Bragantino eliminou Palmeiras de ‘Craque’ Neto, Dorival Júnior, Toninho Cecílio e Leão com o placar que precisa fazer hoje
E foi justamente pela diferença que precisa fazer hoje, que o Massa Bruta despachou do então muito prestigioso Campeonato Paulista, um dos melhores Palmeiras dos anos de fila, em 1989.
“Foi um dos elenco mais fortes de que fiz parte no clube, junto com os de 1986 e 1992”, relembrou, em entrevista ao ESPN.com.br, o técnico Toninho Cecílio, beque central daquele time, realmente recheado de figuras carimbadas.
Velloso, Edson “Abobrão”, Toninho (Cecílio), Dario Pereyra e Abelardo; (Dorival) Júnior, Gerson Caçapa e Edu Manga; Mauricinho, Gaúcho e (Craque) Neto formavam a base da equipe dirigida pelo então jovem técnico Emerson Leão.
Era o 13º ano sem conquistas do alviverde, e a diretoria investiu. Trouxe medalhões, como Edson e Dario, e apostou num jovem vindo do Guarani que talvez fosse o mais talentoso meia do Brasil na época, de nome Neto – que Leão, diga-se de passagem, escalava como ponta-esquerda.
“Era um time muito bem montado, para ser campeão, mesmo”, diz Toninho.
Treinador português concedeu sua primeira entrevista coletiva nesta quarta-feira
Taça dos Invictos
A campanha foi irretocável. Um a um, o Palmeiras foi batendo seus adversário até chegar invicto à segunda fase após 23 jogos, quando 12 equipes formaram quatro triangulares. Sim, o regulamento era um primor de criatividade. O primeiro de cada grupo ia para as semifinais.
Pela sequência sem derrota, o Palmeiras ganhou a simbólica Taça dos Invictos, concedida transitoriamente à equipe brasileira há mais tempo sem perder.
“Foi uma campanha muito consistente. A gente ganhava jogando bem, não tinha vitória no susto. Era 3, 4, o time vencia os jogos com sobras”, lembra-se Toninho.
A chave do Palmeiras tinha Novorizontino e o Bragantino de um treinador promissor vindo do Rio de Janeiro, um esquálido Vanderlei Luxemburgo.
“Ele era apenas um jovem técnico. Não era possível nem supor que ele viria a ser quem se tornou”, diz Toninho, sobre o treinador com quem, como Gerente de Futebol, ele foi campeão paulista de 2008.
Também era difícil imaginar que o Bragantino e aqueles jogadores que o compunham viriam a ter o sucesso que obtiveram no futuro próximo, quando ficaram com o título Paulista de 1990 e o vice-brasileiro de 1991.
Empate maldito
Os clubes se enfrentavam em turno e returno na chave, em ordem inversa. Assim, o Palmeiras enfrentou o Bragantino duas vezes seguidas. Antes da fatídica partida de 10 de junho, o Palmeiras batera o mesmo Braga por 2 a 0 no Pacaembu, três dias antes.
“Jogamos muito bem e fomos bem confiantes para Bragança. Não houve nenhuma preparação especial, nem nada. Até porque, o trabalho com Leão era sempre muito focado”, conta Toninho.
O problema é que antes da vitória sobre o Bragantino, o Palmeiras empatou por 0 a 0 com o Novorizontino. Já o Bragantino ganhara do rival aurinegro, que enfrentaria ainda mais uma vez, depois de encarar o Palmeiras.
Assim, o Verdão chegou para o confronto em Bragança com três pontos (a vitória valia 2). O Bragantino, com dois.
O jogo começou bom para o Palmeiras, que acertou a trave logo no começo com o atacante Marcos Vinícius, que ganhara a posição de Gaúcho, até então incontestável.
“Na época, essa troca, com o Gaúcho indo para o banco foi notada pelo grupo como algo estranho”, conta Toninho. Em falha de Velloso, o Bragantino abriu o placar com uma cobrança de falta da intermediária, de Gil Baiano.
“O gol no começo talvez tenha nos desestruturado”, diz Toninho.
Zé Rubens ampliou ainda na etapa inicial. E o centroavante Gallo fechou o placar na etapa final, decretando a primeira derrota daquele Palmeiras no campeonato.
“No vestiário, o clima era de perplexidade. Mas não havia desespero, porque a gente ainda tinha um jogo contra o Novorizontino, não estávamos fora ainda”, conta Toninho.
Mas o Braga também tinha mais um jogo contra a equipe de Novo Horizonte. A equipe de Luxa chegava a quatro pontos, com uma vitória e uma derrota sobre o Palmeiras, além de uma vitória sobre o Novorizontino. O Palmeiras estacionava em três.
O Palmeiras, que só poderia chegar a 5 pontos, tinha então de torcer para o Bragantino não vencer seu confronto contra o Novorizontino e chegar a 6.
Foi de casa, no sofá da sala com sua esposa na época, que Toninho, na quarta-feira seguinte, viu o Bragantino bater o Novorizontino por 1 a 0 e chegar à pontuação que o Palmeiras não tinha mais como fazer, ainda que vencesse o time de Novo Horizonte.
Ruía, assim, por mais um ano, o projeto de título alviverde.
“Eu lembro de ter chorado muito com aquele resultado. Foi muito ruim ver aquilo sem poder fazer nada”, diz Toninho.
“A gente fala da derrota para o Bragantino como o jogo da eliminação, mas a gente também foi eliminado pelo empate com o Novorizontino”, pondera Toninho.
“Para a gente que era da base, era ainda mais duro. Porque a gente tinha uma ligação diferente com o clube, e queria ser campeão até para retribuir o que o Palmeiras nos dava”, afirma.
O Palmeiras ainda completou a tabela, num melancólico empate sem gols. Não serviu de consolo a ninguém, mas o Bragantino também não foi campeão. Na semifinal, caiu ante o São Paulo, que bateria o São José na final para ser campeão.
Neto por Ribamar
Um mês depois, aproximadamente, Leão promoveu a famosa troca de Neto por Ribamar e deu ao Corinthians e ao jogador uma linda história de amor.
Toninho, viu a saída do meia como um erro.
“Ele era o melhor jogador do Brasil. Não é possível que uma conversa não resolvesse. Ele não tinha nenhum problema grave com o Leão, tirando uma brincadeira ou outra, pois o Neto já era muito brincalhão na época. Mas só”, diz ele, que comandou o Água Santa na última edição do Paulistão.
Toninho, que chegou para tentar salvar o clube nos dois jogos pós-pandemia viu sua equipe ser rebaixada justamente contra o Palmeiras.
“Hoje, com a experiência de técnico e dirigente, vejo que ali houve uma decisão errada. Deram seis meses só para o Neto no Palmeiras. E no ano seguinte, ele carregou o Corinthians nas costas para o título brasileiro”, diz.
Mesmo assim, foi por pouco também que o Palmeiras também não fez a final do Campeonato Brasileirode 1989, vencido pelo Vasco, sobre o São Paulo, em pleno Morumbi. Mas essa já é outra história.
Por Espn