Raúl Castro renuncia após 62 anos na cúpula do poder em Cuba
Raúl Castro confirmou na sexta-feira ao abrir o VIII Congresso do Partido Comunista de Cuba que se despede do poder e que o faz para dar o exemplo. “Continuarei militando como mais um combatente revolucionário, disposto a dar minha modesta contribuição até o final da vida”, afirmou, esclarecendo que “nada” o obriga a tomar a decisão, mas que o faz por uma questão de princípios. “Acredito fervorosamente na força e no valor do exemplo e na compreensão de meus compatriotas. Enquanto viver estarei com o pé no estribo para defender o socialismo”.
Raúl Castro renunciará neste final de semana ao posto de Primeiro Secretário, cargo que provavelmente será ocupado pelo presidente Miguel Díaz-Canel, que ele mesmo ajudou a chegar ao mais alto ofício do país em 2018. Segundo o líder comunista, Díaz-Canel é um dos quadros selecionados para a mudança e “não é fruto da improvisação”, e sim um homem preparado que “soube fazer parte da equipe” nos anos em que está na presidência.
O relatório central de Raúl Castro ao Congresso esclareceu alguns pontos importantes do futuro com o qual seus herdeiros deverão lidar, começando pela economia, talvez a questão mais estratégica e vital. Suas palavras dão a entender que a reforma econômica é prioritária e que a abertura ao setor privado seguirá, mas com limites. Mencionou o trabalho autônomo, recentemente ampliado pelas autoridades, uma medida que, disse, foi “recebida com aprovação pela população, ainda que criticada pelos que sonham com a privatização maciça dos principais meios de produção”.
Pediu o exercício privado de algumas profissões, enquanto a outras não se pode permitir, apontou, “parece que a vontade egoísta inicia o processo de desmontagem do socialismo, por esse caminho se destruiriam os sistemas de saúde e educação, gratuitos e de acesso universal”. Castro afirmou que há os que pedem a importação comercial privada para estabelecer um sistema não estatal de comércio. “São essas questões que não podem gerar confusão. Há limites que não podemos ultrapassar porque levaria à destruição do socialismo porque as consequências seriam irreversíveis, causariam erros estratégicos, a destruição do socialismo e, consequentemente, da soberania da nação”.
Castro também se referiu em seu relatório à velha diferença com os Estados Unidos e denunciou o aumento da hostilidade e das sanções com a administração Trump, fazendo um aceno ao Governo de Joe Biden —justamente no dia em sua administração reiterou que Cuba não é uma “prioridade” aos EUA—: “Cuba ratifica a vontade de fomentar o diálogo respeitoso com os Estados Unidos, sem que se pretenda que para realizá-lo sejam feitas concessões inerentes a sua soberania e independência e ceda no exercício de sua política exterior e seus ideais.”
Alertou que a agressividade do Governo anterior evidencia que qualquer mudança nas relações passa pela eliminação do bloqueio. “Não temos a ilusão de que seja algo fácil, passa pela política sensata do Governo norte-americano. Podemos ter uma relação civilizada e respeitosa com nossos vizinhos, podemos estabelecer relações de cooperação e benefício mútuo”.
Sobre o novo desafio “político-ideológico” que o surgimento das redes sociais significa para Cuba, que serviram de alto-falante aos opositores e onde opiniões críticas são expressas com força cada vez maior, disse que “a estas alturas não deve existir espaço à ingenuidade e entusiasmo desmedido pelas novas tecnologias sem assegurar a segurança informática. A mentira e as notícias falsas já não têm limites, colocam Cuba como uma sociedade moribunda e que não tem solução, para promover a explosão social.”
Raúl afirmou que os EUA estavam por trás dos planos de desestabilização e que “a contrarrevolução interna não tem liderança e estrutura organizada e concentra seu ativismo nas redes sociais”. A advertência sobre como se responderia foi clara. “As ruas, os parques e as praças serão dos revolucionários. Jamais negaremos o direito aos revolucionários de defender sua Revolução!”, alertou.