Procuradores criticaram vazamento da delação de Palocci por Moro: “Meio porra-louquinha”
Desde as primeiras reportagens da Vaza Jato do The Intercept Brasil já se sabia que os diálogos entre procuradores e o ex-juiz Sérgio Moro indicavam que o ex-magistrado divulgou a delação do ex-ministro Antonio Palocci para atrapalhar o desempenho do PT nas eleições de 2018. Novos trechos que apareceram com a Operação Spoofing mostram que a ação de Moro não foi bem recebida dentro do Ministério Público.
Em petição apresentada pela defesa do ex-presidente Lula ao ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, os advogados do ex-presidente trazem mensagens de procuradores criticando a decisão de Moro e apontam que o conteúdo obtido através da Spoofing “reforça que o então juiz SERGIO MORO orientava e era consultado rotineiramente para a prática dos atos de persecução”.
“Parece que o Judiciário está tentando, mais uma vez, ser protagonista do processo político. Vejo nesse levantamento do sigilo tentativa de influenciar na eleição presidencial. Espero estar errado”, disse o procurador identificado como José Carlos no dia 1º de Outubro.
“Acredito que vc não esteja totalmente errado. Seria surpreendente se o Judiciário não se sentisse tentado a influenciar. Mas pode ter havido uma contribuição involuntária da ordem processual”, afirma o procurador identificado como Ângelo Goulart, demitido pelo MPF em maio de 2020 após ser acusado de vazar informações sigilosas à J&F.
“Foi, no mínimo, falta de sensibilidade com o momento que o país vive”, disse o procurador identificado como Danilo. “Moro é meio porra louquinha ou é impressão?”, questiona ainda o procurador identificado como Carlos Lessa.
“Ativismo judicial evidente. É a banda de música da nova UDN tocando no coreto do salvador da Pátria. E viva a Redentora!”, acrescentou José Carlos.
Diversos procuradores questionavam no grupo por que o juiz apenas levantou o sigilo da delação naquela data, a menos de 1 semana do pleito.
Enquanto acontecia essa discussão, Goulart e Vladimir Aras debatiam sobre “acordo para salvar o Brasil”, indulto e “anistia ampla, geral e irrestrita”.
“Nunca saímos dessa página. Rs. Só não houve oportunidade para isso. Com Haddad, abre-se uma larga e arborizada avenida para uma anistia quase total. Com Bolsonaro também, mas só depois que o dinheiro das
privatizações acabar. Rs. Lula tem mais pressa. Compreensível. Rs”, dizia Angelo na conversa.
STF
A liberação da delação às vésperas das eleições foi duramente criticada na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal ao ex-juiz federal Sérgio Moro durante a apreciação do Habeas Corpus (HC) 163.943, apresentado pelo ex-presidente Lula por quebra de imparcialidade do ex-juiz na decisão sobre a colaboração premiada.
Ricardo Lewandowski apontou em seu voto – que foi referendado por Gilmar Mendes – que Sergio Moro, “além de influenciar, de forma direta e relevante, o resultado da disputa eleitoral, conforme asseveram inúmeros analistas políticos”, “violou o sistema acusatório, bem como as garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa”.
fonte: Conteúdo ms