Alta de juros e instabilidade econômica geram pessimismo na construção civil
Em Mato Grosso do Sul, conforme representantes da área, o cenário também é semelhante, ou seja, sem perspectiva concreta de melhorias a curto prazo.
De acordo com o presidente da Associação dos Construtores de Mato Grosso do Sul (Acomasul), Diego Dalastra, o Estado segue a mesma tendência, com um desempenho do setor abaixo do esperado e ainda sofrendo as consequências do período pandêmico.
“É um cenário desestimulante. O setor ainda sofre reflexos dos últimos anos, pois, no segmento da construção, os impactos são sentidos a médio e longo prazo. Com a nova gestão federal, esperávamos um retorno de políticas subsidiárias, o que até agora não aconteceu”, comenta.
Os dados mostram que a alta carga tributária ficou no topo do ranking que elenca os principais problemas do setor, com 34,6%, aumento de 2,5 pontos porcentuais na comparação com o trimestre anterior.
Em segundo lugar, a demanda interna insuficiente, com 33,3%, e, na terceira posição, fia elevação nas taxas de juros, 28,8%.
Também conforme a CNI, os juros elevados vêm ganhando cada vez mais relevância na série histórica, tendo alcançado o maior valor desde o início dos registros.
A sondagem detalha que, ao longo da série histórica, esse problema registra porcentuais elevados e normalmente se encontra nas primeiras posições do ranking, sendo o segundo trimestre consecutivo em que figura no topo.
Empresários também elencaram outros problemas na sondagem, como falta ou custo alto da matéria-prima, competição desleal, falta de capital de giro, burocracia excessiva, inadimplência dos clientes, insegurança jurídica, falta ou alto custo de energia, demanda externa insuficiente, dificuldade na logística, taxa de câmbio e falta de financiamento a longo prazo.
A situação não é diferente para o empresário da construção em Mato Grosso do Sul, segundo opina o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-MS), Geraldo Paiva.
“Primeiro, temos um possível descontrole das contas públicas, que poderá elevar a inflação. Outro, quase uma consequência, seria a manutenção da elevada taxa de juros. Os dois fazem consumidores adiar seus investimentos. E há também escassez de mão de obra, em razão da pressão para as fábricas que estão se instalando no Estado pagando valores acima dos praticados nas praças”, detalha.
Na questão dos juros, Mato Grosso do Sul ainda enfrenta uma taxa alta de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre os materiais de construção.
“O Estado tem o maior ICMS sobre os materiais de construção do País. Isso encarece o imóvel e, consequentemente, impacta todas as outras partes”, ressalta Diego Dalastra.
Em termos gerais, não há perspectiva de melhoras significativas para o setor no curto prazo, acrescenta o presidente da Acomasul.
“Não temos nenhum sinalizador de mudanças nas políticas públicas, não temos uma perspectiva de baixa nos juros, nenhum benefício fiscal ou incentivo na construção civil e não temos perspectiva de aquecimento na economia, esse é o cenário que temos”, lamenta.
MÃO DE OBRA
A falta de profissionais qualificados impacta tanto o presente do empresariado da construção quanto o futuro do setor.
De acordo com uma pesquisa da multinacional italiana Gi Group Holding, o Brasil é um dos países mais propensos a implementar novas tecnologias da indústria 4.0 nos próximos cinco anos, mas também o que mais sofre com a escassez de profissionais especializados.
Dados do levantamento apontam que 88% das empresas brasileiras do setor que participaram do estudo relatam ter dificuldades de encontrar trabalhadores qualificados, índice superior à média global, que é de 66%.
A falta de mão de obra qualificada sempre foi um problema no Estado, afirma Dalastra, porém, não chega a ser a maior das preocupações.
“Mão de obra qualificada sempre faltou, mas nem é de longe o mais impactante. Estamos empregando menos que no ano passado, mas hoje não chega a ser o que impacta mais”, comentou.
A Suzano está gerando inflação para a contratação de mão de obra local, segundo o presidente do Secovi-MS.
“Sabemos que é temporário, mas reflete no custo dos atuais empreendimentos. Se houver inflação, os empreendimentos perdem o controle de custo e o consumidor se torna receoso”.
“O pessimismo está muito mais atrelado ao futuro da economia do que ao presente. As construções, residências, serviços e comércios estão a pleno vapor no Estado, mas mais aquecidos na Capital. Caso venha a haver descontrole fiscal na economia, o quadro poderá reverter”, diz Paiva.