá a mesma neste ano.

Ao Correio do Estado, o coordenador do Novo Ensino Médio no Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed) e titular da Secretaria de Estado de Educação (SED), Hélio Queiroz, explicou que não há possibilidade de mudanças no novo Ensino Médio durante este ano letivo.

“O projeto de lei que está em tramitação na Câmara dos Deputados chegou a estar em regime de urgência, mas o Ministério da Educação pediu para que fosse retirado desta categoria. Qualquer mudança que for aprovada para o novo Ensino Médio neste ano só vai passar a ter validade a partir de 2025”, declarou o titular da SED.

Já o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deve continuar avaliando o conhecimento transmitido conforme a metodologia antiga, o que aumenta a possibilidade de mau desempenho tanto dos estudantes quanto das escolas públicas no exame, cuja nota é porta de entrada para várias universidades públicas, por meio do Sistema Nacional de Seleção Unificada (Sisu).

Questionado sobre a participação da SED nos diversos debates sobre as possíveis melhorias na implementação do novo Ensino Médio, Hélio Queiroz informou que a Secretaria de Estado de Educação participou ativamente na elaboração das mudanças presentes no projeto de lei.

“Naturalmente, a gente escuta bastante professores, diretores e estudantes, e o sindicato [Fetems] tem um diálogo com a secretaria, mas apresentamos a visão da SED, que é mais técnica, apontando o que deu certo e também as falhas, que, no nosso entendimento, precisam ser corrigidas”, disse.

Consulta

No ano passado, o Ministério da Educação abriu uma consulta pública para avaliação e reestruturação da política nacional do Ensino Médio.

O governo federal também organizou webinários com a participação da sociedade e seminários em conjunto com representações de estudantes em cada região do País.

Em Campo Grande, uma audiência pública para debater o modelo de ensino foi realizada em abril.

O texto, que está em análise na Câmara dos Deputados, modifica diversas regras relativas a carga horária, disciplinas obrigatórias e formação de professores no Ensino Médio.

Também altera os chamados itinerários formativos, conhecidos como aulas eletivas, que permitem ao estudante completar a grade curricular com áreas do conhecimento de seu interesse.

O projeto na Câmara propõe aumentar a carga horária das disciplinas obrigatórias em 2.400 horas, sem integração com cursos técnicos. No caso dos cursos técnicos, serão 2.100 horas de disciplinas básicas e pelo menos 800 horas de aulas técnicas.

Para modificar os itinerários formativos, o novo texto define que o currículo do Ensino Médio será composto por uma formação geral básica e por percursos de aprofundamento e integração de estudos, que vão combinar no mínimo três áreas do conhecimento, definidos conforme a relevância para o contexto local e a possibilidade dos sistemas de ensino.

OPINIÕES

O presidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems), Jaime Teixeira, declarou ao Correio do Estado, no ano passado, que o novo Ensino Médio é muito malfeito e, conforme sua avaliação, há vários aspectos para que haja um movimento nacional pela revogação da reforma.

“Esta proposta do novo Ensino Médio não foi discutida com a sociedade, a carga horária das disciplinas básicas foi diminuída em 25%. Isso aconteceu para dar mais horas para as eletivas, que trazem uma diversificação pobre, como, por exemplo, aula que ensina a fazer sabão”, disse Teixeira.

De acordo com o presidente da Fetems, a reforma do Ensino Médio não ofereceu uma preparação prévia para diretores e professores sobre as novas disciplinas que compõem a formação técnica e profissional.

“A nova grade curricular, como está atualmente, leva a uma formação mais pobre do ensino básico dos estudantes com essas aulas eletivas. O formato não capacita os alunos à profissionalização e nem prepara para o vestibular. Por isso precisamos rediscutir os itinerários [formativos]”, afirmou o presidente da Fetems.

A estudante Maria Tereza Warken Holsback Nunes, de 17 anos, que cursou o 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Joaquim Murtinho, acredita que o novo Ensino Médio demonstra uma clara falta de organização e preparo.

“Eu como aluna não consigo ver qual o objetivo do governo do Estado com os temas das eletivas, os conteúdos não fazem sentido entre si e não vejo como seriam aplicados no Enem. Nada ficou claro para os alunos e, pelo visto, nem para os professores. Acho que a grade de conteúdos precisa ser aprimorada”, declarou.

Matheus Almeida, de 16 anos, que está cursando o 2º ano do Ensino Médio, também declarou ser a favor da revogação do programa.

“Sou a favor, particularmente, porque a diminuição das aulas de História e Sociologia é algo que afeta muito no ensino e acredito que essas novas aulas, como o projeto de vida e as unidades curriculares, não são muito úteis para vestibulares ou algo que você queira seguir na sua área”, disse o estudante.

 

CORREIO DO ESTADO

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