No ar em Tieta, Betty Faria reflete sobre a chegada dos 79 anos de idade: – Sou uma sobrevivente de droga, sexo e rock and roll
Betty Faria é uma das atrizes mais consagradas da televisão brasileira. Infelizmente, a artista precisou dar uma pausa na carreira para respeitar este período de quarentena e isolamento social, adotados como medida de prevenção à transmissão do novo coronavírus. E em entrevista ao jornal O Globo, Betty revelou o que tem passado por sua cabeça nesses últimos meses.
– Penso muito nesse Brasil que estou desconhecendo, com as pessoas divididas, se xingando. […] O país andou para trás, as pessoas estão doentes para além da pandemia, inseguras, com medo. Por que tanto ódio? Esse Brasil atual me assusta. Ao mesmo tempo, estou em casa vendo filmes e pensando no cinema brasileiro.
A estrela ainda refletiu sobre o futuro do cinema, pós-pandemia.
– A primeira coisa é fazer com que a indústria, que, praticamente, parou de dois anos para cá, volte a funcionar. Depois, pensamos se vai ser streaming, drive-in ou na esquina mesmo. O que sei é que essa situação me deixa muito abalada. Como diz o [Fernando] Gabeira, precisamos fazer a luta amada. Por isso que Tieta está chegando…
– Nesse Brasil atual, com tanta desgraça e morte, é um alento no coração das pessoas, que se divertem e pensam. Tieta traz amor, solidariedade, união, coisas que o Brasil está precisando lembrar. Fora que os atores estão lindos e maravilhosos, a novela é toda é um pacote bem-sucedido, afirmou Betty.
Apaixonada pelo trabalho, ela confessou que precisou interromper projetos importantes por conta da quarentena.
– [Interrompi] Meus sonhos. Estava elaborando sobre o caminho que quero seguir. Vim de uma novela boa (A Dona do Pedaço, de Walcyr Carrasco), estava pensando em fazer série. Teatro, não. Para fazer teatro, tenho que estar muito mobilizada, se não coloco em dúvida a minha vocação (risos). Tenho preguiça de sair de casa, ir para lá num domingo de sol. Gosto de televisão. Quando entro no set de gravação, me divirto. Mas agora não sei quando a Globo vai poder chamar os velhinhos, a terceira idade, que dá trabalho, é grupo de risco…
A atriz também revelou qual personagem sonha em interpretar.
– A mãe de uma travesti ou transexual. Como são, psicologicamente e emocionalmente, as mães de filhos que passam por tanto sofrimento, preconceito e violência? Tieta era amiga da Rogéria, eu era amiga da Rogéria. Fiquei feliz em trazê-la para a novela, ela ia gravar feliz.
E deu sua opinião sobre o feminismo.
– Os homens precisam nos respeitar mais. Começa por gostar da mãe, né? (risos). A mulher sofre porque ficou responsável pelo sustento da família, pela educação dos filhos, pela casa… O ideal é repartir com os homens. Isso no caso da mulher mãe. Mas a solteira, a jovem, precisa de proteção, respeito, consideração e de um olhar mais carinhoso. A sociedade precisa gostar mais das mulheres.
E lembrou de quando, em 2013, aos 72 anos de idade, foi criticada por usar biquíni na praia.
– Quem fez isso é atrasado, sem noção! Todo mundo envelhece. Falaram: Olha a velha. São uns babacas, tenho até pena de quem pensa assim. Mas mulheres também dão força… Homem não aceita mulher baranga, mas tem um monte de mulher que aceita homem barrigudo. Temos que nos impor. Por que, em nosso processo de autoestima, precisamos nos sentir sempre jovens? Se nos darmos ao respeito, tipo goste de mim quem quiser, a coisa muda. Torço por menos dessa cobrança alucinante. Esse espicha tudo é algo bem brasileiro. Na Europa, as mulheres envelhecem mais confortavelmente. Quero é ser uma velhinha jeitosa, cheirosinha.
Betty ainda mencionou os episódios de assédio que sofreu.
– Não digo sofri porque não sou vítima, mas passei por muito assédio e soube sobreviver a ele. Todas as mulheres bonitas e gostosas da minha geração passaram por assédio. Eu me saía bem. Não tinha essa coisa de ficar fazendo escândalo. Você sofria e via o que fazia com aquilo, negociava com você mesma. Há assédio desagradável, cafajeste, de todos os tipos. Aprendi alguns jogos de cintura. Com uns, me aborreci, com outros, tomei atitudes mais sérias.
E contou se possui algum vício, já que revelou que fumava maconha em 2016.
– Sou uma velhinha saudável, careta, não me drogo, não bebo, nem um cigarrinho eu fumo. Estive na Europa agora e vi produtos medicinais, acho ótimo que a Anvisa esteja liberando o cannabidiol para fazer remédios, é um avanço. Como o nosso presidente gosta muito do Trump, podia imitá-lo nisso, né? (risos). Com minha idade, estou bonitinha, saudável, posso dizer que sou uma sobrevivente de tudo, de droga, sexo e rock and roll. E faço sucesso com Tieta…
Hoje, aos 79 anos de idade, a artista refletiu sobre os seus arrependimentos.
– Me arrependo seriamente de uma coisa na minha vida particular que prefiro não falar. Quem não se arrepende é burro e repete o mesmo erro. Os trabalhos que não aceitei foi porque meu coração não queria. Se eu não gostasse do Paulinho, não ia trabalhar com ele e ponto. A Viúva Porcina, por exemplo, eu a detestava (Betty interpretou a personagem na primeira versão de Roque Santeiro, censurada em 1975, e, quando a novela foi retomada, ela recusou o papel). Eu a achava uma escrota, com aquele homem… Eu gostava da Tieta, que era do bem.
E até mesmo confessou se está amando alguém atualmente.
– Amor de homem e mulher, não. Estou amando as pessoas. Mas eu não concordo com isso sobre o amor maduro. Acho que ele chega em todas as épocas, idades, gerações. Enquanto eu estiver viva, posso amar, me apaixonar, fazer papel de ridícula.
Betty deu sua opinião sobre o tesão na terceira idade.
– Jane Fonda fala sobre isso de uma forma interessante no livro Prime Time. Tenho visto na Internet, personalidades e celebridades que falam de sua intimidade e sexualidade com um despudoramento tão grande que fico abismada. Minha mãe diria que falta de classe (risos). Não existe a coisa guardada que havia na minha geração. Meus amigos não eram assim. Não acho gostoso falar sobre isso. São minhas intimidades, não abro mão. Além de ser obrigação minha para não comprometer as pessoas que conviveram ou convivem com a minha intimidade. Eu as projeto. Sabe como se chama isso lá em Copacabana (bairro onde a atriz foi criada)? Come quieto (risos).
E revelou sobre o término de seu casamento com Daniel Filho, já que dizem que a relação chegou ao fim por uma traição da atriz.
– Ele é meu amigo, a gente se gosta muito. É avô dos meus netos, me indica filmes para ver. Pelo meio do caminho podemos ter feitos bobagens, mas foram insignificantes diante do nosso caminho e amor eterno.