Supremo mata a Lava Jato, mas pode dar vida à candidatura de Sergio Moro à Presidência
Dúvida: a sucessão presidencial de 2022 vai se resumir à polarização entre Jair Bolsonaro e Lula da Silva, com Ciro Gomes atacando ambos para tentar se viabilizar? Até outubro, essa incerteza política tende a se dissipar. Tudo depende de Sergio Fernando Moro se habilitar para entrar ou não na disputa pela pré-candidatura. O ex-juiz da moribunda Lava Jato e ex-ministro da Justiça do atual governo deve se filiar ao Podemos ou até ao PSDB. A vinda ou não de Moro ao ninho tucano afeta a postulação à pré-candidatura de João Doria Júnior. Se ele não vier, e Doria se viabilizar nas prévias, pode até permitir a articulação de uma chapa Doria-Moro ou Moro-Doria. Eis o sonho dourado do nonagenário FHC. Seu amigo e parceiro de articulações políticas, Nelson Jobim, tende a fechar com Lula. Todos contra Bolsonaro. A “terceira via” deve surgir. Só não dá para assegurar, agora, se será viável contra a previsível dicotomia entre o bolsonarismo e o petismo. Economia, combate à corrupção e pandemia vão roteirizar a disputa.
Certeza: acima de tudo e de todos, o Poder Supremo assassinou, de vez, a Lava Jato (na versão de Curitiba). A maioria do Supremo Tribunal Federal arrasou, de vez, com o famoso processo do tríplex do Guarujá. Por 7 votos a 4, os 11 condenaram Moro como “parcial” no processo contra Lula. O caso volta à estaca zero, agora na Justiça Federal do Distrito Federal. Nada de anormal depois que o STF já tinha devolvido Lula ao xadrez (eleitoral), compensando e premiando os 508 dias que o poderoso chefão petista foi obrigado a passar no xadrez da Polícia Federal. No Twitter, diretamente dos EUA, Moro discordou da decisão suprema: “Os votos dos ministros Fachin, Barroso, Marco Aurélio e Fux, não reconhecendo vícios ou parcialidade na condenação por corrupção do ex-presidente Lula, correspondem aos fatos ocorridos e ao direito. Nunca houve qualquer restrição à defesa de Lula, cuja culpa foi reconhecida por dez juízes”. Para tristeza de Moro, votaram a favor do líder petista: Gilmar Mendes, Kassio Nunes, Alexandre de Moraes, Lewandowski, Toffoli, Cármen Lúcia e Rosa Weber.
Sem citar o nome do inimigo declarado e eventual adversário político na corrida pelo Palácio do Planalto, Lula comemorou, também no Twitter, a desgraça de Moro: “Tem muita coisa na minha vida que só pode ter o dedo de Deus. As pessoas iam me visitar na prisão, já entravam chorando. E daí eu tinha que animá-las. E eu só tinha como resistir se tivesse fé. Me apegava naquilo… Os justos vencerão. E hoje a verdade venceu”. De saideira para a aposentadoria, o decano do STF, ministro Marco Aurélio de Mello, resumiu a dimensão contraditória da decisão contra o magistrado da Lava Jato: “Algo que começa errado tende a complicar-se em fase seguinte. O juiz Sergio Moro surgiu como verdadeiro herói nacional. Então, do dia para a noite, ou melhor, passado algum tempo, encaminha-se como suspeito. Dizer-se que a suspeição está provada por gravações espúrias é admitir que ato ilícito produz efeito. Não se pode desarquivar o que já estava arquivado”.
De “herói a vilão”, Moro decidirá, em outubro, se entra na guerra eleitoral de 2022. Enquanto isso, o Poder Supremo segue na “missão” de detonar o governo Jair Bolsonaro. O Poder Supremo e o Tribunal Superior Eleitoral estão em campanha aberta contra a aprovação do voto impresso pela urna eletrônica, que o Congresso tem de referendar ou não até outubro. Ontem (23), o ministro Luís Roberto Barroso derrubou o pedido do presidente da República para vetar lockdown nos Estados e municípios. O presidente da Corte, Luiz Fux, se reúne neste Dia de São João com os membros do “G-7” da Comissão Picareta de Inquisição do Covidão. O ministro Alexandre de Moraes mandou que fosse enviado aos EUA, para perícia e desbloqueio, o celular do ex-ministro do Meio Ambiente. Ricardo Salles pediu para sair (ou foi exonerado por Bolsonaro?) ontem. Alegou motivos familiares, mas parece bem claro que Salles sai para se defender, sem ampliar o desgaste que se deseja impor ao governo federal.
A legítima e complexa luta pela honestidade e transparência total eleitoral no Brasil
O certo é que, até agora, o Poder Supremo assassinou a Lava Jato, mas a decisão que beneficia Lula pode se transformar na grande motivação para o lançamento da candidatura presidencial de Sergio Moro. Em outubro, Moro define seu destino político. Palpite? É candidatíssimo. Se tem chance de vencer, dependerá do eleitorado. A mulher dele, a advogada Rosângela Moro, historicamente ligada ao PSDB, adoraria ser primeira-dama. Bia Doria, também, e o marido dela gostaria de ter Moro como vice, caso consiga vencer as prévias tucanas. As articulações e sabotagens correm soltas nos bastidores. Quem sobreviver, verá… O covidão segue atrás de todos, com ou sem vacinação em massa… A economia deslancha… Viva, São João!
Gabriela Biló/Estadão Conteúdo