Comitê da covid quer isolamento de índios terena para bloquear contágio
Nesta quinta-feira (23), o comitê da covid-19 em Mato Grosso do Sul, coordenado pela secretaria estadual de saúde, corre contra o tempo – entre as cobranças de instituições públicas e pedidos de socorro das comunidades – para organizar estrutura de emergência e isolar os índios terena com suspeitas de contaminação pela covid-19 em Aquidauana, a 133 km de Campo Grande.
A Prefeitura de Aquidauana sugeriu improvisar centros de isolamento com atendimento de saúde em escolas, similar ao que foi improvisado em Dourados, na região sul do Estado, na Casa do Cursilho, cedida pela Igreja Católica.
A ideia é isolar até assintomáticos. Entre os Terena da região, ainda assim, há preocupação com a falta de atenção ao que determina a lei sobre a saúde indígena, que leva em conta detalhes da cultura das etnias. Até agora, o plano de isolamento não saiu do papel já que há o desafio de conseguir, rapidamente, todo o aparato necessário.
Assim como em Dourados, que abriga a reserva indígena mais populosa do país, as aldeias de Aquidauana são comunidades próximas onde não há distanciamento pelas características de contato social. Além de várias pessoas ocuparem uma só moradia, as casas e as aldeias ficam lado a lado.
Hoje, Aquidauana tem 52 indígenas infectados, segundo o último boletim divulgado pelo Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena), ligado à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). É o segundo município com mais casos depois de Dourados, com 212 casos de covid-19 entre os indígenas, a maioria em pessoas da etnia Guarani Kaiowá, predominante nas duas aldeias da reserva.
Entre os Terena, são 139 casos confirmados nas aldeias de todo o Estado. As pessoas da etnia vivem em aldeias de norte a sul, apesar de concentrarem-se mais na região de Aquidauana, Anastácio e Miranda.
Defensora pública federal da DPU (Defensoria Pública da União), Daniele Osório participou da reunião junto ao comitê da covid nesta quinta-feira para definir a ação de emergência.
“Estamos discutindo uma forma de isolar os contaminados, mesmo os que não tenham sintomas, fora de suas residências, para proteger as famílias e a própria comunidade. As condições de moradia nas aldeias não permitem o isolamento individual da forma como deve ser feito. Então se pensou nesse isolamento em um espaço público”, disse.
Mesmo com a emergência batendo a porta, a defensora contou que ainda é preciso definir móveis, roupas de cama, colchões e todo o aparato necessário.
Do lado direito da imagem, de pé e de camisa azul, o professor universitário Paulo Baltazar, da etnia terena, internado em estado grave no hospital do Pênfigo e trazido de UTI aérea para a Capital (Foto: Divulgação)
Covid-19 – O Dsei confirma 338 casos da doença do novo coronavírus entre os indígenas de Mato Grosso do Sul, segundo o último levantamento. Inicialmente os casos concentravam-se no sul do Estado, especialmente em Dourados. São 7 mortes confirmadas, até agora, entre indígenas.
Nas duas últimas semanas, ainda assim, Aquidauana assistiu multiplicação de casos, que chegaram também às aldeias, que podem ter assistido a seis mortes em 48h. Segundo o boletim divulgado pela secretaria estadual de saúde nesta quinta, a cidade tem 107 casos confirmados da doença. Entre esse total, 18 foram atualizados no boletim publicado hoje.
A preocupação é com o colapso dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de Campo Grande. Os hospitais da Capital atendem uma região de saúde que ultrapassa o um milhão de pessoas, incluindo a região de Aquidauana. Hospitais do município vizinho não possuem o aparato oferecido pelos leitos de Campo Grande para quadros muito graves da covid.
Ainda assim, nesta quinta-feira Campo Grande já tem 91% de ocupação em leitos de UTI, mesmo com ampliação das vagas que ocorreu nas últimas semanas.
Em estado crítico, o professor terena Paulo Baltazar, de 59 anos, foi trazido de Aquidauana em UTI aérea para leito do Hospital do Pênfigo, unidade que teve vagas ampliadas ontem na UTI, mas que já está com 90% dos 10 leitos ocupadas.
(As informações são do Campo Grande News)